PAS204. A voz do fantasma
Margaret Masters tinha encontrado um fantasma... E a sua reacção foi, exactamente, como podia prever-se.
A jovem fora andando até o limite oriental do rancho de seu pai, pois gostava de dar grandes passeios a cavalo e já se dispunha a regressar, quando ouviu o desconhecido cantor. Curiosa, como mulher, dirigiu-se até ali para ver a quem pertencia aquela voz.
Já estava a escurecer, mas havia ainda claridade suficiente... Ao aproximar-se mais do homem que avançava pelo caminho percebera as palavras da canção, uma balada vaqueira para ela desconhecida:
«Quando eu morrer,
Não quero ser enterrado
na imensa e solitária pradaria»
Breve apareceu, a seus olhos, no alto do monte. Vivamente destacado na última claridade do crepúsculo, com o chapéu deitado para trás e o rosto visível... O sangue paralizou-se nas veias da jovem.
Porque estava, sem dúvida, vendo um fantasma... o fastasma de um homem que tinha sido enforcado naquele mesmo dia ao amanhecer. Montava um cavalo negro como o do morto, e, para dar a nota macabra, lá estava a letra da canção...
A rapariga sentiu as veias gelarem-se. E quando ele apareceu e dirigiu o cavalo para ela com um sorriso tranquilizador, observou melhor as suas feições e um medo intenso a dominou fazendo-a desmaiar.
Quando voltou a si, sentiu uns braços fortes aper¬tarem-na e a frescura de água em seus lábios. Deu, então, conta de que estava deitada no chão; e quando abriu os olhos, para ver sobre a sua cara o rosto inconfundível do rapaz, que sorria um tanto alarmado estremeceu.
A tremura que a sacudiu, fez com que Lance lhe perguntasse:
- Por favor, não volte a desmaiar. O que a fez assustar-se?
Falava... e era de carne e osso. Mas, então, não era um fantasma... Quem seria?
- Você... você - balbuciou — Não está morto...
Notou Lance como que uma enorme surpresa... e umas sombras nos olhos do desconhecido. Lance estava a olhá-la como que desconcertado.
Ele tinha-a visto cair do cavalo, tinha corrido para o seu lado receoso de que lhe tivesse acontecido qualquer coisa de grave, e, sem saber explicar porquê, tinha sentido uma estranha reacção. Agora as palavras dela punham-no num mar de confusões...
- Não, não estou morto, segundo parece... E não a compreendo. E porque é que havia de estar? Por acaso assustou-se ao ver-me?
Margaret disse que sim com a cabeça, enquanto se desprendia dele. A sua cabeça era um torvelinho de ideias confusas. Havia qualquer coisa de extraordinário... incompreensível.
Aquele homem... era em tudo igual ao enforcado daquela manhã...
Porque era igual... exatamente ...A mesma estatura, os mesmos olhos cinzentos c penetrantes, a mesma boca firme e carnuda... Até quase as mesmas roupas. Que mistério era aquele?
Por seu lado, Lance não estava menos surpreendido, perguntando-se o motivo por que ela o havia imaginado morto e tinha desmaiado ao vê-lo.
Reparou que era uma jovem magra, de cabelos cor do fogo e de muito formosas feições, finos tornozelos que apareciam por baixo da saia de montar. A tez era mais morena do que branca. 0 busto que se erguia e baixava descompassadamente por baixo da sua blusa de seda, revelava suaves e tentadores contornos...
Lance tinha de sair quanto antes daquela embaraçosa situação... Tirou o chapéu e estendeu-lhe a mão.
- Creio que devo apresentar-me, miss. Chamo-me Lance Fremont. Parece-me que você está procedendo como se já me tivesse visto antes... ou confunde-me com alguém muito parecido... — Notou o estremecimento daquela mãozinha fina e suave, timidamente estendida ao encontro da sua e sorriu para animá-la, dizendo: — Não me terá confundido com meu irmão? Somos gémeos e é frequente confundirem-nos em Missouri. Ele chama-se Barry. E eu sou mais velho meia-hora...
Margaret estremeceu violentamente.
- Diz você... Barry?
- Sim, Barry Fremont. Tenho vindo a seguir-lhe os passos desde Missouri. Ele deve estar por estes arredores segundo me informaram. Conhece-o por acaso? Pode dizer-me onde está?
A rapariga experimentou uma nova sensação de frio. Este era o irmão gémeo do homem enforcado naquela manhã… e vinha procura-lo…
(Coleção Bisonte, nº49)
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