PAS406. Em defesa de uma mulher

Rindo-se fortemente, os dois homens encaminharam-se para o armazém. A sua confiança e sentido de segurança eram evidentes. Nem se tinham incomodado a olhar para Yancey.
Este acabou de enrolar o cigarro e acendeu-o calmamente, dando uma boa fumaça e dirigindo-se para o armazém. Dez metros antes de chegar à porta já ouvia vozes encolerizadas. Era a de Winfield a que se escutava mais facilmente.
— Vocês não passam de uns malditos pistoleiro Mas a mim não conseguem abalar-me.
— Você está a falar muito alto, Winfield, porque tem a sua filha a seu lado. — Era Clem quem falava. — Mas se é homem saia para a rua a fim de resolver esta questão.
— Não trago revólver...
— Isso arranja-se já. Jack, empresta-lhe um dos seus.
— Não vás, pai — atalhou a filha. — Maxwell enviou estes dois matadores para te assassinarem, mas não se sairão com a sua...
Clem atalhou insolentemente:
— Ouça, rapariga. Não me agradam os insultos. Se for preciso dar-lhe uma bofetada para o cobarde do seu pai se portar como um homem, não hesitarei e fazer isso.
— Bandido!
 Soou algo como um choque seco, seguido de um grito angustiado de mulher. Lee estava já junto à porta. Chegou a ela numa passada e bastou-lhe um olhar para se inteirar da situação.
No armazém havia talvez umas vinte pessoas, na sua maioria mulheres. Toda a gente, à exceção de cinco pessoas tinha corrido para a parte de trás e observava a cena com apreensão. Radison, pálido e carrancudo, estava atrás do balcão com as mãos apoiadas no mesmo. Na sua frente e quase de costas para a porta, os três homens de Maxwell enfrentavam Winfield e a filha. O primeiro devia ter recebido um golpe na cabeça, pois estava quase caído sobre o balcão e o sangue corria-lhe pela cara. A jovem aguentava-o de pé, enquanto afrontava, pálida, assustada, mas em atitude reptadora, os agressores. Clem empunhava um revólver com a mão direita, sem dúvida a arma com que tinha agredido Winfield.
No preciso instante em que Lee chegava à porta, o mineiro soltou-se da filha e fez um gesto para se atirar ao seu agressor. A rapariga tentou impedi-lo, mas um dos outros meliantes agarrou-a rudemente, separando-a do pai. E Clem levantou ide novo o revólver com intenção de tornar a bater...
O estalido seco de um tiro fez que todas as testemunhas da cena reparassem na nova personagem. O revólver voou da mão de Ciem para o balcão e de ali caiu no chão, do outro lado. O homem proferiu uma praga e voltou-se rapidamente, segurando a mão entumecida. Também os seus companheiros se voltaram levando a mãos às armas... mas imobilizaram-se, olhando o fumegante cano do comprido revólver que lhes estava a ser apontado e o rosto severo de quem o empunhava.
No meio do súbito silêncio, Lee entrou no armazém e encostou-se à parede, ao lado da porta.
— Na terra de onde sou, insultar e ofender uma mulher é negócio de cobardes. As feições dos três pistoleiros tingiram-se de vermelho. Clem falou por eles.
— Maldito sejas! Quem te mandou meter onde não és chamado?
— Ontem, mal aqui cheguei, assisti a um cobarde assassínio. Dois é já demasiado. Deitem os revólveres para o chão. Depressa!
Os três homens trocaram rápidos olhares. E quanto Clem principiava um gesto que parecia natural o companheiro a quem quase tapava puxou rapidamente do revólver, não para o atirar para o chão, mas para o apontar à barriga de Yancey.
Não teve tempo de apertar o gatilho. Lee disparou e a sua bala destroçou a mão e o pulso do pistoleiro arrebatando-lhe a arma. O homem deu um grito e caiu ao chão, de joelhos, meio desmaiado pela dor.
— Mãos no ar! Depressa!
Clem e o outro não tinham esperado por aquele desfecho. Pálidos, praguejando entre dentes, obedeceram. Lee tornou a falar, desta vez para Winfield que, como os restantes, contemplava aturdido a sua intervenção.
— Reviste-os, Winfield.
No meio de impressionante silêncio, o mineiro obedeceu. Lee avançou então, vagarosamente, e enfrentou-se com Clem. O seu olhar fixou-se no do pistoleiro. Depois, deliberadamente lento, levantou a mão esquerda e esbofeteou-o duas vezes.
