PAS383. Baleado por uma mulher
Era uma mulher absolutamente excecional.
Johnny Temple que estava farto de ver mulheres bonitas, até ficou gago ao ver esta. Não era Katia. Esta era mais jovem, mais elegante. Da mesma maneira que uma pessoa ao ver Katia pensava que ela tinha nascido pobre e agora trabalhava num «saloon», ao ver esta teria a certeza de que tinha nascido princesa e agora era a mulher mais rica do território. Johnny pensou isso, quando abriu a porta. Ela, que tinha estado sentada junto à cama, perto do cadáver de Reynols, pôs-se em pé.
Era alta, muito alta e bem-feita, santo Deus! Com uma mulher assim, todas as coisas deviam ser bisadas... Trazia um vestido negro, sapatos negros e meias da mesma cor. Era uma rapariga a quem ficava bem o luto.
Tinha os cabelos loiros, debaixo dum gracioso e diminuto chapéu. Perguntou a Johnny:
— Senhor Temple ?
— Talvez. Desde que a vi não tenho a certeza de nada...
— Porque não entra?
— Tem razão. Este quarto é meu... Já não me lembrava.
— Deve estar muito admirado de me encontrar aqui, senhor Temple.
— Não sei que dizer... Mas porque não combinamos uma coisa? Primeiro, beijo-a e depois fico admiradíssimo...
— Beijar-me diante do seu amigo? — sorriu ela, com ironia. — Não vê que pode acordar de um momento para o outro.
— Hum! Claro... Até estou admirado de ainda não ter acordado. Há muito tempo que está à minha espera?
— Há uns vinte minutos.
— E durante esse tempo, o meu amigo não se mexeu?
Já tinha percebido que ela não era parva nenhuma e que tinha descoberto desde que entrara no quarto estar na presença de um cadáver. E de que se continuava ali, era porque desconhecia o medo.
— Não, o senhor Reynols não se mexeu – disse ela, sem se alterar. — Deve ter muito sono.
— O senhor Reynols ? Conhecia-o?
— Todos aqui conhecemos o sheriff e os seus ajudantes. E você? Não é de Denver?
— Sabe muito bem que acabo de chegar.
— Claro que sei.
— Não me pergunta o que cá vim fazer Reynols também o perguntou.
— E por isso está morto?
— Suponho que sim...
— Estranha técnica a sua, senhor Temple
— A que se refere?
— Creio que em todo o país ninguém mais seria capaz de fazer isto.
— Continuo sem a perceber.
— É fácil matar um homem assim, sem que o seu rosto se altere?
— Ah, era isso! Vejo que não é estúpida miss...
— Miss Gaylor.
— Pois não é parva nenhuma, miss Gaylor Não só distingue um homem morto dum homem adormecido, coisa que nem todas as raparigas da sua categoria conseguem fazer, como adivinha as causas da sua morte. Os meus parabéns...
— Ainda não respondeu à minha pergunta: E fácil partir o pescoço a um homem?
— Não. Se quiser dou-lhe umas explicações, a um dólar por semana...
— Não acredita que o motivo da minha visita seja esse, pois não?
— Julguei que fosse...
— Porquê?
— Porque para lhe ensinar o meu método, tenho que a abraçar...
Johnny avançou para ela, que não se moveu. Os seus olhos estavam parados, olhando-o fixamente e os seus lábios estavam ainda mais quietos. Quando ele estava a um passo de distância, esses lábios começaram a tremer. Mas a jovem não recuou. Johnny abraçou-a e beijou-a na boca. Ela ficou quieta, muito quieta, enquanto ele a beijava. Parecia uma estátua mas uma estátua que palpitava por dentro... Quando Johnny a largou, teve uma sensação estranha: a de ter beijado um bocado de gelo, dentro da qual ardia uma fogueira.
Johnny afastou-se um pouco e disse:
— Muito obrigado.
— Não tem de quê. O trabalho foi só seu.
Ele sorriu.
— Vamos fazer uma combinação?
— Qual?
— Eu ensino-lhe a arte de partir os ossinhos da nuca aos senhores e você ensina-me a beijar. — Não vim cá para isso, senhor Temple.
