PAS149. Convidados pelo medo

O revólver do «Tarefas» disparou três vezes seguidas e outras tantas garrafas ficaram sem gargalo, começando o líquido a gotejar pelas prateleiras abaixo.
- Vá, O’ Hara, sobe e traz para baixo essas garrafas. Não dirás que não te ajudamos. Assim não tens necessidade de lhes tirares as rolhas.
Os outros três bandidos riram-se da graça e até alguns entre o público esboçaram sorrisos ou se riram a meia voz, sem demasiado entusiasmo.
O’ Hara voltou a subir pela escada de mão até às garrafas, que se encontravam na prateleira superior.
Nesse instante, Noel Logan entrou no estabelecimento. Ninguém deu pela sua entrada, atentos como estavam à cena em que o dono da taberna servia de protagonista e aos comentários dos quatro bandidos.

Noel ouvira os três tiros e não hesitou nem um segundo em ir ver o que se passava. Empurrou a porta de vaivém e encostou-se à parede, a um lado. Num instante abarcou a situação e verificou que os tiros não tinham servido para matar ninguém nem tinham sido originados por qualquer duelo entre vaqueiros, mas que faziam parte de um divertimento dos homens tão seus conhecidos.
Olhou em volta e verificou que não fora notado por nenhum dos presentes. Deslocou-se, então, lentamente, pegado à parede e, sem que ninguém desse por ele, foi até muito próximo do balcão onde chegou precisamente quando O’ Hara descia, trémulo, com as garrafas a derramar licor.
Os risos atroavam a casa e os murros dos quatro meliantes sobre o balcão de madeira repetiam-se como um malho de ferreiro.
Noel encostou os cotovelos ao extremo do balcão, indiferente na aparência, mas atento a tudo o que ocorria.
O’Hara depositou as garrafas sem gargalo no balcão e limpou o copioso suor que lhe cobria a testa. Depois, colocou umas duas dezenas de copos em fila e foi-os enchendo com «whisky».
- Vocês! – ordenou Mock, com a atitude de um general no campo de batalha, para os que estavam espalhados pela sala. – Vão passando em fila e levem cada um o seu copo.
Os homens puseram-se em movimento, primeiro com timidez, depois mais resolutamente. Alguns, dissimulando a repugnância que sentiam; outros, contentes por beberem um trago de boa marca sem depois terem necessidade de pagar…
Foram passando em fila por diante do balcão e regressaram depois aos seus lugares, de copo na mão.
Quando o último se afastou, Mock voltou a tomar a palavra:
- Brindemos então agora porque o xerife tenha um bonito enterro e por que a sua linda cara não fique demasiado desfigurada ao receber as seis balas que eu lhe vou enfiar entre os olhos e a boca.
Ergueu a mão direita com o copo, e os amigos imitaram-no. Muitos dos presentes fizeram o mesmo, mas três ou quatro suspenderam o gesto e ficaram com os copos meio erguidos, olhando com receio e certa surpresa em determinada direção.
Os que estavam próximos, admirados com a atitude daqueles, olharam e ficaram paralisados de assombro. Pouco a pouco, antes que o brinde se levasse a efeito, todos os que estavam no salão olhavam para o canto onde Noel Logan se encontrava. Os últimos a darem pela presença de Noel foram precisamente os quatro bandidos. Mas acabaram por voltar a cabeça e repararam em Noel. Este não se movera. Encostado com certa negligência sobre o balcão em que apoiava um dos cotovelos, olhava com um sorriso estranho para o homem que acabava de pronunciar o brinde.
Mock mudou de cor. De encarnado, como estava a princípio, devido à excitação, passou a pálido; depois, verde, e novamente encarnado.
- Continua, Mock – disse Noel com toda a tranquilidade. – A mim não me dás um copo de «whisky»?
 
E agora? As coisas parecem estar complicadas? Irá Mock oferecer uma bebida ao xerife ou tentará assassina-lo com a ajuda dos outros bandidos? Já sabe, a resposta está em “Mãos ao ar, xerife!”
(Coleção Pólvora, nº 31)
 

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