PAS409. Um homem marcado diz adeus
Eram três horas. E quem não dormia a sesta ou a borracheira estava abrigado no fresco interior das casas. Um vento quente como o fogo varria a pulverulenta rua principal, erguendo redemoinhos de pó. Tinham sido retirados os cadáveres que esperavam a hora do enterro na casa do antigo médico. Os enforcados dependurados continuavam. Um ou outro cão vadio caminhava à procura de uma sombra melhor. O armazém encontrava-se com todas as portas e janelas abertas e com muitos géneros espalhados pelo passeio e pela rua. A maior parte tinha sido sequestrada em proveito próprio, no uso do direito do vencedor.
Gordon, o dono da cavalariça, dormitava sentado numa velha cadeira debaixo do alpendre. Estava satisfeito. Os acontecimentos tinham acabado em bem para a cidade e para os seus habitantes honrados e pacíficos, graças à atuação desse homem extraordinário chamado Lee Yancev. Podia ser um proscrito, um foragido… Mas o dono da cavalariça sabia que em Westcliffe nunca lhe faltariam amigos, fizesse daí em diante o que fizesse. O som de uns passos despertou-o. Ficou a olhar a alta figura de aspeto cansado que se acercava e, quando a teve à sua frente, comentou:
— Não faz demasiado calor para andar a passear, senhor Yancey?
Lee concordou. Levava o braço esquerdo ao peito e roupas novas e limpas. O chapéu era também novo. Aquilo, algumas camisas e mudas de roupa constituíam a sua parte na pilhagem. — Faz bastante calor, sim. Gordon reparou então que lhe faltava alguma coisa.
— Que fez da sua estrela, xerife?
— Aqui a tem. Pode devolvê-la ao, presidente da Câmara.
Gordon levantou-se, pegou na insígnia e olhou fixamente para o seu interlocutor.
— Isso significa que nos vai deixar?
— Exatamente. Aqui já fiz o meu trabalho e -tenho de continuar o meu caminho. Quer ajudar-me a selar o cavalo? Gostava de estar longe quando dessem pela minha ausência.
Gordon nada disse e afastou-se para junto do baio. Depois de selado o animal, Lee montou agilmente e estendeu a mão sã ao outro homem.
— Bem, Gordon. Gostei de o ter conhecido.
— Também, eu, Yancey. E se algum dia necessitar de um refúgio seguro, venha a Westcliffe. Deixou aqui amigos.
— Alegro-me. Adeus.
Conduziu o cavalo para a saída e tornou a olhar para o dono da cavalariça.
— Quero pedir-lhe um favor, Gordon. Se vir «miss» Maxwell diga-lhe...
— Creio que será melhor dizer-lhe o, senhor. Aí a tem.
Lee voltou-se rapidamente, empalidecendo.
Reina Maxwell aproximava-se pelo passeio. Parou quando reparou que ele a tinha visto. E depois recomeçou a andar mais vagarosamente.
Ele tinha ficado rígido sabre a sela. A rapariga chegou a seu lado, pôs-lhe uma das mãos sobre a coxa varonil, erguendo o rosto. Estava muito pálida, tremiam-lhe os lábios e havia nos seus formosos olhos profundidades insondáveis.
Reinou o silêncio durante um longo espaço de tempo. Gordon contemplava interessado a cena. Depois, ela falou:
— Ias-te embora sem me prevenir?
— Sou um proscrito, Reina. Um homem marcado. E a sua voz varonil estava enrouquecida e nervosa.
— Continuas a ser o homem a quem tanto lhe faz morrer como viver?
— Bem sabes que não.
— Aonde vais agora?
— Não sei. A qualquer parte onde... possa acariciar um sonho. Um sonho muito formoso e impossível.
— Esperar-te-ei.
— Não faças isso. Talvez não volte.
— Voltarás. E eu esperarei. Não te esqueças, Lee Yancey. Passe o tempo que passar. E agora vai-te embora.
Ele inclinou-se, pegou-lhe na mão e levou-a aos lábios. Depois fitou-a no fundo dos olhos. E soube que ela não falara apenas por falar.
Com um profundo suspiro, disse:
— Obrigado, Reina. Acredita que voltarei.
A seguir picou de esporas saindo para a rua. E foi-se perdendo ao longe, enquanto a mulher, de pé e no meio do passeio, o via desaparecer com os olhos marejados de lágrimas.
