PAS372. A serenidade da morte
Black Man aproximou-se do rancho Milton, aquele que era habitado pela rapariga que testemunhara no enforcamento de James Hudson, o jovem incriminado pela morte da família Moorehead. Saltou do cavalo e aproximou-se da porta. Os seus olhos assumiram no momento em que dava pequenas pancadas na porta uma tonalidade verde-escura, que denotava profundo rancor, uma inimizade muito próximo do ódio e da morte.
Demoraram bastante tempo antes de abrir. Black Man voltou a bater, e só alguns minutos depois se ouviu rodar uma chave na fechadura, e a porta entreabrir-se para deixar aparecer um rosto minúsculo de rapariga.
— Que deseja? — perguntou ela.
— Procuro Jane Milton, Ma'm.
— Sou eu própria. Que deseja?
Black Man perdeu as maneiras delicadas que adotara e empurrou a porta com violência. A rapariga que não esperava este gesto, foi empurrada e estatelou-se no solo. Foi assim —totalmente deitada e com os olhos abertos pelo espanto — que o homem de negro a foi encontrar. Ele entrou, contemplou-a com desprezo e ar arrogante, e exclamou:
— Levante-se.
Jane fê-lo inconscientemente, e recuou até à parede.
— Que quer de mim? Porque entrou nesta casa? — Ao mesmo tempo que falava, a rapariga parecia fascinada pelas estranhas roupas que cobriam o rapaz. O tom negro assustava-a, fazia-a conceber um mau pressentimento, levava-a a ficar aterrorizada.
— Venho para falar consigo. Precisamos de ter uma grande conversa. Tem alguma sala onde possamos estar sem que sejamos interrompidos?
«Aquela voz?, pensava a rapariga, «onde já a ouvira?» — E num tom de voz incolor:
— Sim, temos a sala de jantar. Mas não compreendo porque o hei-de receber, sobretudo neste momento em que o meu pai não se encontra em casa.
— Melhor. Eu quero falar consigo e não com o seu pai. Se ele não está, melhor. Vamos lá para dentro.
E, dando o exemplo, Black Man afastou-se a passos largos. «Aqueles olhos, verdes, aquele cabelo tão negro...», continuava ela a pensar. «Oh, conheço-os! Eu sei que os conheço! Mas... de onde?»
Pouco depois, estavam os dois dentro da pequena sala onde o rancheiro Milton costumava oferecer bebidas aos amigos. Black Man sentou-se na cadeira superior da mesa e puxando pelo Co/t, colocou-o sobre a mesa. Jane, a quem não passara despercebido o gesto, ficou gelada.
— A arma é para mim? — inquiriu.
— Em princípio, é uma medida cautelar de defesa. Mas no fim da nossa conversa, é muito possível que sim... que seja para a matar.
Jane, ao ouvir esta ameaça, recompôs-se como por milagre. Sentiu que de súbito o pavor lhe desaparecia das veias, e que uma serenidade — uma serenidade já de morta a envolvia — ao mesmo tempo que os nervos se relaxam e ela podia sorrir com perfeito à-vontade.
— Eu não o conheço?
— Sim, conhece-me e bem. Mas isso agora não importa. Venho para lhe fazer uma pergunta. Repare neste ponto. A sua resposta é muito importante. Peço-lhe que a diga com consciência e absoluta verdade.
— Não costumo mentir...
— Permita-me que duvide dessa afirmação. Para mim, a menina é uma mentirosa!
Jane, de repente, teve um acesso de orgulho, mas que logo se desfez, como se a serenidade atrás sentida a impedisse de ter reações menos- concretas.
— Muito bem. Faça então a pergunta!
— Porque testemunhou no julgamento de james Hudson? Porque o acusou do assassínio da família Moorehead? Porque disse que o viu cometer o crime? Porque fez todas essas afirmações, sabendo que mentia?
Jane Milton contemplou com surpresa e também com à-vontade o homem de negro. E de repente, ela reconheceu-o... sim, descobriu quem ele era. Mas a tensão na sala era de tal ordem, que nem um nem outro ouviram a porta da rua abrir-se e um homem aparecer entre os umbrais. Nem mesmo repararam que ele se aproximara, e que parara como que pregado ao solo por uma força sobrenatural, ao ouvir o rapaz tornar:
— Vamos, responda: Porque testemunhou contra James Hudson, sabendo que mentia?
