PAS588. Arrogância de pistoleiro

De súbito, cruzaram-se com um indivíduo alto, forte, de meia-idade, ataviado com uma comprida sobrecasaca de bom corte e com as calças metidas em botas altas de montar. As pessoas afastavam-se, respeitosamente, à sua passagem e o indivíduo passava com ar indiferente, com as mãos metidas nas algibeiras das calças.
Henderson tirou o chapéu ao passar por ele, obtendo por resposta um displicente aceno de cabeça.
— Quem é? — inquiriu Jack, curioso e surpreendido.
— Mike Porter, o mais velho dos irmãos. Um tipo prodigioso, com mais de quinze mortos às costas. Como esse há poucos!
Havia uma clara admiração nas suas palavras. Jack fitou-o, atónito. Tinha na consciência tantos inimigos defuntos como os que pudesse ter aquele Mike Porter, mas não achava que isso fosse coisa que um homem devesse alardear nem que lhe granjeasse o respeito e a veneração das gentes.
— Aqui não temos muito bom conceito do que ainda não foi capaz de matar um homem. Suponho que você já o fez, não?
— Pode estar tranquilo, «mister» Henderson. Fi-lo várias vezes e espero fazê-lo outras tantas, antes que apareça quem mo faça a mim,
— Assim espero. Mas procure não se meter com os Porter...
Jack quis saber quem eram aqueles famosos irmãos. Henderson deu-lhe, com prazer, toda a espécie de explicações.
Havia dois anos que se tinham apresentado em Virgínia City. Então, eram quatro irmãos e, vinham de Nebrasca. Chegaram, como tantos outros milhares, atraídos pela prata. Procuraram encontrar um filão e perderam vários meses a percorrer inutilmente a região. Por fim, um dia, inesperadamente, encontraram-no na boca dos seus revólveres.
Os quatro irmãos tiveram uma zaragata, estando um pouco bebidos, à saída de um dos numerosos «saloons» da cidade. A luta adquirira características de epopeia.
Contra eles combateram doze homens, entre os quais estavam seis ou sete dos mais famosos pistoleiros. O tiroteio prolongara-se durante mais de meia hora, no meio da rua.
O fim fora a morte de um dos irmãos e vários ferimentos, de maior ou menos gravidade, para os outros três.
Mas, em contrapartida, todos os seus adversários ficaram em condições de serem transportados para o cemitério, sem demoras inúteis.
Os irmãos Porter viram-se imediatamente rodeados de uma extraordinária auréola. Durante quinze dias não se falara noutra coisa, em Virgínia City, a não ser na extraordinária pontaria e na coragem sem limites que lhes dera a vitória.
A fama de todos os «gun-men» locais ofuscara-se diante da deles. Ninguém era capaz de competir com aqueles homens.
Sam Galloway, ao mesmo tempo presidente da Câmara de Virgínia City e dono do maior dos seus «saloons», convidara-os para se encarregarem da vigilância do «Silver Hall».
Aceitaram. Depressa tiveram a seu cargo não só o «Silver», mas também metade dos «saloons» da cidade.
Protegidos por eles, pagando-lhes uma avultada «contribuição», os proprietários podiam considerar-se seguros. Ninguém se atrevia a levantar a voz onde estivessem os Porter. E quem o tentava não tinha muito tempo para se arrepender da sua loucura.
Foram vários os pistoleiros que, ansiosos de fama, ousaram enfrentar qualquer dos irmãos. Todos morreram com as botas calçadas.
Os Porter não só manejavam com rapidez e eficiência os revólveres, como também atuavam com habilidade e astúcia.
Obedeciam cegamente ao irmão mais velho, cabeça dirigente do grupo. Nos momentos de perigo, eram ferreamente unidos. Ninguém podia com eles.
— São um cérebro e seis revólveres. E contra isso é muito difícil lutar.
Tiger Jack não tinha inconveniente em admitir isso. Mas que pensavam as autoridades? O xerife tolerava que aqueles indivíduos fizessem o que quisessem nos seus domínios?
As explicações de «mister» Henderson foram um tanto confusas.
O presidente da Câmara, Sam Galloway, estava a seu lado; o juiz de paz, Jesse Boling, parecia resignado e não falava, com medo de que lhe metessem uma bala na cabeça. Quanto ao xerife...
— Pat é um homem valente e ousado. De boa vontade acabaria com os Porter. Até agora, não encontrou oportunidade para isso; é mais fácil que a encontrem os Porter para acabar com ele.
O xerife, Pat Wilberdox, estava havia três meses em Virgínia City. Não simpatizava pouco nem muito com o reinado dos famosos irmãos.
Devido ao assassínio de um pobre diabo, a quem meteram várias onças de chumbo no corpo, chegara a prender, por poucas horas, John Porter, o segundo dos irmãos.
Mas meia hora depois tinham-se apresentado vinte pessoas que afirmaram ter assistido ao caso. Todas coincidiam em que o morto agredira John e este tivera de o matar em legítima defesa.
Pat tivera de pôr em liberdade o preso e até de sofrer uma reprimenda do próprio presidente da Câmara:
— Nomeámo-lo xerife para que protegesse as pessoas decentes e não os indesejáveis.
 

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