PAS364. Vendido a uma mulher

Enterrou um pouco mais a pá, para extrair outra porção de terra e depois olhou para os pés de Gizel.
— Sou eu quem o diz.
Continuou a trabalhar em silêncio, sem proferir uma palavra mais. A noite estava quente e o suor empapava-lhe a camisa, colando-a ao busto. Gizel conservava-se imóvel ao pé da sepultura, sem tirar os olhos dele.
Momentos depois de depositar cuidadosamente no fundo da vala, o primeiro cadáver, Burke saltou para fora e foi procurar os outros dois. Decorridos apenas alguns minutos, regressou com eles, enterrando-os. As armas ficaram também no fundo da vala, reservando para si um bom «rifle». Durante essa macabra operação, Gizel não o ajudou, nem lhe dirigiu uma palavra.
Só mais tarde é que Burke, encarando-a nova mente, lhe disse:
— Tens de partir, Gizel.
— Não tenho o menor desejo de voltar para o rancho de Honeyman.
— Nesse caso, faze o que te der na gana. Eu vou dormir aqui.
Dirigindo-se a um dos cavalos, que, de focinho no solo, procurava de comer, libertou-o da sela, \apoderando-se da manta que estava debaixo dela. Sem olhar para Gizel, entrou numa das casas.
— Aqui, estar-se-á bem. Que vais tu fazer?
A jovem compreendeu que o mais sensato seria montar outra vez no seu cavalo e voltar para junto de seu tio e de sua irmã. Mas a perspetiva do horrendo caminho que teria de seguir aniquilou-a de tal forma que se sentiu sem forças.
— Ficarei também — disse, sem pensar, levada apenas pelo seu cansaço —; empreenderei o caminho, quando amanhecer.
— Como quiseres.
Gize] sabia bem que Burke não se aproximaria dela. Sem raciocinar porquê, estava convencida disso. O «pistoleiro» nessa noite não dava a impressão de ser um homem perigoso, mas a de um pobre homem que precisasse de companhia para se esquecer de tudo, inclusivamente de si mesmo.
Entraram na casa, por cujas janelas desconjuntadas e abertas a luz da Lua penetrava largamente. Burke estendeu a manta e saiu em busca de outra. Ao cabo de alguns minutos, voltou com outra, que estendeu a pouca distância da outra.
— Dorme, se podes. E enrola-te bem na manta. Estas noites enganam muito.
Gizel assim fez, mas, semicerrando os olhos, ficou olhá-lo. Como estava numa zona sombreada, ele não poderia notar a observação de que era objeto. Por seu Indo, Burke sentou-se na manta, apoiando as costas na parede, e ficou imóvel, a olhar a janela fronteira. O luar iluminava as suas feições tão claramente, como se fosse pleno dia. Isso permitiu que a jovem visse uma ruga de preocupação, na sua fronte, que parecia tornar mais pequenos e inexpressivos os seus olhos.
Então, não pôde resistir à tentação de perguntar-lhe:
— Em que estás pensando? Que te aconteceu?
Burke não protestou, dessa vez, contra perguntas Inúteis. Pelo contrário, respondeu-lhe numa voz suave e lenta:
— Estava pensando naquela que há-de ser minha esposa. Já falta muito pouco para isso. Porque, embora pareça incrível, Gizel, casarei dentro de três meses.
Com movimentos calmos, Burke enrolou um cigarro. Trazia uma bolsa de coiro, com tabaco, no bolso direito (ia camisa. Acendeu-o, sem olhar para ela.
— Casares? Não posso imaginar que ames uma mulher, a sério, e que sejas pai...
E Gizel, soerguendo-se um pouco, fitou-o abertamente.
— De que espécie de casamento estás falando? Casas por obrigação, por dever?
— Não! Não é isso, exatamente. Inclinou-se um pouco, para fitar a sua companheira. E esta ouviu o que lhe parecia uma resposta Incrível, pela segunda vez, naquela noite.
— Vendi-me... Vendi-me a uma mulher, por oitocentos dólares.
(Coleção Colt, nº 3)

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