PAS400. Caminhada para uma região desértica
Estendido num colchão, no fundo da carreta, Bert Garner só conseguia ver, através da abertura do toldo, os penhascos avermelhados das montanhas que avançavam sobre o desfiladeiro, com alguns pinheiros tortos, destacando-se na profundidade do céu azul, a beira do abismo. Naquela manhã, Bert tinha visto a inquietante silhueta de um cavaleiro índio contemplando-os com uma imobilidade de pedra do cimo de um rochedo.
— Não tenhas receio — tinha dito Rainbow, o condutor da carreta onde Bert viajava. — Os índios estão tranquilos, depois da última tareia que o Exercito lhes pregou.
Bert voltou a deitar-se sobre o colchão. O ar estava extremamente quente e tao abafado que ele tinha que recorrer, com frequência, ao cantil que tinha pendurado sobre a sua cabeça. Os vaivéns da carreta, sobre o terreno, acidentado e desigual, faziam oscilar o cantil como um pendulo e quando não tinha outra coisa que contemplar, Bert ficava a ver o seu movimento, ate acabar, invariavelmente por adormecer.
A sede fazia-o despertar com uma agoniante sensação de asfixia.
Nao estava tao doente que nao pudesse levantar-se da cama, mas ao fim de três dias de marcha desde Yuma tinha verificado ser aquela a postura mais cómoda para viajar. La fora, ao lado do condutor, o sol ardente do deserto caia a prumo, fazendo-o enjoar. O pó que os cavalos levantavam, formava uma nuvem que o asfixiava...
Bert tinha voltado a adormecer, quando foi acordado por uma paragem brusca do carro e pelo grito de Rainbow:
— Soo, mula! Soo!
— É um homem— disse a voz de Brace Cornell, por detrás de Bert. — E parece ferido…
— Parece-me mais que está morto — disse Rainbow. — Segure-me nas rédeas, senhora Garner. Parece-me que de qualquer maneira teremos que acampar aqui...
As molas da carreta gemeram, ao se livrarem do peso do corpulento condutor. Michael Hogan, que guiava o segundo veículo, perguntou:
— Que aconteceu, Ted? Por que paramos?
Rainbow respondeu:
— Vem cá... Está aqui um homem ferido...
Bert levantou-se sobre um cotovelo, atento aos ruídos vindos do exterior.
— Grace! — chamou — Grace!
Uma mão feminina afastou as cortinas da frente do carro, e o rosto de Grace, esbranquiçado devido a poeira, assomou por entre as lonas.
— Que aconteceu?— perguntou Bert.
— Está um homem estendido no caminho — disse a jovem, muito excitada. — Não sabemos se está morto, ferido ou simplesmente desmaiado. Rainbow está a examiná-lo. — A jovem voltou a cara para fora e anunciou: — Parece que ainda está vivo. Rainbow esta a fazer sinais...
A voz áspera de Rainbow ouviu-se:
— Dá-me cá um cantil, Michael! Este homem está a delirar... Tem uma bala na espádua. Grace deixou escapar um pequeno grito. Bert disse:
— Vou descer, Grace.
Quando saltou do carro, Bert verificou que se encontrava à saída de um profundo desfiladeiro que tinham percorrido durante a manhã.
O caminho que as carretas percorriam estava situado entre a torrente pedregosa e a ladeira de um talude, entre cujos rochedos cresciam alguns pinheiros. O homem sobre o qual Rainbow estava inclinado devia ter rebolado por aquele talude e estava estendido quase no meio do caminho, mas estava de tal forma coberto de pó, que o condutor só o descobrira ao se encontrar muito perto dele.
Bert avisou Michael que se aproximava com o cantil:
— Não lhe deem ainda água.
Bert era médico e de tal maneira se achava familiarizado com a vista de sangue, que não fez o menor gesto de surpresa ao inclinar-se sobre o homem ferido. Procurou-lhe o pulso e disse:
— Perdeu muito sangue. Veja se o vira, Rainbow.
O condutor obedeceu.
— Rasgue a camisa, senhor Rainbow. Grace, fazes o favor, dás-me a minha maleta?
