PAS564. Um branco foge com a filha do grande chefe índio
Os cascos dos cavalos, ao resvalarem pela rochosa pendente, levantavam miríades de chispas, que iam rebentar, raivosas, contra as paredes do estreito desfiladeiro. Ofegantes, os dois cavaleiros, homem e mulher, estimulavam freneticamente as montadas, exigindo-lhes o máximo esforço.
Tony Mitchell, o homem, sabia que se lograssem vencer a difícil passagem e atingissem a pradaria, o perigo de serem capturados diminuiria consideravelmente. Além disso, enquanto fugiam, havia concebido um plano, que esperava que lhes trouxesse bons resultados.
Atrás deles, a uma escassa centena de metros, os gritos dos «comanches» soavam de modo estridente. Não passavam de meia dúzia, mas faziam tão grande gritaria que quem não soubesse o seu número iria acreditar que se tratava de uma centena pelo menos.
O cavaleiro que precedia Mitchell, uma jovem índia de esplendorosa beleza, voltou o rosto para o seu companheiro e sorriu-lhe com certa traquinice.
— Haup! — gritou .— Um pouco mais e conseguiremos iludi-los.
— Creio que sim, Minetake. Para a frente!
A saída do desfiladeiro, ambos os cavaleiros, agora lado a lado, prosseguiram no seu frenético galope em direção a um grupo de rochas irisadas pelos raios do sol nascente.
Uma vez refugiados no granítico parapeito, Tony Mitchell lançou mão da sua carabina, procurou um lugar apropriado para disparar comodamente, e esperou pela aparição dos peles-vermelhas.
Estes não se fizeram esperar. Surgiram na embocadura da estreita garganta, como diabos emplumados, sem cessarem de gritar, enquanto esgrimiam os temíveis machados de guerra, prontos a arremessá-los contra o branco que havia ousado apresentar-se no acampamento e roubar-lhes uma das suas «squaws», a mais valiosa de todas, visto que era a filha de «Urso Prateado», o chefe, que naquele momento dirigia a perseguição à cabeça dos seus guerreiros.
O rosto de Tony Mitchell, de linhas pronunciadas e olhos azuis-claros, iluminou-se num amplo sorriso, ao mesmo tempo que apertava o gatilho da arma e um dos cavalos dos seus perseguidores tombava como fulminado.
— Não mates os meus irmãos «comanches»! — suplicou a jovem índia. — O meu pai encontra-se entre eles.
— Nada tens a temer, Minetake. Trata-se de outra coisa. Vê-lo-ás em seguida.
Disparou pela segunda vez e outro dos cavalos foi derrubado, projetando o cavaleiro por cima das ore-lhas. Um terceiro relinchou dolorosamente, ao receber o chumbo no corpo, e o índio que o montava rolou identicamente pela branda terra da pradaria, como um pião louco.
Os restantes peles-vermelhas detiveram-se, indecisos. Em seguida, ao compreenderem que o chefe não estava morto, mas que, pelo contrário, se erguia e procurava à sua volta o seu afiado machado índio, incitaram as montadas para um assalto em massa ao refúgio do homem branco e da rapariga índia.
Mas Tony Mitchell possuía uma boa carabina, uma «Winchester 73» das poucas que nessa altura haviam surgido no Oeste. Havia-a trocado uma semana antes por umas quantas peles, treinando-se com ela tão intensamente que a sua pontaria havia chegado ao extremo de ser praticamente infalível.
A arma ainda trovejou repetidas vezes, ocasionando a queda, num monte confuso, dos três índios que avançavam sobre eles.
— Para a frente, Minetake! — exclamou o jovem. — Se lhe dermos tempo para isso, o teu pai é capaz de nos seguir a pé!
-- Feriste-o?
— Não. A nenhum. Atirei aos cavalos.
A jovem índia voltou a sorrir e foi como se um raio de luar houvesse beijado o seu rosto. Não aparentava mais de vinte anos e tão-pouco parecia receosa. A julgar pela sua atitude, confiava abertamente em Tony Mitchell.
Este, seguido de Minetake, orientou a sua montada em direção ao Norte e procurou um terreno cuja constituição lhes proporcionasse uma fuga sem deixar rasto.
Algum tempo depois, afastados já de todo o perigo, apearam-se e continuaram a pé por um terreno frondoso, levando os cavalos pelas bridas. Tony Mitchell enlaçou Minetake amorosamente pela cintura.
— Agora viveremos sempre juntos, Minetake. Uma vez que nos casemos, nada nem ninguém poderão separar-nos. Estás contente?
— Sim, muito — murmurou a jovem, expressando-se num inglês bastante correto. — No entanto, temo pela nossa vida. «Urso Prateado», meu pai, não se conformará com a sua derrota e seguir-nos-á até aos confins do mundo.
