PAS781. Um homem que sabe manejar as armas

A casa era grande e estava construída sobre uma elevação de terreno densamente arborizado. O caminho levava diretamente até à porta, onde esperavam dois criados índios.
— Bonita casa... — disse Lew.
Cross não respondeu. Entrou, e Lew seguiu-o. A jovem ficou à porta, olhando umas flores que cresciam junto do muro.
Lew foi conduzido a um amplo escritório, mobilado com pesados móveis de carvalho. Cross sentou-se na cadeira que estava atrás da secretária, e acendeu um cigarro,
— Sente-se... — disse. Suponho que deve estar a perguntar a si mesmo que género de trabalho lhe vou oferecer, não é certo?
— Pode exprimir-se assim.
— Pois bem. Eu sou rápido e direto nas minhas coisas. Não preciso de si para cuidar do gado nem para vigiar os trabalhadores. Para isso qualquer tipo serve. Necessito-o por causa da especial habilidade com que maneja as armas.
Lew sorriu, mas continuou calado.
— Eu lhe darei ordens, nesse sentido ou noutro, e você executá-las-á. A maneira de as executar é de sua conta. Eu limito-me a dar ordens.
— E as ordens naturalmente, serão para disparar, não é assim?
Cross fez um gesto com a mão, como a afastar o assunto.
— Pode ser que sim, e pode ser que seja só para assustar alguém, sem necessidade de disparar.
— E a quem terei de assustar, ou matar?
— Dir-lhe-ei isso no momento oportuno.
— Gostaria que me dissesse mais alguma coisa. Sobre as razões que o levam a precisar de um homem especial para esse trabalho, por exemplo.
Cross olhou-o friamente.
— Isso é comigo. No entanto dir-lhe-ei que desejo comprar todas as terras do vale, e que alguns proprietários são contrários à ideia de vender.
— E para que quer comprar as terras?
— Isso não o interessa. E basta! Encontrará alojamento nas dependências dos outros rapazes.
Lew ia replicar, mas resolveu calar-se. Olhava fixamente as biqueiras das botas, cobertas de pó.
— Não está de acordo, talvez?... — perguntou Cross, bruscamente. — Aviso-o de que não pode escolher. Ou o que lhe proponho, ou a cadeia. E eu me encarregaria de que a sua condenação fosse objeto de sucessivas prorrogações. Deve ter notado, visto que não o julgo tolo, que a Lei sou eu, nesta terra.
— Sim... — disse Lew, sorrindo — ...você manda.
— Ora assim entendemo-nos. Não duvido de que acabaremos por nos entender ainda melhor. Vá às dependências do pessoal e diga a Jones, o capataz, que lhe dê um bom alojamento, com um quarto separado dos outros. Os rapazes ouviram falar muito a seu respeito, de maneira que não creio que tenham alguma coisa a dizer se eu lhe conceder qualquer privilégio especial.
Lewis levantou-se e saiu do escritório. O vestíbulo estava mergulhado em penumbra, e por isso só viu a rapariga quando estava quase a chocar com ela. Sobressaltou--se ao ouvir-lhe a voz.
— Patife!... — disse ela, com uma expressão de ódio.
— Que tem?... — perguntou Lew, espantado.
— Mais um tipo para as patifarias dele. Se pudesse lançar fogo a isto, não hesitaria em fazê-lo. Com todos vocês cá dentro!
— Acho que você está doida... — declarou Lew, friamente. — Ou sou eu que estou transtornado, por causa da pancada na cabeça. Que lhe aconteceu, a si?
Ela voltara-lhe as costas e encaminhava-se para uma das portas. Em dois pulos, Carey alcançou-a e segurou-a por um braço.
— Largue-me, porco ou arrepende-se!... — disse ela, furiosa.
Lewis sentiu-se envolvido pelo suave perfume que vinha dos cabelos dela.
— Quero que me diga por que me insultou.
— Por não poder matá-lo... — respondeu ela, violentamente…
Libertou-se, com um puxão, e desapareceu. Lew encolheu os ombros e dirigiu-se às dependências do rancho, para falar com o capataz Jones.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

PAS743. A história do homem que matou o melhor amigo

HBD013. Aventuras de Kit Carson publicadas em Portugal