O recém-chegado, encolheu-se e com a precipitação escondeu-se atrás das vastas cortinas que tapavam a porta da entrada e dispôs-se a ouvir. Esse homem curioso e tão estranhamente alarmado era o pai de Jane Milton.
— Oiça — respondia ela, entretanto— e como conseguiu o senhor salvar-se?
O homem de negro sorriu-se.
— Vejo que me reconheceu. Mas isso não evitará a sua resposta...
— Sim, reconheci-o logo que entrámos nesta sala, embora a ideia só me acudisse quando formulou a pergunta. Mas não compreendo como podia ter regressado da morte?
— Eu não morri.
— Não compreendo. Toda a gente assistiu ao enforcamento de James Hudson. Todos viram o seu corpo pendurado na árvore, e mais tarde ser recolhido por «Devil» !
— Sim— admitiu Black Man — sou James Hudson, fui condenado e enforcado por todos vós, mas não morri. E disso, já três dos meus carrascos tiveram conhecimento. Um trágico conhecimento, pois após ter dado a notícia, abati-os com toda a carga do meu Colt. Comecei por Sam Legiss, depois por Óscar Keith e por último, o juiz. Matei-os a todos, mas antes deixei-os defender-se. Mas a verdade é que depois de verem o meu pescoço, nenhum teve coragem de levantar um dedo.
— O seu pescoço? — inquiriu Jane, fascinada pela narrativa.
Black Man começou a desenrolar o grande lenço negro que lhe envolvia o pescoço, e a rapariga teve um ar de espanto. De facto, o pescoço apresentava em toda a volta uma cicatriz arroxeada, feita de talhe duplo, onde se descobria facilmente o golpe violento de uma corda. A cicatriz era pavorosa e parecia separar a cabeça do resto do corpo.
Jane levou a mão à boca, horrorizada. E durante alguns segundos não foi capaz de afastar os olhos daquele vergão. O homem de negro sorriu:
— Isto— disse --- será uma recordação que ficará para sempre comigo do vosso acto cobarde.
Demoraram bastante tempo antes de abrir. Black Man voltou a bater, e só alguns minutos depois se ouviu rodar uma chave na fechadura, e a porta entreabrir-se para deixar aparecer um rosto minúsculo de rapariga.
— Que deseja? — perguntou ela.
— Procuro Jane Milton, Ma'm.
— Sou eu própria. Que deseja?
Black Man perdeu as maneiras delicadas que adotara e empurrou a porta com violência. A rapariga que não esperava este gesto, foi empurrada e estatelou-se no solo. Foi assim —totalmente deitada e com os olhos abertos pelo espanto — que o homem de negro a foi encontrar. Ele entrou, contemplou-a com desprezo e ar arrogante, e exclamou:
— Levante-se.
Jane fê-lo inconscientemente, e recuou até à parede.
— Que quer de mim? Porque entrou nesta casa? — Ao mesmo tempo que falava, a rapariga parecia fascinada pelas estranhas roupas que cobriam o rapaz. O tom negro assustava-a, fazia-a conceber um mau pressentimento, levava-a a ficar aterrorizada.
— Venho para falar consigo. Precisamos de ter uma grande conversa. Tem alguma sala onde possamos estar sem que sejamos interrompidos?
«Aquela voz?, pensava a rapariga, «onde já a ouvira?» — E num tom de voz incolor:
— Sim, temos a sala de jantar. Mas não compreendo porque o hei-de receber, sobretudo neste momento em que o meu pai não se encontra em casa.
— Melhor. Eu quero falar consigo e não com o seu pai. Se ele não está, melhor. Vamos lá para dentro.
E, dando o exemplo, Black Man afastou-se a passos largos. «Aqueles olhos, verdes, aquele cabelo tão negro...», continuava ela a pensar. «Oh, conheço-os! Eu sei que os conheço! Mas... de onde?»
