PAS582. O piar da coruja

Frank Darrow não conseguia dormir. Ele esperava o ataque a todo o momento e queria estar acordado para não ser surpreendido.
As sentinelas foram rendidas três vezes sem que nada de anormal se passasse.
Preparava-se para dormir um pouco, quando um piar de coruja se fez ouvir. Passado pouco tempo e mais longe, outro piar, ao mesmo tempo que um coiote uivava. Levantou-se de um salto e empunhou a carabina.
Os índios preparavam-se para o ataque e trocavam sinais entre si. Conhecedor dos seus hábitos, ele distinguira imediatamente os sinais. Sem ruído dirigiu-se às sentinelas e avisou-as de que tomassem atenção porque os índios iam atacar.
Acordou Cush e O'Bannion e avisou-os também. Resolveram não acordar os outros soldados enquanto não houvesse razão para tal, mas os três prepararam-se para o que desse e viesse e foram colocar-se junto das sentinelas.
O piar da coruja e os uivos dos coiotes continuavam.
Num murmúrio, O'Bannion perguntou se não seria melhor acordarem naquela altura os soldados, ao que Frank respondeu que os deixasse descansar porque no dia seguinte iam ter muito que fazer. Chegou a hora da rendição das sentinelas para o último quarto. As que foram rendidas já não dormiram e foram juntar-se aos três homens.
A tensão nervosa aumentava, pois os índios atacariam antes do amanhecer e dentro de duas horas era dia. Finalmente aquilo que tanto esperavam deu-se.
De repente e gritando como loucos os índios lançaram-se ao ataque.
A primeira vaga sofreu numerosas baixas pois todos estavam preparados e a descarga 'foi terrível. Uivando os índios retrocederam e abrigaram-se onde puderam.
Os soldados que ainda dormiam foram despertados pela brutal descarga e pelos gritos de guerra dos índios e rapidamente deitaram as mãos às espingardas indo tomar as posições que previamente lhes haviam sido indicadas. Pouco depois os índios fizeram novo ataque.
Enquanto parte deles lançava grande quantidade de setas sobre o acampamento, 'a outra lançava-se ao ataque.
A lua, em quarto crescente, facultava aos Federais alguma luz que lhes permitia observar o movimento dos seus inimigos.
E apesar das flechas zumbirem por todos os lados, os soldados deram nova e violenta descarga que novas baixas causou nas hostes inimigas, mas os peles-vermelhas conseguiram progredir e muitos deles abrigaram-se a pouco mais de vinte metros dos Federais.
Estes continuavam a disparar com calma, procurando aproveitar todas as balas... Também tinham tido baixas. Dois soldados morreram instantaneamente ao serem traspassados pelas perigosas flechas índias.
No meio da refrega, O'Bannion, demonstrando uma calma acima do vulgar, esvaziara-lhes os bolsos e tirara-lhes todas as armas e munições que possuíam.
Novamente os índios lançaram um ataque em massa. Com os seus terríveis gritos de guerra, lançaram-se ao ataque de peito descoberto mas nada conseguiram pois foram rechaçados por duas certeiras descargas dos soldados.
Os primeiros alvores da manhã começavam a notar-se. As estrelas perdiam o seu brilho e o céu começava a tomar uma tonalidade mais clara.
Os índios não voltaram a atacar, limitando-se a cercar a posição ocupada pelos Federais. Tinham tido pesadas baixas e resolveram 'esperar por melhor ocasião.
O sol entretanto começou a aparecer. O'Bannion deu ordem para enterrarem os mortos rapidamente e prepararem-se para montar.
Chamou Frank e expôs-lhe o seu plano. Primeiro que tudo localizariam as posições inimigas na encosta. Depois far-lhe-iam uma verdadeira carga de cavalaria e prosseguiriam na sua galopada para a caravana.
Frank concordou e minutos depois estava tudo a postos para o ataque.
À ordem de «ao ataque», os valentes cavaleiros lançaram-se sobre as posições índias.
Os peles-vermelhas que não esperavam este ataque, foram colhidos de surpresa, e pagaram o seu desleixo bem caro pois quando quiseram defender-se os Federais caíram sobre eles e a tiro de revólver foram-nos abatendo sem dó nem piedade.
Quando as armas estavam descarregadas, empunharam os sabres e muitos guerreiros índios foram encontrar-se, sem saber tomo, nas magníficas pradarias de Manitu.
Fora a maior derrota que tiveram. Os que se salvaram da chacina, muito poucos por sinal, desceram a encosta dos montes a toda a velocidade que as pernas lhes permitiam.
Depois de terem limpo completamente o caminho de índios, o comandante mandou fazer a chamada para ver as baixas e com mágoa verificou que outro dos seus valentes soldados pagara à pátria o seu tributo de sangue.
Encontram-no morto por um machado índio que lhe fendera o crânio. Os seus revólveres estavam descarregados e empunhava ainda o seu sabre, tinto de sangue. Morrera matando, aquele bravo.
Mais uma vez o comandante despojou o cadáver de tudo o que podia servir aos índios e, depois de o mandar sepultar, deu ordem de partida.
Sem perda de um segundo, todos se lançaram mais uma vez a galope, para galgarem a última parte do trajeto que os separava da caravana dos colonos.
Olhando para os montes em redor, verificaram que as colunas de fumo haviam diminuído sensivelmente. Os índios haviam tido baixas espantosas e quando Nuvem Vermelha soubesse o que se passara, talvez abandonasse o cruel ataque à caravana, se por acaso a não tivesse já destruído.

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