— É um problema, sim, mas não nos devemos preocupar excessivamente.
— Suplico-te que em caso algum faças correr o sangue dos meus. Eles vêm buscar-me porque também me amam.
— Evitaremos que haja luta, querida. Quando nos reunirmos a meu irmão, partiremos os três imediatamente para outras terras. Talvez os teus deixem de nos acossar. Já te disse que quando fui buscar-te tinha tudo planeado. Em Dakota, Burt e eu temos um excelente amigo. Casar-nos-emos ali.
Minetake ruborizou-se levemente e ergueu o olhar para os olhos azuis que lhe sorriam animadoramente.
Para a jovem, pequena e graciosa, Tony Mitchell era alto, muito alto, e agradava-lhe a sua figura magnífica. Mais do que agradar-lhe, fascinava-a. Essa fora a razão por que, ante a oposição de seu pai àqueles amores, decidira seguir os ditames do coração.
Andando devagar e embevecidos, o homem e a mulher penetraram no espaço aberto entre dois montes. O solo estava coberto por uma amarelada alcatifa de artemísia e um grupo de árvores concedia uma generosa sombra à cabana de troncos que se lhes deparou, de cuja chaminé se escapava uma ténue coluna de fumo.
— Burt! Já chegámos! — gritou Tony Mitchell de longe, fazendo porta-voz com as mãos.
Um jovem surgiu à porta da rústica cabana e observou com os olhos semicerrados os dois que chegavam.
— Dez minutos mais e acabaria por ir ao teu encontro para te deitar uma mão — disse, com expressão sorridente. E olhando a índia: — Ora esta é que é a tal Minetake. Bem... Muito prazer, rapariga... Aperta!
A pequena mão da jovem perdeu-se na grande, rude e cordial, do caçador.
Depois, enquanto tiravam as selas aos fatigados cava-los, Tony Mitchell contou ao irmão as peripécias da aventura, acabando por referir a perseguição de que haviam sido objeto por parte de «Urso Prateado» e dos seus cinco guerreiros.
«Pecos» Burt, nome pelo qual era conhecido entre os caçadores de búfalos o mais velho dos Mitchell, escutou com toda a atenção.
Fisicamente, os dois irmãos eram diametralmente opostos. Enquanto o mais novo era alto e elegante, «Pecos» Burt era de estatura mediana e corpo maciço. Um verdadeiro amor fraternal unia ambos os jovens desde que haviam ficado órfãos.
Ambos haviam crescido juntos e percorrido as imensas pradarias do Oeste na sua dura profissão de caçadores. Muitas vezes, no decurso dos últimos anos, nos acampamentos volantes a que a profissão os obrigava, haviam-se unido a outros grupos; e a aparente fragilidade de Tony Mitchell, o cabelo loiro e ondulado e aqueles olhos azuis e ameninados haviam enganado o eterno desordeiro, que nunca faltava em lugares onde diariamente se desafiava a morte.
Não, não souberam ver nas suas quietas pupilas a chispa perigosa, eletrizante, e quando quiseram percatar-se de com quem tinham de se defrontar, já era demasiado tarde. Os punhos do jovem, a faca de mato ou uma bala certeira, se o caso assim o requeria, punham termo às ironias pesadas que lhe haviam sido dirigidas.
— Mau assunto se «Urso Prateado» vos seguiu — disse «Pecos» Burt. — Os «comanches» não vos perderão a pista.
— Bom, o que está feito está feito. «Pecos», Minetake e eu gostamos um do outro. Não era coisa para me enfeitar de penas e enlambuzar a cara, creio eu... É claro que se tu temes pela tua cabeleira e não queres que continuemos juntos...
Tony Mitchell teve de saltar de lado para evitar o contacto do irmão. Sorrindo, refugiou-se atrás da encantadora silhueta da índia, que olhou para ambos com doçura e regozijo.
— De acordo, Burt — disse Tony, para quem a reação do irmão havia sido uma resposta.
Entraram na cabana e sentaram-se à volta da tosca mesa. Entre piadas inocentes, que Minetake apreciou com risadas cristalinas, fizeram as honras ao suculento naco de carne assada que Burt havia preparado.
Havia muito tempo já que Tony Mitchell se havia enamorado da filha de «Urso Prateado». Ela, por sua vez, perdera-se de amores por ele no instante em que o conhecera, mas o conselho de anciãos dos «comanches», sabedor disso, opusera-se terminantemente a que a jovem acompanhasse o rosto pálido.
Tony Mitchell confiara a «Pecos» Burt o que se passava e este animara o jovem a raptar a índia e a fazê-la sua esposa. Oferecera-se, inclusivamente, para o acompanhar, mas o irmão não o achara conveniente.