— Já o imaginava— disse ele, desalentado. — Mas se quer falar comigo, permita-me que a convide a beber uma bebida. Apesar de ser o tipo mais malcriado do país, aborrece-me recebê-la assim.
— A pergunta, a que quero que me responda, tem que ser feita num local absolutamente privado, senhor Temple. Um sítio, mais ou menos, como este.
— Muito bem. Se prefere ficar aqui, pergunte o que quiser.
— Já esteve alguma vez em Nova Iorque, senhor Temple? Ele hesitou perante aquela pergunta, que de modo nenhum esperava.
— Sim... Várias vezes.
— Esteve lá há dois anos, por acaso?
— Dois anos? Sim, exatamente. Foi a última vez que lá estive. Mas...
— Limite-se a responder, senhor Temple. Creio que é o mínimo que lhe posso pedir em troca da minha colaboração no beijo.
— Parece-me razoável. Pergunte.
— Chegou a conhecer uma casa, situada no número 1022 da Terceira Avenida.
Johnny semicerrou os olhos.
— Porque pergunta isso?
— Tenho os meus motivos. Responda!
— Sim, conheci.
— Foi lá por causa duma mulher?
— Sim.
— Duma mulher assassinada?
— Sim.
Johnny respondia com rapidez.
— Lembra-se como se chamava?
— Lembro. Irene Gaylor !
Ela sorriu.
— Muito bem, senhor Temple, tem uma memória privilegiada. Nada mais tenho que lhe perguntar. Quer ter a amabilidade de me abrir a porta?
O seu tom era tão convincente, tão natural, que Johnny se sentiu impelido a obedecer-lhe. Claro que nesse momento nem sequer poderia imaginar o que iria acontecer segundos depois. Foi abrir a porta e teve que voltar as costas por momentos à rapariga. Ouviu o frufru das suas roupas. Ela disse:
— Adeus, senhor Temple.
Johnny voltou-se, como que avisado pelo seu sexto sentido. Ela tinha empunhado um revólver, um pequeno «Derringer». E premiu duas vezes o gatilho.
Johnny Temple que estava farto de ver mulheres bonitas, até ficou gago ao ver esta. Não era Katia. Esta era mais jovem, mais elegante. Da mesma maneira que uma pessoa ao ver Katia pensava que ela tinha nascido pobre e agora trabalhava num «saloon», ao ver esta teria a certeza de que tinha nascido princesa e agora era a mulher mais rica do território. Johnny pensou isso, quando abriu a porta. Ela, que tinha estado sentada junto à cama, perto do cadáver de Reynols, pôs-se em pé.
Era alta, muito alta e bem-feita, santo Deus! Com uma mulher assim, todas as coisas deviam ser bisadas... Trazia um vestido negro, sapatos negros e meias da mesma cor. Era uma rapariga a quem ficava bem o luto.
Tinha os cabelos loiros, debaixo dum gracioso e diminuto chapéu. Perguntou a Johnny:
— Senhor Temple ?
— Talvez. Desde que a vi não tenho a certeza de nada...
— Porque não entra?
— Tem razão. Este quarto é meu... Já não me lembrava.
— Deve estar muito admirado de me encontrar aqui, senhor Temple.
— Não sei que dizer... Mas porque não combinamos uma coisa? Primeiro, beijo-a e depois fico admiradíssimo...
— Beijar-me diante do seu amigo? — sorriu ela, com ironia. — Não vê que pode acordar de um momento para o outro.
— Hum! Claro... Até estou admirado de ainda não ter acordado. Há muito tempo que está à minha espera?
— Há uns vinte minutos.
— E durante esse tempo, o meu amigo não se mexeu?
Já tinha percebido que ela não era parva nenhuma e que tinha descoberto desde que entrara no quarto estar na presença de um cadáver. E de que se continuava ali, era porque desconhecia o medo.
— Não, o senhor Reynols não se mexeu – disse ela, sem se alterar. — Deve ter muito sono.
— O senhor Reynols ? Conhecia-o?
— Todos aqui conhecemos o sheriff e os seus ajudantes. E você? Não é de Denver?
