PAS046. Uma dádiva de Deus
A porta voltou a abrir-se e no seu limiar apareceu Ruth Denning, vestindo um simples roupão azul, com os longos cabelos soltos sobre os ombros e com o braço direito ao peito.
A rapariga deteve-se, olhando-o e as suas faces coloriram-se, ao deparar-se-lhe o seu olhar. Os seus olhos pareciam maiores e infinitamente mais doces, sombreados como estavam por profundas olheiras. Quanto a Kendall contemplava-a extasiado, dizendo, para si próprio, que aquela rapariga era a mais gloriosa dádiva que Deus lhe proporcionara na sua agitada existência e que não tinha direito a ela, não a merecia.
Em seguida, Ruth avançou até à borda do leito e sorriu-lhe timidamente. Ele estendeu-lhe a mão direita e ela pôs-lhe em cima uma das suas mãos, estremecendo quando Kendall a apertou.
Fez-se um silêncio que a voz rouca e emotiva dele interrompeu:
- Acabam de me dizer o que Wingate e Griffith lhes vão dar… Vais aceitar?
- Acabam de me dizer o que Wingate e Griffith lhes vão dar… Vais aceitar?
- Nada nos ficou. A mamã diz que pode ser que o façamos…
-Devem fazê-lo. Com isso repararão muito bem a vossa fazenda.
- Mas nós, sozinhas, não poderemos… - os olhos aveludados atreveram-se a fixá-lo diretamente. – Vai ficar em Grants?
- Sou um vagabundo, um pistoleiro, Ruth. Uma bala perdida…
- Não é nada disso. Nem para mim, nem para a minha mãe.
- Mas sou-o. Porém, gostaria de me corrigir, de me fixar num lugar tão formoso como é esta região, criar o meu próprio gado e poder pendurar, alguma vez, os meus revólveres para me dedicar a brincar com os meus filhos…. Sim, gostaria de ficar em Grants… se alguém me pedisse.
A rapariga tinha agora a cara vermelha e o busto palpitava-lhe, agitado, mas não dominou o olhar, ao dizer em voz baixa e de cálidas vibrações:
- Talvez me esteja a portar como uma descarada, Jeff Kendall, mas se há alguma coisa que o possa reter em Grants e essa coisa estiver na minha mão, peço-lhe que fique.
Foi então que Jeff Kendall soube que tinha chegado ao fim da sua vida de aventuras. E não lhe soube nada mal…
(Coleção Arizona, nº 13)
A seguir: Coleção Arizona, nº 14
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