PAS443. Encontro junto ao ulmeiro
Um pouco afastado dos cowboys, sentado sobre uma pedra lisa à sombra de um ulmeiro, Lexington fumava placidamente depois de satisfazer a fome, quando percebeu o som duns passos leves que o fizeram voltar-se vivamente.
Gail aproximava-se sorridente, com as faces avermelhadas, e parecia um adorável céu, pois vestia calças de vaqueiro azuis com grandes voltas claras, e uma ligeira blusa que, ainda molhada, assinalava sedutoramente o busto delicioso, alto e pontiagudo.
— Parecia que se encontrava muito agradável sozinho e não sei se vim molestá-lo — disse ao chegar a seu lado, olhando-o de um modo que alterou as pulsações do pistoleiro.
— De modo algum! — protestou, com tal violência que resultou suficientemente satisfatória para a rapariga no caso que efetivamente tivesse tido os temores que manifestava. — Quem é que ouviu dizer alguma vez que as jovens bonitas podem molestar?
Ela baixou o olhar dos seus olhos verdes com alguma perturbação, e tentou dissimulá-lo sentando-se na pedra. Lex sentou-se então no chão, a seus pés.
— Aprendeu esses bonitos cumprimentos enquanto servia na Polícia Montada? — perguntou sem olhá-lo, brincando com um ramo.
— Francamente, não — respondeu ele, sorrindo. A região dos pele-vermelhas não é o lugar mais apropriado para experiências dessa natureza. A maioria das mulheres que conheci ali eram índias, e, de qualquer modo, não penso que tenham sabido apreciar os meus galanteios.
Gail riu alegremente com a saída.
— Deve ter levado uma vida muito interessante. Realmente você é-o, e também esses homens que o esperam no rancho.
— Sem dúvida deverei agradecer ao velho linguareiro que tem estado falando de mim. O mau será que se sinta defraudada quando perceba que exagerou muito e que eu não sou mais que um homem como outro qualquer.
— Um homem como qualquer outro que deixou a sua pátria e lar para correr a sua aventura no ultramar, pelas selvagens e inóspitas terras do Canadá. Que permaneceu durante anos na legendária Polícia Montada e, depois, ao licenciar-se se dedicou ao fascinante trabalho de caçar cavalos selvagens? Que fundou um rancho em pleno território índio e o defende quase só contra a inimizade de muitos? Que...?
Lex levantou a mão interrompendo-a.
— Por favor — protestou. — Acabará fazendo-me ruborizar como um colegial.
— Acaso não é verdade?
— Prefiro que falemos doutra coisa. Falar de si deve ser muito mais interessante.
— Engana-se. Nós fomos sempre rancheiros. Primeiro em Kansas e, depois, quando outros ganadeiros desonestos arruinaram essa riqueza naquele Estado, viemos mais para o norte. Meu pai e meu tio, que se tinham unido, tinham ideias diferentes sobre o modo de dirigir um rancho, pelo que o papá decidiu separar-se antes que houvesse desgostos. Isso é tudo e a razão por que estamos aqui.
— Teve você uma infância e passa agora uma juventude deslumbrante. Com certeza há algum rapaz em alguma parte que virá buscá-la algum dia.
Gail olhou-o, com a sua linda cabeça ligeiramente inclinada, e cheios de picardia os movimentos dos olhos.
— Isso, mais que uma pergunta casual, parece-me uma armadilha encoberta para sacar-me confidências.
Lex levantou a cabeça e riu alegremente.
— Tocado — reconheceu.
Ela parou o seu riso ao mesmo tempo que sacudia a cabeça negativamente.
Ao sentar-se à sombra da árvore tinha deixado cair para as costas um amplo chapéu de copa plana, e os lindos cabelos acobreados caíram-lhe sobre os ombros numa brilhante cascata de pesadas ondas. Estava verdadeiramente deliciosa.
— Pois, não, senhor curioso— disse por fim. — Não há nenhum rapaz em nenhuma parte. Até agora pelo menos.
— É incrível, mas alegro-me muito com isso.
