PAS785. Uma visita na noite

O jantar foi excelente. Ao terminar, Sharon disse que se sentia fatigada e retirou-se para descansar.
Ames ficou ainda um bocado na casa de jantar, com um cigarro entre os dentes e um copo de bom conhaque na frente. Esteve quase uma hora, ao fim da qual decidiu que já eram horas de ir dormir.
Subiu ao seu quarto. Sem dúvida, não tinha sono. As preocupações mantinham-no acordado. Sem saber que fazer, foi até à varanda.
Esteve lá durante muito tempo, apoiado à porta. De repente, quando menos esperava, ouviu rumores de cascos de cavalo.
Todos os seus músculos ficaram tensos. Quem se aproximava àquelas horas da noite?
O homem subia a encosta a todo o galope. Ao chegar ao terraço, deteve o cavalo e desmontou.
As nuvens abriram-se de repente e deram passagem à Lua.
Ames podia ver agora, facilmente, os menores detalhes. O homem chegou ao portão e experimentou a resistência deste por momentos.
Segundo parecia, queria passar despercebido, porque não bateu. Retrocedeu uns passos e olhou para cima. Depois, agarrou-se a um dos postes e começou a trepar imediatamente. Ames retrocedeu para o interior do seu quarto e empunhou o revólver. Em seguida voltou para junto da porta, cuidando não ser visto pelo intruso.
Este alcançou o varandim superior. Passou as pernas para dentro. Depois ficou uns momentos vacilante.
Por fim decidiu-se e tocou com os nós dos dedos nos vidros de uma janela, ignorando que um revólver lhe apontava a poucos passos de distância. De repente, Ames ouviu uma voz:
—Sharon, abre, sou eu. Vamos, não me tenhas aqui fora. Não gosto de esperar.
Correu um fecho e depois uns gonzos mal oleados rangeram um tanto. Uma branca silhueta apareceu de repente na varanda.
—James! — exclamou ela. —Tu aqui? Que fazes?
— Vamos para dentro — disse o recém-chegado.
Ames podia ver que era alto e de boa presença física, embora não lhe distinguisse as feições. Sem dúvida, reparou que não podia ser muito mais velho do que ele.
Sharon protestou:
—Não.
—Que dizes? Enlouqueceste, Sharon?
—Não consentirei que voltes a entrar jamais no meu quarto — respondeu ela com firmeza. — Diz-me aqui o que tiveres a dizer-me... e depois vai-te embora para sempre.
O homem riu-se.
—Noutro tempo não te mostravas assim para comigo.
—Eram outros tempos, com efeito, fala de uma vez, James.
O homem baixou de repente a voz, de tal maneira que Ames não conseguiu ouvir as suas palavras. Só podia ver os gestos de Sharon, que gesticulava energicamente.
De repente soou a voz da rapariga:
— Não, James, isso não! De maneira nenhuma!
—Vê bem o que dizes, Sharon —o tom do desconhecido era de impaciência.
—Já tens a minha resposta. Agora vai-te, vai-te daqui quanto antes. De contrário...
James voltou a rir.
—Quanto mais te irritas mais adorável és, querida—agarrou-a de repente pelos ombros. —Bem, já que não me permites entrar, pelo menos...
Ia a beijá-la, mas ela soltou-se das garras que a sujeitavam.
—Não me toques, James. E vai-te já, ou terei que esquecer tudo.
—Não esquecerás, querida —James continuava a rir cinicamente. —Bem, voltarei a ver-te um dia destes.
—Se vieres...
Mas o desconhecido já não a ouvia. Com suprema agilidade, descia pela varanda.
Montou a cavalo e partiu a todo o galope.
Ames hesitou por momentos. Não sabia se continuar escondido ou ir junto da rapariga, para lhe oferecer a sua ajuda, mas resolveu que aquele era um problema que só ela devia resolver. Não devia intrometer-se nos seus assuntos particulares, enquanto Sharon não lho pedisse.
Sharon permaneceu uns momentos de pé, com a cabeça caída sobre o peito. Depois, lentamente, virou-se e entrou no quarto.
E Ames também fez o mesmo. Meteu-se na cama, e depois de ter dado voltas a tudo quanto vira e ouvira, adormeceu profundamente.

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