Rainbow puxou por um punhal. A camisa rasgada deixou ver a larga e bronzeada espádua do homem e nesta, o orifício sangrento aberto pela bala.
Herbert, depois de examinar a ferida, levantou os seus olhos para o sol.
— Teremos que trabalhar depressa, senão nao temos luz para extrair a bala— murmurou. A jovem tinha chegado com a maleta e Hogan continuava de pé com o cantil na mão.— Vai buscar uma manta, Grace. Você, Hogan, ajude o senhor Rainbow.
Grace chegou com uma manta e Hogan e Rainbow puseram o desconhecido em cima dela.
— Grace, põe água a ferver mal o senhor Hogan acender uma fogueira — ordenou o médico.
Hogan afastou-se e a rapariga também. Entretanto, Rainbow tirava ao ferido o pesado cinturão. Tirou a pistola do coldre. Era um «Colt», calibre 45, uma arma bastante antiga e ao que parecia, usada.
Rainbow, que era baixo e forte, mostrou o revólver ao doutor.
— Que aconteceu, senhor Rainbow?
— Vi já morrer muita gente, doutor e nao acredito que a este restem maiores invernos. Porque nao o deixamos esticar o pernil em paz?
— Pensa que o devíamos fazer, senhor Rainbow?
— Veja a sua pistola. Seis marcas na coronha. Sabe o que isso significa? Este revolver tirou, pelo menos, a vida a seis homens.
— E depois?
— Estou pronto a apostar que se trata de um «pistoleiro», reclamado pela justiça.
Herbert Garner contemplou largamente o ferido. Depois, o seu rosto pálido no qual as feici5es corretas pareciam talhadas sobre marfim, voltou--se para o carreteiro. Os seus olhos, verdes e inteligentes, cujo notável contraste com os seus cabelos negros e ondulados, tanto surpreendia Rainbow, brilharam.
— Senhor Rainbow — disse, delicado mas energicamente, com aquela sua correção que o qualificava como homem culto e tanto agradava aos seus carreteiros — só a Deus compete decidir sobre a vida de um homem. Eu não sou Deus, nem sequer um juiz. Sou apenas médico. De qualquer forma, tratarei deste homem. Fá-lo-ei, porque é meu dever, percebeu?
Esta forma clara e brilhante de expor qualquer assunto, era outra das características surpreendentes do médico. Rainbow encolheu os ombros e afastou-se.
— Não tenhas receio — tinha dito Rainbow, o condutor da carreta onde Bert viajava. — Os índios estão tranquilos, depois da última tareia que o Exercito lhes pregou.
Bert voltou a deitar-se sobre o colchão. O ar estava extremamente quente e tao abafado que ele tinha que recorrer, com frequência, ao cantil que tinha pendurado sobre a sua cabeça. Os vaivéns da carreta, sobre o terreno, acidentado e desigual, faziam oscilar o cantil como um pendulo e quando não tinha outra coisa que contemplar, Bert ficava a ver o seu movimento, ate acabar, invariavelmente por adormecer.
A sede fazia-o despertar com uma agoniante sensação de asfixia.
Nao estava tao doente que nao pudesse levantar-se da cama, mas ao fim de três dias de marcha desde Yuma tinha verificado ser aquela a postura mais cómoda para viajar. La fora, ao lado do condutor, o sol ardente do deserto caia a prumo, fazendo-o enjoar. O pó que os cavalos levantavam, formava uma nuvem que o asfixiava...
Bert tinha voltado a adormecer, quando foi acordado por uma paragem brusca do carro e pelo grito de Rainbow:
— Soo, mula! Soo!
— É um homem— disse a voz de Brace Cornell, por detrás de Bert. — E parece ferido…
— Parece-me mais que está morto — disse Rainbow. — Segure-me nas rédeas, senhora Garner. Parece-me que de qualquer maneira teremos que acampar aqui...
As molas da carreta gemeram, ao se livrarem do peso do corpulento condutor. Michael Hogan, que guiava o segundo veículo, perguntou:
— Que aconteceu, Ted? Por que paramos?
Rainbow respondeu:
— Vem cá... Está aqui um homem ferido...
Bert levantou-se sobre um cotovelo, atento aos ruídos vindos do exterior.
— Grace! — chamou — Grace!
