PAS337. Na presença da morte
Dobson não hesitou mais. Avançou e reconheceu Redfem, no ataúde da direita, ainda com o sangue visível de dez balas. A seguir desviou o olhar para o caixão da esquerda...
Uma bomba estilhaçou-se-lhe na cabeça, ofuscando todo o raciocínio e tingindo de vermelho carregado tudo o que via, ouvia ou pensava. A figura dilacerada, cruelmente golpeada do outro cadáver, dançou-lhe alucinantemente diante dos olhos cegos: o rosto lívido, tenso e imóvel, os olhos piedosamente cerrados sob a pasta de sangue seca e coagulada.
Os seus punhos embateram na madeira do ataúde, desconjuntando-a e estilhaçando-a em farpas agudas que quase o feriram. A dor tinha-se transladado para um sítio mais sensível, mais delicado: o coração.
Temendo que ele enlouquecesse, Donner tentou desviá-lo do último leito de repouso do desditoso Harry Dobson, louro, branco, dormindo o sono eterno, donde não despertaria por mais intensos que fossem os gritos de Fess.
— Vamos, Fess, calma... — pediu ansioso. — É inútil, nada resolve.
Duas tenazes de ferro apertaram os ombros de Donner. Um rosto lívido, feroz, descontrolado e terrível, surgiu--lhe junto dos olhos. Uma voz, irreconhecível, brotou dos lábios violáceos de Fess Dobson:
— Quem... quem foi, Donner ?
— Não... não sei... — Donner, atrapalhado, estrebuchou sob as garras ferozes de Fess Dobson.
— Quem, Donner ? — exigiu Dobson.— Você sabe... quem assassinou o meu irmão. Fale ou estrangulo-o.
As mãos forçaram a posição asfixiante. Donner teve que dizer o pouco que sabia, o que constava pelo povoado:
— Não sei... mas ela... ela estava presente... ela viu...
— Ela? Chris Hodges? — o grito rouco de Fess era penetrante. — Sim...
As mãos soltaram-no. O dono da casa funerária tombou por terra, enquanto Dobson desaparecia, engolido pela noite. A porta estalou atrás dele. Donner, apalpando o pescoço, indagou a si mesmo: — Que vai acontecer?
(Coleção Califórnia, nº 5)
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