Tudo havia saído na perfeição. Quando acabaram a refeição, como já tinham enfardado as suas coisas, carregaram duas mulas e empreenderam o caminho para Dakota do Sul, sem um olhar de nostalgia para a cabana que durante tantos meses os havia albergado...
Tony Mitchell, o homem, sabia que se lograssem vencer a difícil passagem e atingissem a pradaria, o perigo de serem capturados diminuiria consideravelmente. Além disso, enquanto fugiam, havia concebido um plano, que esperava que lhes trouxesse bons resultados.
Atrás deles, a uma escassa centena de metros, os gritos dos «comanches» soavam de modo estridente. Não passavam de meia dúzia, mas faziam tão grande gritaria que quem não soubesse o seu número iria acreditar que se tratava de uma centena pelo menos.
O cavaleiro que precedia Mitchell, uma jovem índia de esplendorosa beleza, voltou o rosto para o seu companheiro e sorriu-lhe com certa traquinice.
— Haup! — gritou .— Um pouco mais e conseguiremos iludi-los.
— Creio que sim, Minetake. Para a frente!
A saída do desfiladeiro, ambos os cavaleiros, agora lado a lado, prosseguiram no seu frenético galope em direção a um grupo de rochas irisadas pelos raios do sol nascente.
Uma vez refugiados no granítico parapeito, Tony Mitchell lançou mão da sua carabina, procurou um lugar apropriado para disparar comodamente, e esperou pela aparição dos peles-vermelhas.
Estes não se fizeram esperar. Surgiram na embocadura da estreita garganta, como diabos emplumados, sem cessarem de gritar, enquanto esgrimiam os temíveis machados de guerra, prontos a arremessá-los contra o branco que havia ousado apresentar-se no acampamento e roubar-lhes uma das suas «squaws», a mais valiosa de todas, visto que era a filha de «Urso Prateado», o chefe, que naquele momento dirigia a perseguição à cabeça dos seus guerreiros.
O rosto de Tony Mitchell, de linhas pronunciadas e olhos azuis-claros, iluminou-se num amplo sorriso, ao mesmo tempo que apertava o gatilho da arma e um dos cavalos dos seus perseguidores tombava como fulminado.
— Não mates os meus irmãos «comanches»! — suplicou a jovem índia. — O meu pai encontra-se entre eles.
— Nada tens a temer, Minetake. Trata-se de outra coisa. Vê-lo-ás em seguida.
Disparou pela segunda vez e outro dos cavalos foi derrubado, projetando o cavaleiro por cima das ore-lhas. Um terceiro relinchou dolorosamente, ao receber o chumbo no corpo, e o índio que o montava rolou identicamente pela branda terra da pradaria, como um pião louco.
Os restantes peles-vermelhas detiveram-se, indecisos. Em seguida, ao compreenderem que o chefe não estava morto, mas que, pelo contrário, se erguia e procurava à sua volta o seu afiado machado índio, incitaram as montadas para um assalto em massa ao refúgio do homem branco e da rapariga índia.
Mas Tony Mitchell possuía uma boa carabina, uma «Winchester 73» das poucas que nessa altura haviam surgido no Oeste. Havia-a trocado uma semana antes por umas quantas peles, treinando-se com ela tão intensamente que a sua pontaria havia chegado ao extremo de ser praticamente infalível.
A arma ainda trovejou repetidas vezes, ocasionando a queda, num monte confuso, dos três índios que avançavam sobre eles.
— Para a frente, Minetake! — exclamou o jovem. — Se lhe dermos tempo para isso, o teu pai é capaz de nos seguir a pé!
-- Feriste-o?
— Não. A nenhum. Atirei aos cavalos.
A jovem índia voltou a sorrir e foi como se um raio de luar houvesse beijado o seu rosto. Não aparentava mais de vinte anos e tão-pouco parecia receosa. A julgar pela sua atitude, confiava abertamente em Tony Mitchell.
Este, seguido de Minetake, orientou a sua montada em direção ao Norte e procurou um terreno cuja constituição lhes proporcionasse uma fuga sem deixar rasto.
Algum tempo depois, afastados já de todo o perigo, apearam-se e continuaram a pé por um terreno frondoso, levando os cavalos pelas bridas. Tony Mitchell enlaçou Minetake amorosamente pela cintura.
— Agora viveremos sempre juntos, Minetake. Uma vez que nos casemos, nada nem ninguém poderão separar-nos. Estás contente?
— Sim, muito — murmurou a jovem, expressando-se num inglês bastante correto. — No entanto, temo pela nossa vida. «Urso Prateado», meu pai, não se conformará com a sua derrota e seguir-nos-á até aos confins do mundo.
— É um problema, sim, mas não nos devemos preocupar excessivamente.
— Suplico-te que em caso algum faças correr o sangue dos meus. Eles vêm buscar-me porque também me amam.