Uma mão feminina afastou as cortinas da frente do carro, e o rosto de Grace, esbranquiçado devido a poeira, assomou por entre as lonas.
— Que aconteceu?— perguntou Bert.
— Está um homem estendido no caminho — disse a jovem, muito excitada. — Não sabemos se está morto, ferido ou simplesmente desmaiado. Rainbow está a examiná-lo. — A jovem voltou a cara para fora e anunciou: — Parece que ainda está vivo. Rainbow esta a fazer sinais...
A voz áspera de Rainbow ouviu-se:
— Dá-me cá um cantil, Michael! Este homem está a delirar... Tem uma bala na espádua. Grace deixou escapar um pequeno grito. Bert disse:
— Vou descer, Grace.
Quando saltou do carro, Bert verificou que se encontrava à saída de um profundo desfiladeiro que tinham percorrido durante a manhã.
O caminho que as carretas percorriam estava situado entre a torrente pedregosa e a ladeira de um talude, entre cujos rochedos cresciam alguns pinheiros. O homem sobre o qual Rainbow estava inclinado devia ter rebolado por aquele talude e estava estendido quase no meio do caminho, mas estava de tal forma coberto de pó, que o condutor só o descobrira ao se encontrar muito perto dele.
Bert avisou Michael que se aproximava com o cantil:
— Não lhe deem ainda água.
Bert era médico e de tal maneira se achava familiarizado com a vista de sangue, que não fez o menor gesto de surpresa ao inclinar-se sobre o homem ferido. Procurou-lhe o pulso e disse:
— Perdeu muito sangue. Veja se o vira, Rainbow.
O condutor obedeceu.
— Rasgue a camisa, senhor Rainbow. Grace, fazes o favor, dás-me a minha maleta?
Rainbow puxou por um punhal. A camisa rasgada deixou ver a larga e bronzeada espádua do homem e nesta, o orifício sangrento aberto pela bala.
Herbert, depois de examinar a ferida, levantou os seus olhos para o sol.
— Teremos que trabalhar depressa, senão nao temos luz para extrair a bala— murmurou. A jovem tinha chegado com a maleta e Hogan continuava de pé com o cantil na mão.— Vai buscar uma manta, Grace. Você, Hogan, ajude o senhor Rainbow.
Grace chegou com uma manta e Hogan e Rainbow puseram o desconhecido em cima dela.
— Grace, põe água a ferver mal o senhor Hogan acender uma fogueira — ordenou o médico.
Hogan afastou-se e a rapariga também. Entretanto, Rainbow tirava ao ferido o pesado cinturão. Tirou a pistola do coldre. Era um «Colt», calibre 45, uma arma bastante antiga e ao que parecia, usada.
Rainbow, que era baixo e forte, mostrou o revólver ao doutor.
— Que aconteceu, senhor Rainbow?
— Vi já morrer muita gente, doutor e nao acredito que a este restem maiores invernos. Porque nao o deixamos esticar o pernil em paz?
— Pensa que o devíamos fazer, senhor Rainbow?
— Veja a sua pistola. Seis marcas na coronha. Sabe o que isso significa? Este revolver tirou, pelo menos, a vida a seis homens.
— E depois?
— Estou pronto a apostar que se trata de um «pistoleiro», reclamado pela justiça.
Herbert Garner contemplou largamente o ferido. Depois, o seu rosto pálido no qual as feici5es corretas pareciam talhadas sobre marfim, voltou--se para o carreteiro. Os seus olhos, verdes e inteligentes, cujo notável contraste com os seus cabelos negros e ondulados, tanto surpreendia Rainbow, brilharam.
— Senhor Rainbow — disse, delicado mas energicamente, com aquela sua correção que o qualificava como homem culto e tanto agradava aos seus carreteiros — só a Deus compete decidir sobre a vida de um homem. Eu não sou Deus, nem sequer um juiz. Sou apenas médico. De qualquer forma, tratarei deste homem. Fá-lo-ei, porque é meu dever, percebeu?
Esta forma clara e brilhante de expor qualquer assunto, era outra das características surpreendentes do médico. Rainbow encolheu os ombros e afastou-se.
Comentários
Postar um comentário