— Sabe muito bem que acabo de chegar.
— Claro que sei.
— Não me pergunta o que cá vim fazer Reynols também o perguntou.
— E por isso está morto?
— Suponho que sim...
— Estranha técnica a sua, senhor Temple
— A que se refere?
— Creio que em todo o país ninguém mais seria capaz de fazer isto.
— Continuo sem a perceber.
— É fácil matar um homem assim, sem que o seu rosto se altere?
— Ah, era isso! Vejo que não é estúpida miss...
— Miss Gaylor.
— Pois não é parva nenhuma, miss Gaylor Não só distingue um homem morto dum homem adormecido, coisa que nem todas as raparigas da sua categoria conseguem fazer, como adivinha as causas da sua morte. Os meus parabéns...
— Ainda não respondeu à minha pergunta: E fácil partir o pescoço a um homem?
— Não. Se quiser dou-lhe umas explicações, a um dólar por semana...
— Não acredita que o motivo da minha visita seja esse, pois não?
— Julguei que fosse...
— Porquê?
— Porque para lhe ensinar o meu método, tenho que a abraçar...
Johnny avançou para ela, que não se moveu. Os seus olhos estavam parados, olhando-o fixamente e os seus lábios estavam ainda mais quietos. Quando ele estava a um passo de distância, esses lábios começaram a tremer. Mas a jovem não recuou. Johnny abraçou-a e beijou-a na boca. Ela ficou quieta, muito quieta, enquanto ele a beijava. Parecia uma estátua mas uma estátua que palpitava por dentro... Quando Johnny a largou, teve uma sensação estranha: a de ter beijado um bocado de gelo, dentro da qual ardia uma fogueira.
Johnny afastou-se um pouco e disse:
— Muito obrigado.
— Não tem de quê. O trabalho foi só seu.
Ele sorriu.
— Vamos fazer uma combinação?
— Qual?
— Eu ensino-lhe a arte de partir os ossinhos da nuca aos senhores e você ensina-me a beijar. — Não vim cá para isso, senhor Temple.
— Já o imaginava— disse ele, desalentado. — Mas se quer falar comigo, permita-me que a convide a beber uma bebida. Apesar de ser o tipo mais malcriado do país, aborrece-me recebê-la assim.
— A pergunta, a que quero que me responda, tem que ser feita num local absolutamente privado, senhor Temple. Um sítio, mais ou menos, como este.
— Muito bem. Se prefere ficar aqui, pergunte o que quiser.
— Já esteve alguma vez em Nova Iorque, senhor Temple? Ele hesitou perante aquela pergunta, que de modo nenhum esperava.
— Sim... Várias vezes.
— Esteve lá há dois anos, por acaso?
— Dois anos? Sim, exatamente. Foi a última vez que lá estive. Mas...
— Limite-se a responder, senhor Temple. Creio que é o mínimo que lhe posso pedir em troca da minha colaboração no beijo.
— Parece-me razoável. Pergunte.
— Chegou a conhecer uma casa, situada no número 1022 da Terceira Avenida.
Johnny semicerrou os olhos.
— Porque pergunta isso?
— Tenho os meus motivos. Responda!
— Sim, conheci.
— Foi lá por causa duma mulher?
— Sim.
— Duma mulher assassinada?
— Sim.
Johnny respondia com rapidez.
— Lembra-se como se chamava?
— Lembro. Irene Gaylor !
Ela sorriu.
— Muito bem, senhor Temple, tem uma memória privilegiada. Nada mais tenho que lhe perguntar. Quer ter a amabilidade de me abrir a porta?
O seu tom era tão convincente, tão natural, que Johnny se sentiu impelido a obedecer-lhe. Claro que nesse momento nem sequer poderia imaginar o que iria acontecer segundos depois. Foi abrir a porta e teve que voltar as costas por momentos à rapariga. Ouviu o frufru das suas roupas. Ela disse:
— Adeus, senhor Temple.
Johnny voltou-se, como que avisado pelo seu sexto sentido. Ela tinha empunhado um revólver, um pequeno «Derringer». E premiu duas vezes o gatilho.
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