PAS743. A história do homem que matou o melhor amigo
Mike deu uma profunda chupadela no cigarro e falou sem a olhar:
— Meu pai foi um pistoleiro de fama, Cristy. E morreu com as armas na mão, numa desordem de rua. Eu tinha só cinco anos, não o vi morrer, mas ouvi mais de uma vez o relato, dos lábios de minha mãe. Ela fazia-o, para que eu aborrecesse essa espécie de. vida... as armas de fogo... A pobre morreu, antes de descobrir que todos os seus esforços tinham sido vãos.
«Tinha dezassete anos quando matei o primeiro homem. Nos sete anos seguintes matei outros quinze. Eram homens valentes, hábeis com as armas, acostumados a lutas a tiro. Porém, matei-os. E converti-me num pistoleiro famoso, mais ainda do que meu pai tinha sido. Não tinha pena de ser assim. Na realidade, até gostava. Era como um jovem tigre.
«Dan Price criara-se juntamente comigo, éramos amigos desde que tivera o uso da razão. Era um belo rapaz, o melhor do mundo. E um homem pacífico. Através de todas as vicissitudes, a nossa amizade manteve-se inquebrantável. Mais do que amigos, éramos irmãos. A sua casa era o meu melhor refúgio de paz.
«Casara-se com uma excelente rapariga e tinha dois filhos, um de poucos meses, que tinha o meu nome pois fui seu padrinho. Naquela maldita noite, em Wichita, eu não sabia que ele se encontrava na cidade.
Fez uma pausa, para cobrar forças. Cristy escutava com atenção, as mãos cruzadas sobre o regaço. Prosseguiu:
— «Estava no «saloon» de Creswell, jogando às cartas com uns indivíduos. Junto de mim tinha uma dessas pobres raparigas que fazem vida por tais sítios. Já havia bebido bastante e estava a perder. Receei que estivessem a fazer batota e disse-o, lançando mão do revólver. Os outros conheciam a minha fama. Não tocaram nos seus e deram-me explicações.
«Não me conformei com elas. A bebida e a perda do dinheiro tinham-me posto furioso. E estava convencido de que faziam batota. Com uma bofetada deitei a rapariga ao chão. Ela levantou-se, insultou-me, tirando um revólver a qualquer daqueles homens com a intenção de me matar. Dei-lhe um tiro num braço e começou a guinchar.
«Um daqueles homens sacou da arma. Meti-lhe uma bala no estômago. Os demais levantaram os braços rapidamente, aterrorizados. E então entrou Dan...
«Ia buscar-me. Alguém lhe dissera que eu estava ali, metido numa zaragata, e sei que entrou julgando que eu precisava de ajuda. Porém, eu tinha perdido por completo o domínio dos nervos e só vi um homem que entrava apressadamente no local, com a mão sobre a coronha do revólver. Antes de ver a sua cará, já tinha apertado o gatilho. E matei-o...
Voltou a calar-se, vencido pela fadiga e pelos remorsos. Cristy, muito pálida, afagou-lhe a cabeça. Sem o parecer notar, Mike concluiu surdamente:
— Matei o meu melhor amigo, o homem que era como meu irmão e tinha corrido em meu socorro. Quando o vi cair, a nuvem de sangue e álcool que nublava os meus olhos evaporou-se de um golpe. Em dois saltos cheguei a seu lado... e ainda pude ver o seu olhar agónico fito em mim, perguntando-me porque o tinha matado... a ele.
«Senti-me louco. E apontando o revólver ao meu peito dei um tiro a mim mesmo. Porém, um dos que estavam junto de mim deu-me uma pancada no braço e desviou a bala, que apenas me feriu sem me matar. Despertei em casa de outro amigo, que me recolhera e curara, e quando pude valer-me das minhas forças, saí dali, montei a cavalo e afastei-me de Kansas, perseguido pelos remorsos do meu crime.
«Durante muitos meses, vagueei de um lado para o outro. Finalmente, acabei por chegar ao «Círculo Cross», onde pedi trabalho com um nome suposto. Julgavam-me morto, pois ao sair de Wichita não estava curado da minha ferida e até bem longe disso. E, na realidade, Mike Mansfield estava morto, e em seu lugar ficara um nutro homem ao qual causava horror empunhar uma arma contra um semelhante, matar outro homem, porque todos eles tinham o rosto de Dan Price...
Estremeceu e levantou os olhos para os fitar na jovem.
— Agora já conheces a história — disse. — E porque me horroriza matar. No entanto, sei que hoje matarei Crewe, sem o menor remorso.
Muito séria, com o olhar terno e compassivo, Cristy inclinou-se e beijou-lhe a fronte enfebrecida, murmurando:
—Obrigada por mo teres contado, Mike. Assim já pude compreender-te melhor...
