PAS432. Desejos de vingança

Harry Berle foi enterrado no dia seguinte, na propriedade dos Lasky. Jesse tinha enviado um carro e certo número de rapazes para levarem o cadáver.
Moyland, o trabalhador companheiro do morto, foi encarregado de encher de terra a tumba do amigo, enquanto os outros, com as vozes roucas de emoção e com os rostos lúgubres, cantavam um hino.
Acabado o ato piedoso, Jesse Lasky e os seus homens iniciaram o regresso ao rancho. A silenciosa cavalgada avançava agora, indo cada um dos componentes entregue aos seus próprios pensamentos, embora os sentimentos fossem idênticos e compartilhados por todos.
À cabeça do grupo, Jesse Lasky, com as frias pupilas iluminadas por um brilho estranho, conduzia o «Bailarino» maquinalmente. Mal dava conta do caminho que percorria. Foi a voz do que seguia a seu lado, precisamente Moyland, que o fez voltar à realidade.
O vaqueiro, amigo do morto que acabavam de enterrar, havia exclamado:
— A isso chamo eu ter valor. Olhe quem vem aí, patrão! Que me enforquem se não é a filha de Patterson em pessoa!
O vaqueiro não se enganava.

Klondy Patterson acabava de surgir de um bosquezinho de álamos e corria para eles. Quando chegou em frente de Jesse, deteve o seu potro a tempo de ouvir o que lhe diziam:
— Não se terá equivocado no caminho? Por aqui vai-se em linha recta para o rancho de Lasky.
Os olhos da jovem, cravados nos de Jesse, tinham uma expressão suplicante e estavam húmidos.
— Vim para lhe dizer que lamento, muito o que aconteceu com Harry Berle. Contei a meu pai o acontecido mas temo que não o tome em consideração. Segundo ele um homem como Budd Holt é necessário a um negócio como o nosso. Disse que os rapazes o entendem e que não obedeceriam a nenhum outro como ao capataz.
— O que esses rapazes entendem — replicou Jesse mordaz, — é a linguagem dos revólveres. De qualquer forma, um milhão de agradecimentos por ter falado com seu pai acerca disto, minha senhora. Foi excessivamente amável.
— Apenas queria que soubesse, e ao mesmo tempo ficar eu também, convencida de que meu pai nada teve que ver com o assunto.
— Não, tem mais nada a dizer-me, minha senhora?
E no tom de Jesse Lasky adivinhou que a sua presença não era desejável naquele momento.
— Não. Nada mais — respondeu fazendo caracolear o seu potro. — Bons dias, senhor Lasky.
E com as pupilas mais húmidas que nunca por algo que ninguém soube adivinhar, deu meia volta e esporeou a sua montada.
Todos os olhares a seguiram no seu caminho e viram-na vacilar e perder velocidade à medida que se aproximava da campa de Harry Berle, mas, em seguida, estimulando de novo a sua montada, arrancou em galope furioso. Jesse Lasky continuou com a sua equipa. Mas quando chegou à vista do rancho...
— Dooley — ordenou ao seu capataz — siga com os rapazes e esperem-me todos no rancho. Que ninguém se mexa enquanto eu não chegar.
Bruce Dooley, o incondicional capataz dos Lasky, pestanejou ao ouvir aquelas palavras.
— Posso saber aonde vai, patrão? — perguntou com certa ansiedade.
— Vou simplesmente caçar um abutre chamado Budd Holt — respondeu o jovem. — Agora já sei que despachou Harry Berle por conta própria e eu tenho de saldar essa dívida.
— Não seria melhor que alguns de nós o acompanhássemos, patrão? — sugeriu o capataz, desejando ardentemente o que pedia.
Jesse Lasky esboçou um estranho sorriso.
— Não, Dooley — respondeu. — Para isso basto eu. Repare que eu não disse que o vou matar. Esse encargo fica para Moyland.
O vaqueiro mencionado ouviu aquelas palavras e declarou:
— Obrigado, patrão. Não viveria tranquilo se não fosse eu a acabar com o ascoroso assassino do meu companheiro Harry. Cace-o e deixe o resto comigo.
— É o que eu penso fazer, Moyland... Bom! Separo-me aqui de vocês. Em breve terão notícias minhas. Até à vista.

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