— Evitaremos que haja luta, querida. Quando nos reunirmos a meu irmão, partiremos os três imediatamente para outras terras. Talvez os teus deixem de nos acossar. Já te disse que quando fui buscar-te tinha tudo planeado. Em Dakota, Burt e eu temos um excelente amigo. Casar-nos-emos ali.
Minetake ruborizou-se levemente e ergueu o olhar para os olhos azuis que lhe sorriam animadoramente.
Para a jovem, pequena e graciosa, Tony Mitchell era alto, muito alto, e agradava-lhe a sua figura magnífica. Mais do que agradar-lhe, fascinava-a. Essa fora a razão por que, ante a oposição de seu pai àqueles amores, decidira seguir os ditames do coração.
Andando devagar e embevecidos, o homem e a mulher penetraram no espaço aberto entre dois montes. O solo estava coberto por uma amarelada alcatifa de artemísia e um grupo de árvores concedia uma generosa sombra à cabana de troncos que se lhes deparou, de cuja chaminé se escapava uma ténue coluna de fumo.
— Burt! Já chegámos! — gritou Tony Mitchell de longe, fazendo porta-voz com as mãos.
Um jovem surgiu à porta da rústica cabana e observou com os olhos semicerrados os dois que chegavam.
— Dez minutos mais e acabaria por ir ao teu encontro para te deitar uma mão — disse, com expressão sorridente. E olhando a índia: — Ora esta é que é a tal Minetake. Bem... Muito prazer, rapariga... Aperta!
A pequena mão da jovem perdeu-se na grande, rude e cordial, do caçador.
Depois, enquanto tiravam as selas aos fatigados cava-los, Tony Mitchell contou ao irmão as peripécias da aventura, acabando por referir a perseguição de que haviam sido objeto por parte de «Urso Prateado» e dos seus cinco guerreiros.
«Pecos» Burt, nome pelo qual era conhecido entre os caçadores de búfalos o mais velho dos Mitchell, escutou com toda a atenção.
Fisicamente, os dois irmãos eram diametralmente opostos. Enquanto o mais novo era alto e elegante, «Pecos» Burt era de estatura mediana e corpo maciço. Um verdadeiro amor fraternal unia ambos os jovens desde que haviam ficado órfãos.
Ambos haviam crescido juntos e percorrido as imensas pradarias do Oeste na sua dura profissão de caçadores. Muitas vezes, no decurso dos últimos anos, nos acampamentos volantes a que a profissão os obrigava, haviam-se unido a outros grupos; e a aparente fragilidade de Tony Mitchell, o cabelo loiro e ondulado e aqueles olhos azuis e ameninados haviam enganado o eterno desordeiro, que nunca faltava em lugares onde diariamente se desafiava a morte.
Não, não souberam ver nas suas quietas pupilas a chispa perigosa, eletrizante, e quando quiseram percatar-se de com quem tinham de se defrontar, já era demasiado tarde. Os punhos do jovem, a faca de mato ou uma bala certeira, se o caso assim o requeria, punham termo às ironias pesadas que lhe haviam sido dirigidas.
— Mau assunto se «Urso Prateado» vos seguiu — disse «Pecos» Burt. — Os «comanches» não vos perderão a pista.
— Bom, o que está feito está feito. «Pecos», Minetake e eu gostamos um do outro. Não era coisa para me enfeitar de penas e enlambuzar a cara, creio eu... É claro que se tu temes pela tua cabeleira e não queres que continuemos juntos...
Tony Mitchell teve de saltar de lado para evitar o contacto do irmão. Sorrindo, refugiou-se atrás da encantadora silhueta da índia, que olhou para ambos com doçura e regozijo.
— De acordo, Burt — disse Tony, para quem a reação do irmão havia sido uma resposta.
Entraram na cabana e sentaram-se à volta da tosca mesa. Entre piadas inocentes, que Minetake apreciou com risadas cristalinas, fizeram as honras ao suculento naco de carne assada que Burt havia preparado.
Havia muito tempo já que Tony Mitchell se havia enamorado da filha de «Urso Prateado». Ela, por sua vez, perdera-se de amores por ele no instante em que o conhecera, mas o conselho de anciãos dos «comanches», sabedor disso, opusera-se terminantemente a que a jovem acompanhasse o rosto pálido.
Tony Mitchell confiara a «Pecos» Burt o que se passava e este animara o jovem a raptar a índia e a fazê-la sua esposa. Oferecera-se, inclusivamente, para o acompanhar, mas o irmão não o achara conveniente.
Tudo havia saído na perfeição. Quando acabaram a refeição, como já tinham enfardado as suas coisas, carregaram duas mulas e empreenderam o caminho para Dakota do Sul, sem um olhar de nostalgia para a cabana que durante tantos meses os havia albergado...
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