PAS473. Quero reparar uma falta

Billy aproximou-se da barraca. Mike e Crumy estavam à porta, a fumar.
— Tu... —  disse Billy a Crumy —...Vai ao armazém para que te deem um rifle, e depois procura Morrison. Ele te dirá para onde deves ir.
Voltou-se para Carmichael.
— Liston disse-me que tens de ocupar-te da pequena. Não quer comer. É preciso fazeres com que ela coma.
— Eu, armado em ama seca... Quem diria uma coisa destas ao filho da minha mãe?... — perguntou Mike —  Não me arranjas outro serviço melhor, Billy?
— Não. As ordens de Liston são estas.
— Bem, bem... não é que eu não queira obedecer, mas realmente... Se alguma vez tiveres coisa melhor para mim, Billy, gostaria que mo dissesses.
Encaminhou-se para a barraca onde estava a rapariga. De passagem espreitou para aquela que Crumy lhe tinha indicado. Com efeito, um homem armado de espingarda estava de guarda em frente da porta. Os outros estavam na cantina, ou nas suas casotas.
Entrou na barraca e a jovem levantou-se, ao vê-lo.
— Sente-se... — disse-lhe Carmichael. — Por que não comeu?
— Não posso... —  respondeu ela, com uma expressão de repugnância.
Tinha profundas olheiras, mas arranjara-se e penteara os cabelos. Parecia muito nova e desvalida.
— Tem de comer. Escute, «miss» Leroy. Esta tarde poderá dar um passeio, e até amanhã não haverá ninguém a esta porta, a não ser eu. Estou encarregado de velar pela sua segurança, e de não a deixar fugir... embora não saiba para onde poderia ir. O caso é que, de agora em diante, sou eu quem vai ocupar-se de si. Mas preciso da sua ajuda.
— Da minha ajuda? Para quê?
— É muito simples. Amanhã vou tentar tirá-la daqui. Sabe servir-se de uma arma?
— Sei manejar um rifle ou um revólver. Porquê?
— Oh! Acabe com os porquês e os para quês! Vou precisar de quantos braços puder reunir. Mas saiba que vou tirá-la daqui. Continua a ter confiança em mim?
Ela hesitou ligeiramente.
--Sim.
— Então tudo vai bem... — respondeu ele, alegremente. Esta tarde levo-a a dar um passeio. Quero que veja umas coisas.
— Pediram o meu resgate?
— Não se preocupe com isso. Não será preciso. Antes que a carta, a pedir o resgate, chegue ao seu destino, estará você livre.
— Posso fazer-lhe uma pergunta, «mister»...?
— Trate-me por Mike.
— Posso fazer-lhe uma pergunta, Mike?
— Dispare.
— Por que faz tudo isto?
Ele olhou-a, ligeiramente surpreendido.
— Porquê?.. Bem... digamos que não gosto de vê-la aqui fechada.
— Isso não é tudo.
— Não? Bom, então...
Olhou-a nos olhos, a direito.
— Estou... estou a reparar uma falta.
Os olhos da jovem abriram-se mais, lentamente.
— Reparando... uma falta?... — perguntou, numa voz sem timbre.
— Não se esqueça... — disse ele, ignorando a pergunta. — Deve comer e estar preparada. Esta tarde virei vê-la.
E saiu. A jovem seguiu-o com o olhar. Depois deixou-se cair sobre uma cadeira.
— Meu Deus... — disse, em voz alta. — Não pode ser! Oh! Meu Deus, fazei com que não possa ser o que eu penso! Que não seja, meu Deus, que não seja...
 

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