— Meu pai foi um pistoleiro de fama, Cristy. E morreu com as armas na mão, numa desordem de rua. Eu tinha só cinco anos, não o vi morrer, mas ouvi mais de uma vez o relato, dos lábios de minha mãe. Ela fazia-o, para que eu aborrecesse essa espécie de. vida... as armas de fogo... A pobre morreu, antes de descobrir que todos os seus esforços tinham sido vãos.
«Tinha dezassete anos quando matei o primeiro homem. Nos sete anos seguintes matei outros quinze. Eram homens valentes, hábeis com as armas, acostumados a lutas a tiro. Porém, matei-os. E converti-me num pistoleiro famoso, mais ainda do que meu pai tinha sido. Não tinha pena de ser assim. Na realidade, até gostava. Era como um jovem tigre.
«Dan Price criara-se juntamente comigo, éramos amigos desde que tivera o uso da razão. Era um belo rapaz, o melhor do mundo. E um homem pacífico. Através de todas as vicissitudes, a nossa amizade manteve-se inquebrantável. Mais do que amigos, éramos irmãos. A sua casa era o meu melhor refúgio de paz.
«Casara-se com uma excelente rapariga e tinha dois filhos, um de poucos meses, que tinha o meu nome pois fui seu padrinho. Naquela maldita noite, em Wichita, eu não sabia que ele se encontrava na cidade.
Fez uma pausa, para cobrar forças. Cristy escutava com atenção, as mãos cruzadas sobre o regaço. Prosseguiu:
— «Estava no «saloon» de Creswell, jogando às cartas com uns indivíduos. Junto de mim tinha uma dessas pobres raparigas que fazem vida por tais sítios. Já havia bebido bastante e estava a perder. Receei que estivessem a fazer batota e disse-o, lançando mão do revólver. Os outros conheciam a minha fama. Não tocaram nos seus e deram-me explicações.
«Não me conformei com elas. A bebida e a perda do dinheiro tinham-me posto furioso. E estava convencido de que faziam batota. Com uma bofetada deitei a rapariga ao chão. Ela levantou-se, insultou-me, tirando um revólver a qualquer daqueles homens com a intenção de me matar. Dei-lhe um tiro num braço e começou a guinchar.
«Um daqueles homens sacou da arma. Meti-lhe uma bala no estômago. Os demais levantaram os braços rapidamente, aterrorizados. E então entrou Dan...
«Ia buscar-me. Alguém lhe dissera que eu estava ali, metido numa zaragata, e sei que entrou julgando que eu precisava de ajuda. Porém, eu tinha perdido por completo o domínio dos nervos e só vi um homem que entrava apressadamente no local, com a mão sobre a coronha do revólver. Antes de ver a sua cará, já tinha apertado o gatilho. E matei-o...
Voltou a calar-se, vencido pela fadiga e pelos remorsos. Cristy, muito pálida, afagou-lhe a cabeça. Sem o parecer notar, Mike concluiu surdamente:
— Matei o meu melhor amigo, o homem que era como meu irmão e tinha corrido em meu socorro. Quando o vi cair, a nuvem de sangue e álcool que nublava os meus olhos evaporou-se de um golpe. Em dois saltos cheguei a seu lado... e ainda pude ver o seu olhar agónico fito em mim, perguntando-me porque o tinha matado... a ele.
«Senti-me louco. E apontando o revólver ao meu peito dei um tiro a mim mesmo. Porém, um dos que estavam junto de mim deu-me uma pancada no braço e desviou a bala, que apenas me feriu sem me matar. Despertei em casa de outro amigo, que me recolhera e curara, e quando pude valer-me das minhas forças, saí dali, montei a cavalo e afastei-me de Kansas, perseguido pelos remorsos do meu crime.
«Durante muitos meses, vagueei de um lado para o outro. Finalmente, acabei por chegar ao «Círculo Cross», onde pedi trabalho com um nome suposto. Julgavam-me morto, pois ao sair de Wichita não estava curado da minha ferida e até bem longe disso. E, na realidade, Mike Mansfield estava morto, e em seu lugar ficara um nutro homem ao qual causava horror empunhar uma arma contra um semelhante, matar outro homem, porque todos eles tinham o rosto de Dan Price...
Estremeceu e levantou os olhos para os fitar na jovem.
— Agora já conheces a história — disse. — E porque me horroriza matar. No entanto, sei que hoje matarei Crewe, sem o menor remorso.
Muito séria, com o olhar terno e compassivo, Cristy inclinou-se e beijou-lhe a fronte enfebrecida, murmurando:
—Obrigada por mo teres contado, Mike. Assim já pude compreender-te melhor...
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