Gail interpôs a cortina das compridas pestanas para que ele não visse a perturbação que lhe provocaram as suas palavras.
Durante um grande momento guardaram silêncio, disfrutando da frescura e da paz daquele lugar, assim como da sua companhia.
Sobre um tronco caído, a não muita distância donde se encontrava o par, uma pega e um esquilo corriam para cima dum ramo de uvas silvestres, e um pássaro deixava ouvir o seu cântico profundo na solidão.
A oeste havia uma cordilheira de colinas que se elevava dos prados, mas para o norte, o este e o sul, a planície estendia-se sem interrupção. Açoitada pelos vendavais do inverno e queimada pelo ardente sol dos grandes verões a região era selvagem e solitária, e por ela guerreavam todos os Sioux, os bandos de Assiniboines nómadas, os Cheyennes, do norte, os Chippewas e outros, todos eles caçando as manadas de búfalos que constituíam a base da sua alimentação. Na região mais para além do Missouri, os rostos pálidos significavam ainda muito pouco. Caçadores, ovelheiros, criadores de cavalos e os inevitáveis traficantes de whisky, mas tão espaçados e escassos que, se não se conhecesse exatamente a sua localização, seria possível percorrer aquelas imensas planícies durante meses inteiros sem tropeçar com nenhum.
Os gritos dos vaqueiros e o grave mugir das reses advertiu os jovens de que tinha passado bastante tempo e a grande manada ia começar o seu caminho.
Harley pôs-se em pé estendendo as mãos para a rapariga que aceitou a sua ajuda.
Mas quando ela se levantou e ficou tão próxima que quase o roçava, o cálido contacto das finas mãozinhas que as suas aprisionavam, e o brilho daqueles olhos que o obcecavam, fizeram-lhe esquecer tudo que não fosse a paixão que nascia brusca, avassaladora, enlouquecedora.
O acariciante murmúrio do rio próximo, o leve sussurro do ar entre as folhas e os sons que chegavam desde a manada que começava a pôr-se em marcha, foram diminuindo até desvanecerem-se em nada. Lex sentia corno se tudo se esfumasse, como se fosse irreal tudo quanto o rodeava, e perdia a vontade, irresistivelmente atraído pelo brilho daqueles olhos. Foi-se inclinando, lentamente, cada vez mais próximos os seus lábios dos dela, ternos, meigos e apetitosos, cuja deliciosa curvatura deixava antever o brilho nacarado dos seus dentes brancos e iguais.
Na realidade e, por um momento, os dois jovens esqueceram tudo que não fosse eles mesmos, e devorando-se com o olhar, sentiam a ânsia de cair um nos braços do outro, e quase o estavam a fazer, quando os sobressaltou o estampido dum disparo. Não era nada...
Um vaqueiro assustava algumas reses levando-as a unir-se ao resto da manada, já em movimento, mas isto bastou para romper aquele momento. Harley foi o primeiro a reagir, e soltando a rapariga meteu as mãos nas calças e sem saber para onde olhar.
— Eu ... Que lhe parece se nos adiantássemos à manada? Não é necessária a minha ajuda e po-deríamos cavalgar livremente.
Ela tinha as faces coradas, mas também fez o possível por dissimular a sua perturbação.
— Oh, encantar-me-ia! — murmurou voltando-se para dirigir-se para o lugar onde a esperava o seu cavalo.
Tinham ficado sós, porque também os carros caminhavam pela planície, muito adiante das reses, e Lex ajudou-a a montar, assobiando a «Dove», o grande garanhão branco que acudiu como um cão.
Gail não o esperou, pois necessitava duns instantes para recuperar-se da profunda emoção passada, e deixando nas suas costas o bonito caçador de cavalos que montava, afastou-se trotando em direção aos carros que já estavam longe.
Em todos os nervos do seu corpo vibravam sensações nunca experimentadas. Era quase uma mudança física que escapava ao controle da sua vontade. A visita que fizera parecia-lhe surpreendentemente longe, como se as últimas horas passadas a tivessem transportado a uma nova existência expressada só em fins de primavera e amanhecer... Era talvez o amor? Podia sê-lo aquela força irresistível que agitava o seu jovem peito palpitante?
