PAS472. Uma árvore caída na rota da diligência

A diligência corria pelo caminho, levantando uma nuvem de poeira. As cinco parelhas de cavalos arrastavam-na à máxima velocidade, porque já estavam um pouco atrasados devido a que, em Ribera, tinham sido forçados a parar durante mais tempo do que o previsto.
O cocheiro levantava o chicote e deixava-o cair brandamente sobre o dorso dos guias, enquanto acompanhavam a marcha com sonoros brados.
O caminho deixava para trás a pradaria e um pouco mais adiante internar-se--ia entre dois taludes de terra. As rochas começavam a aflorar.
Ao chegar aos taludes, os cavalos afrouxaram um pouco a velocidade. O cocheiro voltou-se para o seu companheiro. Este, com um rifle sobre os joelhos, agarrava-se ao banco, para não ser cuspido da boleia.
— Se continuarmos assim, chegaremos à hora... — disse. — Eia, cavalos! Auch! Que tal vão os passageiros?
O guarda voltou-se e olhou pela janela.
— Esses dois vão a dormir... — disse. — A rapariga não.
— É valente, essa rapariga... — disse o cocheiro — Ainda não há quinze dias que mataram o pai, e já me disseram que ela tomou a seu cargo a parte dele no negócio.
— Gostaria de estar já em Las Vegas... — disse o guarda. — Tanto dinheiro aí dentro não me agrada.
— Ora! Pouco ou muito, nunca aconteceu nada.
Os alcantis eram cada vez mais altos. Alguns pinheiros solitários, cujas raízes espreitavam da terra, cresciam nas escarpas, de ambos os lados do caminho.
Dobraram um cotovelo da estrada, e o cocheiro, soltando uma exclamação, puxou as rédeas com toda a força, enquanto com a mão esquerda fazia girar a roda do travão. As juntas chiaram, e os cavalos-guias encabritaram-se.
No caminho, atravessada de lado a lado, estava uma grande árvore caída. E não tinha sido abatida por um raio, porque eram perfeitamente visíveis, no tronco, os sinais de um machado.
O guarda, que quase tinha caído da boleia, crispou as mãos no rifle, olhando para todos os lados. Não se via vivalma.
Do interior da diligência vinha um crescente clamor de protestos. Um dos passageiros abriu a porta e assomou a cabeça.
— Mas por que raio…? — começou.
Não teve tempo para dizer mais. O cocheiro e o guarda dirigiam o olhar assustado para os alcantis. A suspeita entrou, como um punhal, no cérebro do passageiro. Baixou a voz, inconscientemente:
— Cuidado... — disse, voltando-se para os seus companheiros de jornada. — Cuidado, isto parece...
A detonação rasgou o silêncio, como uma chicotada. O guarda, atingido em pleno peito, caiu da boleia, enquanto o cocheiro tentava apear-se pelo outro lado.
— Não te mexas... — disse uma voz.
Um grupo de homens, com as caras cobertas pelos lenços, tinha aparecido sobre a plataforma de rocha, do lado direito. Empunhavam espingardas e revólveres.
O cocheiro imobilizou-se. Sabia que era inútil sequer qualquer resistência. O lugar da emboscada tinha sido perfeitamente escolhido.
Os assaltantes desceram, rapidamente. Do interior da diligência surgiu um braço, com um revólver, mas a mão tremia tanto que nem podia apontar. Um dos homens deu-lhe uma palmada e arrancou-lhe a arma.
— Quieto ou mato-te — disse, em voz gelada. — Vamos, desçam.
Desceram dois homens e uma rapariga. Dois dos assaltantes entraram na diligência e tiraram um par de sacos que iam sob o assento. O cocheiro olhava-os, com os olhos arredondados pelo medo.
— Não nos farão mal, pois não? Não tentámos resistir…
— Não lhes faremos mal se estiverem quietas e com juízo... — respondeu o que parecia chefiar o grupo — Vamos, levem isso.
Os dois homens que tinham tirado os sacos, treparam pelo alcantilado, levando-os. Outro dos assaltantes estava parado junto dos prisioneiros.
Nesse momento o chefe do grupo fez um movimento brusco, e o lenço prendeu-se, por um rasgão, num dos botões da camisa. Soltou-se. O homem tentou apressadamente repor o lenço no seu lugar, mas os passageiros da diligência tinham-lhe visto a cara. Nos seus olhos apareceu uma expressão estranha. Escondeu a cara com lenço e ficou a fitar os passageiros. Estes eram homens de meia-idade, com aspeto de comerciantes.
— Bem... — disse o bandido. — Podem voltar a entrar na diligência.
Os outros obedeceram. Mas, mal tinham voltado a costas, o revólver do mascarado detonou. Por duas vezes. Os passageiros, atingidos entre as espáduas, caíram. O assassino voltou-se para o cocheiro.
— Reza, se é que sabes... — disse.
Os lábios do cocheiro moveram-se lentamente. O outro disparou e ele abateu-se, com uma bala entre os olhos.
— Assassino!... — disse a rapariga, em voz surda.
O homem voltou-se para ela.
— Não vou matar uma mulher, nada receie. Você irá connosco.
A rapariga fitou-o, com uma expressão de profundo ódio nos seus olhos cinzentos. O homem que tinha estado junto dos prisioneiros disse-lhe em voz baixa:
— Cale-se!
— Não quero! Hei-de vê-los enforcados, a todos, como assassinos! A todos!
— Sim?... — perguntou o que tinha disparado. — Bem, para isso terá de continuar viva. Vamos, tu, toma conta dela. Aos cavalos!
O homem que estava junto da rapariga agarrou-a por um braço. Ela tentou soltar-se, mas, ele não a deixou. Arrastou-a até à plataforma de rocha e subiu. Um momento depois o cenário da tragédia ficava deserto — só os cavalos vivos e os homens mortos continuavam no meio da estrada, com a diligência vazia.
As montadas dos bandidos estavam em cima. O homem que conduzia a rapariga içou-a para um cavalo, amarrou-lhe os pulsos ao arção da sela e os pés aos estribos. Ela resistiu enquanto julgou que poderia conseguir alguma coisa, mas depois ficou quieta. Só os seus olhos pareciam vivos.
— Não lhe acontecerá nada... — disse-lhe o homem, em voz baixa, enquanto lhe prendia os pés. — Nada tema.
Ela não respondeu. O grupo pôs-se a caminho. Era formado por oito homens, incluindo o chefe.

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