PAS359. O cínico rouba um beijo à jovem namoradeira

Sem qualquer propósito determinado, encaminhou-se para o rancho «Wells». Mas nem por isso foi o menos surpreendido quando, nas suas proximidades, viu Lea ir ao seu encontro, montada no seu cavalo.
Ronald fez parar o seu, esperando que ela se aproximasse e, descobrindo-se sorridente, fez-lhe uma rasgada reverência.
— Será casualidade que nos encontremos com tanta frequência? — perguntou Lea, saudando-o com um olhar alegre. — Vai muito longe?
Ronald nunca desaproveitava os favores da sorte.
— Não estou de acordo consigo, quanto á frequência dos nossos encontros, pois parece-me que decorreram mil anos desde a última vez que a vi.
— Deveras? Pois foi há bem poucos dias se bem me recordo.
— Conte a quantidade de segundos decorridos o que significa quase outras tantas palpitações do coração. E agora imagine que o meu já não bate, sem a sua presença. Compreende assim a imensidade do tempo decorrido, a minha angústia por continuar vivendo até este abençoado momento em que a torno a ver?
Lea riu, de gosto.
— Que exagerado!
— Olhe para mim e verá como estou a dizer a verdade...
— Pois não parece muito abatido — retorquiu ela, num tom zombeteiro, embora perturbada pela intensidade com que Ronald a fitava.
— Ê que os estragos causados cá dentro.
 Lea baixou a cabeça, tornando-se-lhe inquietante, pela primeira vez na sua vida, a proximidade de um homem.
— O senhor não respondeu à minha pergunta — disse nervosa, procurando mudar o rumo da conversação. — Para onde vai?
— Já devia ter compreendido que a procurava. Desde que a vi, perdi a tranquilidade e o sono.
— Procure deitar-se, em vez de passar a noite a jogar numa casa de tavolagem e verá como dorme.
Com efeito, Ronald passava a maior parte das noites, a jogar, tanto porque o poker era uma das suas principais fontes de receita, como para fazer notar a sua presença, de forma que ninguém pudesse relacioná-lo com as catividades de Harling.
Apesar disso, sorriu satisfeito pelo interesse que ela demonstrava, seguro de que não havia de prejudicá-lo nos seus propósitos.
— Como sabe... isso? Todas as notícias correm depressa nestes lugarejos.
— Pois é verdade. Para que negar? E isso faz-me recordar que desejo oferecer a minha ajuda a seu irmão.
— Não faça isso.
— Por quê?
— Pois não compreende que com a sua chegada têm coincidido factos... desagradáveis? –
Podem porventura culpar-me disso?
— Eu não o culpo!...
— Mas seu irmão, talvez!
— Ignoro. O que sei é que ele não sente nenhuma simpatia por si...
Sem deixar de conversar, haviam-se dirigido para um pequeno bosque de robles e pararam à sombra, junto de um pequeno regato. O lugar era agradável e afastado, pelo que Ronald decidiu intensificar a sua ofensiva.
— Lea... — murmurou, num tom insinuante. E, apertando levemente os joelhos, fez retroceder o seu cavalo, com um passo de dança. A jovem ficara a seu lado, tão próxima, que ele podia perceber o perfume dos seus cabelos. Então, inclinando-se para Lea, passou-lhe o braço em redor dos ombros e apertou-a fortemente contra si.
Ela fitou-o com os olhos muito abertos, de tal maneira que o fitá-los era como assomar-se a um lago de águas tranquilas, claras e imensamente profundas. Ronald beijou-a, colando os seus lábios aos dela, inclinando-lhe o busto para trás, que fez com que o chapéu lhe caísse. Sentiu contra o seu peito as suaves formas arredondadas do túrgido peito de Lea e, através delas a rápida palpitação, semelhante à de umas asas cativas.
Quando a largou bruscamente, viu um clarão estranho nos seus olhos glaucos e que os lábios lhe tremiam.
— Co... co...
— Cobarde, não é isso? — concluiu ele, sorrindo,
Ela, porém, não lhe respondeu e, endireitando-se sobre a sela, levantou o pequeno stick e cruzou-lhe o rosto, com todas as suas forças. Depois, esporeando o cavalo, afastou-se num galope furioso.
(Coleção Colorado, nº 6)

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