O pistoleiro rangeu os dentes e disse um palavrão. A voz fria e cortante ide Lee interrompeu-o.
— És um nojento e cobarde, um assassino de más entranhas. Não me agrada a tua cara. Pega num desses revólveres e salta para a rua. Vou matar-te.
Nenhum dos presentes esperava tal atitude. Clem menos do que ninguém. Passou a língua pelos lábios secas e nos seus olhos apareceu o temor.
-- Não posso mover a mão — resmungou. — O que pretendes é o que se chama um assassínio.
— Winfield não trazia armas quando o insultaste na presença da filha. E acompanhavam-te mais dois. Também o mineiro ferido, esse a quem Macklin liquidou ontem na rua a sangue-frio, não tinha qualquer arma. Agora sou eu que tenho vontade de matar alguém. A ti mesmo. Sai para a rua. Podes manejar a arma com a mão esquerda. Vamos.
O silêncio podia cortar-se faca. Ciem estava branco como a cera e não podia afastar o olhar dos frios olhos do seu implacável inimigo. Era um homem acostumado a jogar a vida entre dois tiros e possuía coragem, mas não era o mesmo lutar em condições de igualdade, ou sabendo-se superior ao adversário, do que fazê-lo assim a sangue-frio, sabendo que estava irremediavelmente perdido.
Tentou procurar ajuda. Mas um dos companheiros estava pronto, com uma das mãos desfeita. E o outro, desarmado como ele, nada podia fazer. Leo agarrou-o pelo colarinho e fê-lo rodar, enviando-o com um empurrão para a porta da rua. Depois seguiu atrás dele. Clem principiou a retroceder de costas, encolhido. Saiu assim para a rua, cheia de sol. O medo de morrer lutava dentro de si com o ódio e o desejo de lutar virilmente. Postado na soleira da porta, Lee viu o que se passava e um sorriso duro entreabriu-lhe os lábios. Lentamente, levantou a arma até à cara do aterrorizado pistoleiro.
— Há uma maneira de falar com os cães danados — disse devagar. — Dá-se-lhes um tiro na cabeça...
Uma mão pequena mas firme tocou-lhe no ombro. E a voz de May Winfield soou, rouca e alterada, aos seus ouvidos:
— Por favor! Seria outro assassínio!
Lee fitou-a. Depois concordou com a cabeça. E encarou de novo com o pistoleiro.
— Isto salva-te, Clem. A diferença entre um homem e um assassino a soldo. Pega no cavalo e não voltes a Westcliffe. Se voltares, traz o revólver engatilhado, mas então não escaparás com vida.
O pistoleiro percebeu que estava salvo e endireitou--se. A humilhação fez-lhe saltar lampejos de ódio aos olhos. Mas o receio não tinha ainda desaparecido por completo.
Os outros dois e o ferido, apoiando-se no que estava são, saíram para a rua, olhando de soslaio para o homem que os vencera. Lá fora, muita gente assistia a tão insólita cena. Winfield, ainda aturdido e carregado com o arsenal apreendido aos pistoleiros, também saiu e preparava-se para falar, mas Lee impediu-o, ordenando:
— É melhor ir buscar as espingardas aos cavalos. Os bandidos podem ter alguma má ideia...
Winfield concordou o dirigiu-se aos cavalos, depois de meter os revólveres nas algibeiras. Jake tinha tirado o lenço ido pescoço e vendava com ele a mão e o pulso do seu abatido companheiro. Clem pôs-se a ajudá-lo silenciosamente.
Quando Winfield regressou com as espingardas, Lee ordenou-lhes:
— E agora, ponham-se a andar.
Os três homens não refilaram e ajudaram o ferido a subir para o cavalo, montaram nos seus e dirigiram--se para o ribeiro. Ao passarem em frente do grupo parado diante do armazém, Jake ameaçou:
— Voltaremos à tua procura, forasteiro.
— Bem. Aqui estarei.
Depois de os homens se afastarem, Winfield e a filha olharam para o seu salvador.
— Você arriscou a vida por nossa causa, Kane — disse Winfield. — Foi um grande gesto mas incompreensível. Ontem...
-- Deixemos isso... Não gosto de assassínios a frio e muita menos que se ofenda uma mulher.
— Tenho de lhe apresentar as minhas desculpas, senhor. — A cara de May Winfield estava corada e os olhos brilhantes. — Pela sua coragem e por ter feito caso do meu pedido. Muito obrigada.

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