Pouco depois, estavam os dois dentro da pequena sala onde o rancheiro Milton costumava oferecer bebidas aos amigos. Black Man sentou-se na cadeira superior da mesa e puxando pelo Co/t, colocou-o sobre a mesa. Jane, a quem não passara despercebido o gesto, ficou gelada.
— A arma é para mim? — inquiriu.
— Em princípio, é uma medida cautelar de defesa. Mas no fim da nossa conversa, é muito possível que sim... que seja para a matar.
Jane, ao ouvir esta ameaça, recompôs-se como por milagre. Sentiu que de súbito o pavor lhe desaparecia das veias, e que uma serenidade — uma serenidade já de morta a envolvia — ao mesmo tempo que os nervos se relaxam e ela podia sorrir com perfeito à-vontade.
— Eu não o conheço?
— Sim, conhece-me e bem. Mas isso agora não importa. Venho para lhe fazer uma pergunta. Repare neste ponto. A sua resposta é muito importante. Peço-lhe que a diga com consciência e absoluta verdade.
— Não costumo mentir...
— Permita-me que duvide dessa afirmação. Para mim, a menina é uma mentirosa!
Jane, de repente, teve um acesso de orgulho, mas que logo se desfez, como se a serenidade atrás sentida a impedisse de ter reações menos- concretas.
— Muito bem. Faça então a pergunta!
— Porque testemunhou no julgamento de james Hudson? Porque o acusou do assassínio da família Moorehead? Porque disse que o viu cometer o crime? Porque fez todas essas afirmações, sabendo que mentia?
Jane Milton contemplou com surpresa e também com à-vontade o homem de negro. E de repente, ela reconheceu-o... sim, descobriu quem ele era. Mas a tensão na sala era de tal ordem, que nem um nem outro ouviram a porta da rua abrir-se e um homem aparecer entre os umbrais. Nem mesmo repararam que ele se aproximara, e que parara como que pregado ao solo por uma força sobrenatural, ao ouvir o rapaz tornar:
— Vamos, responda: Porque testemunhou contra James Hudson, sabendo que mentia?
O recém-chegado, encolheu-se e com a precipitação escondeu-se atrás das vastas cortinas que tapavam a porta da entrada e dispôs-se a ouvir. Esse homem curioso e tão estranhamente alarmado era o pai de Jane Milton.
— Oiça — respondia ela, entretanto— e como conseguiu o senhor salvar-se?
O homem de negro sorriu-se.
— Vejo que me reconheceu. Mas isso não evitará a sua resposta...
— Sim, reconheci-o logo que entrámos nesta sala, embora a ideia só me acudisse quando formulou a pergunta. Mas não compreendo como podia ter regressado da morte?
— Eu não morri.
— Não compreendo. Toda a gente assistiu ao enforcamento de James Hudson. Todos viram o seu corpo pendurado na árvore, e mais tarde ser recolhido por «Devil» !
— Sim— admitiu Black Man — sou James Hudson, fui condenado e enforcado por todos vós, mas não morri. E disso, já três dos meus carrascos tiveram conhecimento. Um trágico conhecimento, pois após ter dado a notícia, abati-os com toda a carga do meu Colt. Comecei por Sam Legiss, depois por Óscar Keith e por último, o juiz. Matei-os a todos, mas antes deixei-os defender-se. Mas a verdade é que depois de verem o meu pescoço, nenhum teve coragem de levantar um dedo.
— O seu pescoço? — inquiriu Jane, fascinada pela narrativa.
Black Man começou a desenrolar o grande lenço negro que lhe envolvia o pescoço, e a rapariga teve um ar de espanto. De facto, o pescoço apresentava em toda a volta uma cicatriz arroxeada, feita de talhe duplo, onde se descobria facilmente o golpe violento de uma corda. A cicatriz era pavorosa e parecia separar a cabeça do resto do corpo.
Jane levou a mão à boca, horrorizada. E durante alguns segundos não foi capaz de afastar os olhos daquele vergão. O homem de negro sorriu:
— Isto— disse --- será uma recordação que ficará para sempre comigo do vosso acto cobarde.
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