PAS032. O Pianista Cego
Uma jovem loira, esbelta e muito bonita, agora intensamente pálida, apareceu à porta do fundo, acercando-se da plataforma. Ao ver o sangue, um gemido saiu da sua boca.
O cego atacou então os compassos de uma música popular. O obeso taberneiro fazia sinais desesperados à rapariga, e esta, compreendendo a sua advertência, procurou dominar-se. Bem contra vontade conseguiu esboçar um leve sorriso e balouçando-se como fazem as bailarinas de «cabaret», quando querem atrair um cliente, avançou até onde estava Kenton e os seus apaniguados.
Este sorriu largamente ao ver a jovem, olhando-a de maneira provocante.
- Já era tempo de apareceres, Fay, disse fazendo uma cómica e exagerada reverência. – Bem, vais dançar comigo.
- Eh! Eh! – interpôs-se Archer, aproximando-se rápido - . Eu é que a fui buscar, portanto a primeira dança é para mim. Vem, Fay!
E, sem esperar o consentimento da jovem, nem preocupar-se se aquilo agradava ou não a Kenton, puxou-a rudemente por um braço e obrigou-a a dançar.
Archer movia-se com a graça de um urso borracho, mas era evidente que desejava divertir-se agitadamente, saltando e bailando sem tom nem som. A música não lhe pareceu suficientemente mexida.
- É, pianista! – gritou -. Mais depressa! Mais!
Tinha-se formado um círculo em volta do par.
Archer abraçava apertadamente a jovem, cujo rosto expressava terror e asco, agora. Mas na sua opinião não era ainda bastante mexida a música.
- Disse mais depressa, idiota! – rugiu.
O cego apressou o compasso todo o que a pauta musical podia permitir, mas nem com isso satisfez Archer. Rápido, soltando o braço direito e com um movimento que a jovem bailarina não pôde impedir, puxou do revólver e disparou duas vezes na direção do pianista, apontando com cuidado.
A rapariga lançou um grito de angústia. E todos viram que o pianista, muito pálido, ficava imóvel com as mãos em atitude de tocar. As balas tinham-se cravado na parede, apenas duas polegadas sobre a sua cabeça
- Vamos idiota, música e mais ligeiro, disse eu! . – bradou Archer.
Soltou uma gargalhada, guardou o revólver e agarrou a rapariga. Os companheiros riram com ele. E o cego pianista, saindo do seu entorpecimento, e sem se importar com as regras musicais, começou a martelar as teclas num louco compasso.
(Coleeção Búfalo, nº 17)
(Coleeção Búfalo, nº 17)
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