PAS454. Sentimentos de culpa

Quando na segunda-feira, ao meio-dia, Terrel regressou à cabana dos Danvers, ia possuído de um forte sentimento de culpabilidade.
As suas entrevistas noturnas com Stella Colton faziam-no sentir--se como réu de um delito certo. Não estava acostumado a lidar com mulheres, e a conduta de Stella era-lhe ao mesmo tempo incompreensível e desagradável, se se punha a pensar nela com serenidade.
Durante todo o dia anterior e também naquela manhã, enquanto regressava calmamente à cabana, pensou que Stella não era boa, que também devia, noutras ocasiões, ter convidado outros homens para a visitarem de noite debaixo do algodoeiro. Não era boa, mas sedutora. Tão sedutora como um abismo, como algo proibido. Mas desejava-a. Desejavam-na os seus sentidos subitamente despertados para a chama do amor carnal com uma furiosa intensidade insuspeitada. Quando a lua se erguia sobre o horizonte todos os seus bons propósitos desapareciam. Punha a sela em «King» e fazia a noturna e arriscada cavalgada para ir beber amor nos seus lábios. E assim seria enquanto ela quisesse, o que lhe causava uma mistura de irritação e receio.
Betty Danvers estava a amassar pão, que Johnny metia no forno, quando ele chegou. Bob arava o campo com a ajuda de cavalos. Danvers não se via. A rapariga e o miúdo deixaram o trabalho para o olharem, enquanto Bob o saudava de longe, com a mão. Ao contemplar a cena e a jovem sentiu que se lhe partia o coração. Não ia apresentar-se diante dela de cara levantada. Descobrir-lhe-ia no olhar as suas inconfessáveis relações com Stella Colton. E aquilo feri-la-ia, estava certo. Daí em diante já não podia associar Betty aos seus formosos sonhos de um lar e uns filhos. Não a merecia. Era um cobarde e um malvado...
A rapariga respondeu ao cumprimento, enquanto as faces lhe coravam.
Havia na sua expressão algo que a um homem teria sido revelador. Mas Terrel tinha pouca experiência e estava confuso. Fez um comentário sobre o estado do dia e levou o cavalo para o estábulo, entretendo-se a arranjá-lo.
Quando regressou, Betty estava diante da porta. Olhou-o fixamente, enquanto ele fazia um esforço para não desviar o olhar e murmurou:
— Agradou-lhe a comida?
— Muito. É uma magnífica cozinheira...
Ela pestanejou. Ninguém sabia, pelos vistos, que dizer. Terrel saiu-se nem soube como.
— E seu pai?
— Partiu muito cedo para os prados do outro lado. Pensa trazer o gado para a semana que vem. Não viu ninguém lá por cima?
— Ontem passaram uns índios a pé. Falei com eles e dei-lhes tabaco. Disseram-me que eram apaches jacarillas. Iam para Toas. De resto, não vi ninguém.
— Deve ter estado muito aborrecido...
— Estou acostumado.
— Agrada-lhe estar sempre só?
Ele meditou na resposta:
— Algumas vezes, não.
 A jovem pareceu disposta a dizer algo. Mas em vez de o fazer meteu-se em casa. Terrel olhou-a, intrigado. Porque lhe faria aquelas perguntas? Seria que... Mas não. Devia tratar-se de simples curiosidade feminina. E ele não devia ter loucas ilusões.

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