Gail aproximava-se sorridente, com as faces avermelhadas, e parecia um adorável céu, pois vestia calças de vaqueiro azuis com grandes voltas claras, e uma ligeira blusa que, ainda molhada, assinalava sedutoramente o busto delicioso, alto e pontiagudo.
— Parecia que se encontrava muito agradável sozinho e não sei se vim molestá-lo — disse ao chegar a seu lado, olhando-o de um modo que alterou as pulsações do pistoleiro.
— De modo algum! — protestou, com tal violência que resultou suficientemente satisfatória para a rapariga no caso que efetivamente tivesse tido os temores que manifestava. — Quem é que ouviu dizer alguma vez que as jovens bonitas podem molestar?
Ela baixou o olhar dos seus olhos verdes com alguma perturbação, e tentou dissimulá-lo sentando-se na pedra. Lex sentou-se então no chão, a seus pés.
— Aprendeu esses bonitos cumprimentos enquanto servia na Polícia Montada? — perguntou sem olhá-lo, brincando com um ramo.
— Francamente, não — respondeu ele, sorrindo. A região dos pele-vermelhas não é o lugar mais apropriado para experiências dessa natureza. A maioria das mulheres que conheci ali eram índias, e, de qualquer modo, não penso que tenham sabido apreciar os meus galanteios.
Gail riu alegremente com a saída.
— Deve ter levado uma vida muito interessante. Realmente você é-o, e também esses homens que o esperam no rancho.
— Sem dúvida deverei agradecer ao velho linguareiro que tem estado falando de mim. O mau será que se sinta defraudada quando perceba que exagerou muito e que eu não sou mais que um homem como outro qualquer.
— Um homem como qualquer outro que deixou a sua pátria e lar para correr a sua aventura no ultramar, pelas selvagens e inóspitas terras do Canadá. Que permaneceu durante anos na legendária Polícia Montada e, depois, ao licenciar-se se dedicou ao fascinante trabalho de caçar cavalos selvagens? Que fundou um rancho em pleno território índio e o defende quase só contra a inimizade de muitos? Que...?
Lex levantou a mão interrompendo-a.
— Por favor — protestou. — Acabará fazendo-me ruborizar como um colegial.
— Acaso não é verdade?
— Prefiro que falemos doutra coisa. Falar de si deve ser muito mais interessante.
— Engana-se. Nós fomos sempre rancheiros. Primeiro em Kansas e, depois, quando outros ganadeiros desonestos arruinaram essa riqueza naquele Estado, viemos mais para o norte. Meu pai e meu tio, que se tinham unido, tinham ideias diferentes sobre o modo de dirigir um rancho, pelo que o papá decidiu separar-se antes que houvesse desgostos. Isso é tudo e a razão por que estamos aqui.
— Teve você uma infância e passa agora uma juventude deslumbrante. Com certeza há algum rapaz em alguma parte que virá buscá-la algum dia.
Gail olhou-o, com a sua linda cabeça ligeiramente inclinada, e cheios de picardia os movimentos dos olhos.
— Isso, mais que uma pergunta casual, parece-me uma armadilha encoberta para sacar-me confidências.
Lex levantou a cabeça e riu alegremente.
— Tocado — reconheceu.
Ela parou o seu riso ao mesmo tempo que sacudia a cabeça negativamente.
Ao sentar-se à sombra da árvore tinha deixado cair para as costas um amplo chapéu de copa plana, e os lindos cabelos acobreados caíram-lhe sobre os ombros numa brilhante cascata de pesadas ondas. Estava verdadeiramente deliciosa.
— Pois, não, senhor curioso— disse por fim. — Não há nenhum rapaz em nenhuma parte. Até agora pelo menos.
— É incrível, mas alegro-me muito com isso.
Gail interpôs a cortina das compridas pestanas para que ele não visse a perturbação que lhe provocaram as suas palavras.