Gordon fez meia volta e foi coxeando encher o seu velho cachimbo. Era um fatalista. E agora estava firmemente convencido de que não morreria sem ver cavalgar por aquela rua os filhos de Yancey, o proscrito, e de Reina Maxwell, a rainha do West Mountain Valley, a rapariga mais formosa de todo o Colorado do Sul...
Gordon, o dono da cavalariça, dormitava sentado numa velha cadeira debaixo do alpendre. Estava satisfeito. Os acontecimentos tinham acabado em bem para a cidade e para os seus habitantes honrados e pacíficos, graças à atuação desse homem extraordinário chamado Lee Yancev. Podia ser um proscrito, um foragido… Mas o dono da cavalariça sabia que em Westcliffe nunca lhe faltariam amigos, fizesse daí em diante o que fizesse. O som de uns passos despertou-o. Ficou a olhar a alta figura de aspeto cansado que se acercava e, quando a teve à sua frente, comentou:
— Não faz demasiado calor para andar a passear, senhor Yancey?
Lee concordou. Levava o braço esquerdo ao peito e roupas novas e limpas. O chapéu era também novo. Aquilo, algumas camisas e mudas de roupa constituíam a sua parte na pilhagem. — Faz bastante calor, sim. Gordon reparou então que lhe faltava alguma coisa.
— Que fez da sua estrela, xerife?
— Aqui a tem. Pode devolvê-la ao, presidente da Câmara.
Gordon levantou-se, pegou na insígnia e olhou fixamente para o seu interlocutor.
— Isso significa que nos vai deixar?
— Exatamente. Aqui já fiz o meu trabalho e -tenho de continuar o meu caminho. Quer ajudar-me a selar o cavalo? Gostava de estar longe quando dessem pela minha ausência.
Gordon nada disse e afastou-se para junto do baio. Depois de selado o animal, Lee montou agilmente e estendeu a mão sã ao outro homem.
— Bem, Gordon. Gostei de o ter conhecido.
— Também, eu, Yancey. E se algum dia necessitar de um refúgio seguro, venha a Westcliffe. Deixou aqui amigos.
— Alegro-me. Adeus.
Conduziu o cavalo para a saída e tornou a olhar para o dono da cavalariça.
— Quero pedir-lhe um favor, Gordon. Se vir «miss» Maxwell diga-lhe...
— Creio que será melhor dizer-lhe o, senhor. Aí a tem.
Lee voltou-se rapidamente, empalidecendo.
Reina Maxwell aproximava-se pelo passeio. Parou quando reparou que ele a tinha visto. E depois recomeçou a andar mais vagarosamente.
Ele tinha ficado rígido sabre a sela. A rapariga chegou a seu lado, pôs-lhe uma das mãos sobre a coxa varonil, erguendo o rosto. Estava muito pálida, tremiam-lhe os lábios e havia nos seus formosos olhos profundidades insondáveis.
Reinou o silêncio durante um longo espaço de tempo. Gordon contemplava interessado a cena. Depois, ela falou:
— Ias-te embora sem me prevenir?
— Sou um proscrito, Reina. Um homem marcado. E a sua voz varonil estava enrouquecida e nervosa.
— Continuas a ser o homem a quem tanto lhe faz morrer como viver?
— Bem sabes que não.
— Aonde vais agora?
— Não sei. A qualquer parte onde... possa acariciar um sonho. Um sonho muito formoso e impossível.
— Esperar-te-ei.
— Não faças isso. Talvez não volte.
— Voltarás. E eu esperarei. Não te esqueças, Lee Yancey. Passe o tempo que passar. E agora vai-te embora.
Ele inclinou-se, pegou-lhe na mão e levou-a aos lábios. Depois fitou-a no fundo dos olhos. E soube que ela não falara apenas por falar.
Com um profundo suspiro, disse:
— Obrigado, Reina. Acredita que voltarei.
A seguir picou de esporas saindo para a rua. E foi-se perdendo ao longe, enquanto a mulher, de pé e no meio do passeio, o via desaparecer com os olhos marejados de lágrimas.
Gordon fez meia volta e foi coxeando encher o seu velho cachimbo. Era um fatalista. E agora estava firmemente convencido de que não morreria sem ver cavalgar por aquela rua os filhos de Yancey, o proscrito, e de Reina Maxwell, a rainha do West Mountain Valley, a rapariga mais formosa de todo o Colorado do Sul...
Comentários
Postar um comentário