PAS056. A estranha fuga do mascarado

O xerife empunhou a arma, mas nem sequer se chegou a servir dela. O mascarado, como se compreendesse as suas intenções e conhecesse a sua ótima pontaria, acabara de se encobrir com um acidente de terreno. E a perseguição continuou implacável, assinalada pelas grossas nuvens de poeira que se erguiam no ar e também pelo bater cadenciado doa cascos dos cavalos no solo.
O mascarado jogava numa partida de sorte. Sabia perfeitamente que, se se deixasse apanhar, nem sequer teria tempo para respirar… Por isso, facilitava o galope do animal. Auxiliando-lhe os movimentos rítmicos do corpo, ora se sentando, ora se levantando.
Cavalgavam, agora, em plena planície, por um caminho enroscado entre ervas. O xerife e os companheiros aumentavam de esforços, e a esperança de caçar o fugitivo, dava-lhes energias novas.
A planície passara. Perseguido e perseguidores entraram num amplo vale, que todos conheciam pelo nome de «Vale dos Trovões». Ali, por o solo ser empedrado, as montadas tinham mais dificuldade em galopar. A corrida diminuiu de impetuosidade, mas os ânimos não arrefeceram. O xerife, então, parecia um possesso em cima do cavalo. Gritava, gesticulava, e ameaçava o mascarado repetidas vezes com o «colt».
O «Vale dos Trovões», entretanto, ficara para trás. Novamente, a planície se estendeu sob as patas das montadas. Porém, um novo personagem entrara em cena. A mala-posta de «White City» rodava à frente dos «cow-boys», puxada por fortes parelhas de cavalos.
Este facto deu ao mascarado uma alegria estranha, e uma ideia que logo pôs em prática. Incitou com mais energia o cavalo e procurou alcançar o carro. A luta entre o veículo e o animal pouco durou, pois, instantes volvidos, alcançava a mala-posta e, num salto pleno de agilidade e decisão, segurava-se nos varões e ficava bem agarrado. Depois, num esforço extraordinário, dificultado pela corrente de ar, elevava-se até ao tejadilho e deixou-se ficar estendido a todo o comprimento.
O boleeiro, que assistira a toda a cena, nada dissera nem interviera, mas logo que as figuras do xerife e dos companheiros se definiram na retaguarda, tentou fazer parar as parelhas. Compreendia que o negócio era com a justiça – e ele talvez não tivesse a consciência muito tranquila…
É claro que a intenção não passou do primeiro gesto! Porque, ao segundo, foi interrompido pela voz dura do mascarado:
- Mude de ideias, amigo. Ao contrário do que quer, fustigue antes os cavalos! Força!.
O boleeiro, sem hesitar, assim fez. E os animais esticaram mais os músculos na ânsia de ganharem terreno, naquela corrida diabólica.
Contornaram a planície e ficaram ocultos da vista do xerife. Então, o mascarado saltou para o lado do boleeiro e, sem dizer qualquer palavra, tirou-lhe as rédeas das mãos.
Com perícia levou as parelhas, sem abrandarem o galope, para um estreito caminho entre montanhas de rocha e teve uma exclamação:
- Agora para o Vale dos Trovões!
O homem que ia a seu lado teve uma careta de protesto, chegou a murmurar uma pergunta:
- Para trás?
Mas acabou por fixar a vista na pequenina janela que comunicava com o interior da carruagem. Aí, alheios a tudo quanto se passava, ia um homem de quarenta anos, robusto e de grandes músculos, e uma rapariga loira, de idade não superior a vinte anos.
O xerife levantou o braço e a comitiva suspendeu a correria. Todos olharam para o solo e sem o representante da lei dizer qualquer palavra, compreenderam que a mala-posta mudara de rumo.
- Foi para o Vale! – exclamou o xerife. – Não compreendo porque voltaram para trás! No entanto, para que não nos escapem, vão dois homens por este atalho e os restantes vêm comigo pelo atalude, e assim chegaremos lá primeiro do que eles!
Os dois homens indicados seguiram o sulco que as rodas da carruagem deixaram e o resto do grupo seguiu o xerife. Um quarto de hora depois, chegaram ao centro do Vale dos Trovões. Desmontaram rapidamente e espalharam-se pelas rochas, de armas em riste.
A seguir, a mala-posta irrompeu no estreito espaço e fez alto com grande alarido. Atrás do carro apareceu o cavalo do mascarado.
O boleeiro saltou, seguido do companheiro de assento, e pouco de pois a porta abria-se para sair o homem e a rapariga. O primeiro, logo que olhou à volta, teve um grito de raiva:
- O Vale dos Trovões!
- É verdade; a propósito, quero apresentar-lhe esta menina…
O passageiro, entre surpreendido e cauteloso, teve um esgar de aborrecimento:
- Não compreendo o que quer dizer! Não o conheço a si nem ao seu fato idiota! E nem me interessa conhecer esta senhora! – e voltando-se para o boleeiro: - Quanto a si, quero que explique a razão deste desvio no caminho! Quando chegarmos a Denver, apresentarei queixa na agência!
O boleeiro coçou a cabeça de atrapalhado, mas foi o mascarado quem respondeu:
- Oiça, amigo! Não seja impulsivo. Disse que lhe queria apresentar esta menina e vou fazê-lo… Chama-se Mary Dungan! Para me tornar mais explícito: a filha de Dungan!
O homem fez-se pálido e a rapariga olhou para o mascarado, admirada de este conhecer a sua identidade. E, quando ia para falar, uma voz gritante saiu das rochas:
-Eh! Acabou-se a assembleia! Estão todos presos!
E a figura de Mc Dawson, o xerife, surgiu perante o espanto de todos…


A seguir: O segredo do velho mineiro

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