Durante um grande momento guardaram silêncio, disfrutando da frescura e da paz daquele lugar, assim como da sua companhia.
Sobre um tronco caído, a não muita distância donde se encontrava o par, uma pega e um esquilo corriam para cima dum ramo de uvas silvestres, e um pássaro deixava ouvir o seu cântico profundo na solidão.
A oeste havia uma cordilheira de colinas que se elevava dos prados, mas para o norte, o este e o sul, a planície estendia-se sem interrupção. Açoitada pelos vendavais do inverno e queimada pelo ardente sol dos grandes verões a região era selvagem e solitária, e por ela guerreavam todos os Sioux, os bandos de Assiniboines nómadas, os Cheyennes, do norte, os Chippewas e outros, todos eles caçando as manadas de búfalos que constituíam a base da sua alimentação. Na região mais para além do Missouri, os rostos pálidos significavam ainda muito pouco. Caçadores, ovelheiros, criadores de cavalos e os inevitáveis traficantes de whisky, mas tão espaçados e escassos que, se não se conhecesse exatamente a sua localização, seria possível percorrer aquelas imensas planícies durante meses inteiros sem tropeçar com nenhum.
Os gritos dos vaqueiros e o grave mugir das reses advertiu os jovens de que tinha passado bastante tempo e a grande manada ia começar o seu caminho.
Harley pôs-se em pé estendendo as mãos para a rapariga que aceitou a sua ajuda.
Mas quando ela se levantou e ficou tão próxima que quase o roçava, o cálido contacto das finas mãozinhas que as suas aprisionavam, e o brilho daqueles olhos que o obcecavam, fizeram-lhe esquecer tudo que não fosse a paixão que nascia brusca, avassaladora, enlouquecedora.
O acariciante murmúrio do rio próximo, o leve sussurro do ar entre as folhas e os sons que chegavam desde a manada que começava a pôr-se em marcha, foram diminuindo até desvanecerem-se em nada. Lex sentia corno se tudo se esfumasse, como se fosse irreal tudo quanto o rodeava, e perdia a vontade, irresistivelmente atraído pelo brilho daqueles olhos. Foi-se inclinando, lentamente, cada vez mais próximos os seus lábios dos dela, ternos, meigos e apetitosos, cuja deliciosa curvatura deixava antever o brilho nacarado dos seus dentes brancos e iguais.
Na realidade e, por um momento, os dois jovens esqueceram tudo que não fosse eles mesmos, e devorando-se com o olhar, sentiam a ânsia de cair um nos braços do outro, e quase o estavam a fazer, quando os sobressaltou o estampido dum disparo. Não era nada...
Um vaqueiro assustava algumas reses levando-as a unir-se ao resto da manada, já em movimento, mas isto bastou para romper aquele momento. Harley foi o primeiro a reagir, e soltando a rapariga meteu as mãos nas calças e sem saber para onde olhar.
— Eu ... Que lhe parece se nos adiantássemos à manada? Não é necessária a minha ajuda e po-deríamos cavalgar livremente.
Ela tinha as faces coradas, mas também fez o possível por dissimular a sua perturbação.
— Oh, encantar-me-ia! — murmurou voltando-se para dirigir-se para o lugar onde a esperava o seu cavalo.
Tinham ficado sós, porque também os carros caminhavam pela planície, muito adiante das reses, e Lex ajudou-a a montar, assobiando a «Dove», o grande garanhão branco que acudiu como um cão.
Gail não o esperou, pois necessitava duns instantes para recuperar-se da profunda emoção passada, e deixando nas suas costas o bonito caçador de cavalos que montava, afastou-se trotando em direção aos carros que já estavam longe.
Em todos os nervos do seu corpo vibravam sensações nunca experimentadas. Era quase uma mudança física que escapava ao controle da sua vontade. A visita que fizera parecia-lhe surpreendentemente longe, como se as últimas horas passadas a tivessem transportado a uma nova existência expressada só em fins de primavera e amanhecer... Era talvez o amor? Podia sê-lo aquela força irresistível que agitava o seu jovem peito palpitante?
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