PAS146. A morte chegou com a tempestade
A luz do raio, deslumbrante como o sol. A linha quebrada e azul-violeta da sua trajetória. Depois, o odor a enxofre. E o trovão aterrador, tal como se a terra tivesse explodido.
- …!
O raio impressionou os três. Caíra muito próximo e afetara-os demasiado.
Frank, o filho, resguardara-se instintivamente atrás da grossa coluna de madeira e ficou ali, dobrado sobre si mesmo. Podia lutar contra os homens, mas não contra a Natureza cruel. Tremia.
Jane, a mãe. Ela, que experimentava um terror sobre-humano em face das tempestades, foi a que menos reagiu. Viu o raio cair sobre a enorme árvore e rachá-la de meio a meio. Ouviu o trovão ribombar instantaneamente. Dobraram-se-lhe as pernas e caiu. Mas refez-se imediatamente. Toda coberta de lama, ergueu-se e correu para o edifício. Ali, gritou com quanta força a sua garganta foi capaz:
- Frank! Harold!
Harold, o pai, apenas verificou que a vida se lhe extinguia.
Notava como as forças o abandonavam, pouco a ouco. Sentia as cataratas de água fustigarem-lhe o corpo que jazia, agora, num leito macio de lama. Tinha os sovacos e o ventre suados e doía-lhe o ferimento que lhe atravessava os pulmões, trazendo-lhe à boca uma fina espuma avermelhada cada vez que respirava.
Pensava desordenadamente, prestes a mergulhar na inconsciência:
«Jane, não consegui chegar a tempo… mais uma vez fui um inútil… Jane, perdoas-me?... Sim, passou demasiado tempo… Quem cuidará agora de ti? Jane, recordas-te?... Não, não te recordas… Passou já tanto tempo… tanto… Perdoas-me?... Frank, vou ter contigo, Frank, meu filho… Que sabor tem o sangue!... Cá vem outro vómito… E outro…».
Golfadas de sangue inundavam a sua boca. Cuspiu sobre si próprio, incapaz de maior esforço.
Foi-se inclinando e repousou a cabeça na lama barrenta. As coisas, o mundo, pareciam tremer, ondulando na retina do homem.
«Que era aquilo?... Jane… Perecera-lhe ouvir um grito… Estava tudo tão escuro e tão silencioso!...»
Através da sua agonia ouviu um débil e agudo grito de mulher. Depois, entre as trevas, viu-a chegar. Distinguiu a mancha cinzenta do seu vestido no meio da escuridão.
«Que alto que está Jane!... E eu que não posso subir até ela!... Jane, cheguei… demasiado tarde… Perdoa-me…».
Não viu a corrida louca da mulher que se arrojou sobre ele e o chamou pelo nome.
- Harold!
Não viu o seu filho, que se aproximou também, atónito, como um sonâmbulo.
- Harold!
O grito chegou ao corpo de Harold Brown, rodeou-o, revolteou-o em seu redor, mas só encontrou a frialdade da morte.
Continuava a chover. E ao cair na terra, a água convertia-se em lama, em barro…
(Coleção Pólvora, nº 27)
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