PAS594. Assim começa a vida dum pistoleiro
Jack Dean encontrava-se ainda na mesma posição, sentado na cadeira, quando Barton apareceu. Levantou-se de um salto, arredando a cadeira para o lado com o pé. Desceu do tablado para o meio da calçada, sem despregar a boca. A sua mão direita parecia adejar sobre a coronha do «Colt» que sobressaía da pistoleira, como uma ameaça permanente.
— - Que pretendes daqui, Jack Dean?
Deu um passo em frente e quando saiu a resposta, já, os seus olhos tinham descortinado a vaga silhueta de Corwer junto da janela e mover-se um par de sapatos de cada um dos lados dos batentes da porta de entrada. Sem que os seus olhos deixassem um instante sequer de olhar para a mão de Barton que pendia ao lado do revólver que trazia suspenso do cinto, Jack Dean disse:
— Enviastes três pistoleiros a Thomsone, para assassinar meu pai. Conseguiram-no. Cheguei demasiado tarde para impedi-lo, mas dois dos pistoleiros não voltarão mais a disparar. O mais jovem conseguiu fugir apesar de ferido mas não lhe darei tréguas. Persegui-lo-ei sem descanso para lhe pedir contas da morte de meu pai. E foi para também vos pedir contas a todos quatro que aqui me encontro. Cairão um por um diante do meu revólver, cobardes assassinos. O primeiro serás já tu, Barton. Puxa pela arma e dispara.
Barton mastigou urna insolência, gritando surdamente:
— Mandar-te-emos fazer companhia a teu pai.
Ainda não tinha terminado a frase e já a sua mão empunhava o «Colt», retirado com impressionante celeridade do coldre, mas também já a mão do jovem exibia o revólver donde saíam faíscas de fogo e de chumbo. Arrojando-se ao solo e, mudando constantemente de posição, continuou disparando na direção do seu inimigo. Barton pôde ver-lhe nitidamente a figura, ao tempo que a primeira bala lhe atravessava a garganta e um jato de sangue ardente lhe golfava do interior. Recuou dois passos, abriu os braços e ficou-se estatelado no soalho do «saloon», deixando a descoberto a figura de Lambert quando se preparava para disparar. Outra bala foi perfurar a testa de Lambert que abriu desmedidamente os olhos provocando urna reação de pavor em Stone ao vê-lo cambalear como um palhaço, tropeçar e deixar-se cair sobre Barton cujo corpo se desviou por virtude do choque, indo finalmente atravessar a porta cujos batentes ficaram a abrir e a fechar desordenadamente.
Foi naquele preciso momento que os olhos atónitos de Stone Clippe viram com impressionante nitidez o cano do «Colt» de Jack Dean que o visava com implacável firmeza. Viu-o endireitar-se urna vez mais e relampejar o fogacho, ao mesmo tempo que a boca se lhe abria num gesto de horror. Stone Clippe deixou escapar um gemido abafado, enquanto a bala lhe penetrava no meio da cabeça empurrando-o brutalmente para trás, com o crânio desfeito. A violência do choque da nuca contra o solo fez esparrinhar a massa encefálica em todas as direções.
No mesmo instante os vidros da janela ficaram feitos em estilhas por dois motivos sucessivos e diferentes. O primeiro foi a quebra provocada pela bala e o segundo pela queda da parte superior do corpo de Corwer que, com a testa atravessada, se despenhava com todo o seu peso sobre as vidraças que ficaram feitas em fanicos, enquanto metade do corpo lhe pendia do peitoril para o exterior. Não estava, porém, ainda morto como os seus companheiros. Absolutamente imóvel como se encontrava, pôde ainda entreabrir os olhos e ver como Jack Dean, sempre de revólver em punho, atravessava lentamente a calçada e galgava os três degraus do «saloon». A voz de Corwer chamou-o quase num gemido.
Parou e contemplou-o com a maior atenção. Tinha o rosto completamente coberto de sangue da testa para baixo, correndo-lhe um fio vermelho da cabeça até à ponta do queixo, de onde caía sonoramente em gotas no soalho.
— Dean...!
Aproximou-se com a maior indiferença.
— Que desejas?
— Venceste-nos a todos. Vingaste bem teu pai. Mas...
— Mas... quê?
— Ficas amaldiçoado. O sangue pede sangue. Já não conseguirás ser mais do que um pistoleiro. Serás... apenas um pistoleiro. Um... pistoleiro.
Não pôde dizer mais nada. Mas, antes de morrer, tinha largado ainda a baba venenosa. Deixou pender a cabeça que ficou balanceando durante alguns segundos, acabando por se imobilizar. Um grosso jorro de sangue começou a brotar do buraco aberto pela bala encharcando o solo por completo.
Jack Dean reagiu contra o vaticínio, dizendo com íntima convicção:
— Não! Não serei nunca um pistoleiro. Matei para me vingar de todos aqueles que deram a morte àquele que me deu a vida. Ainda falta um. Esse também acabará por pagar o seu cobarde assassínio. Depois... voltarei para o «rancho». Arrojarei as armas e voltarei a pegar no arado. Não serei um pistoleiro. A minha arma será unicamente o arado.
Uma voz pausada e serena dirigiu-lhe as seguintes palavras, sem qualquer censura ou azedume pelo que acabava de ocorrer:
— Nunca mais te deixarão, Dean. Desde este instante tens o teu nome ligado a todos os teus atos. Vingaste teu pai, eliminando todos aqueles que intervieram na sua inerte. Ninguém te lançará em rosto o teu desforço; mas a rapidez do teu revólver vai ser uma constante tentação para outros homens que desejarão defrontar-se contigo para te arrebatar a glória da habilidade por ti demonstrada no manejo do «Colt», apesar de tu próprio nunca te envaideceres com isso. Por todas as partes por onde passes sair-te-ão ao encontro para se medirem contigo e tu não poderás negar-te, sob pena de te apelidarem de cobarde. E então, para poderes viver, terás de ir matando quantos te saiam ao caminho. Foi toda a vida esta a sina dos pistoleiros. Mau destino, Jack Dean!
Jack Dean não respondeu. Ficou um tanto pensativo, repôs lentamente a arma no coldre e dirigiu-se para o lugar onde se encontrava o cavalo. Montou e só depois, quando se preparava para partir, disse com voz firme:
— Cumpri a minha obrigação para com a memória de meu pai. O que vier a seguir não será por culpa minha. Tudo farei para que nunca se diga que Jack Dean é um pistoleiro cobarde.
Deu de esporas ao cavalo e iniciou a marcha com o cavalo a passo, a cabeça levantada e a testa franzida, absorto nos seus pensamentos. Caminhou pelo meio da rua principal de Simpson com destino à terra livre e indómita da pradaria.
O homem idoso e cheio de cãs que lhe havia dirigido a palavra, comentou:
— Seja como for e quer queira quer não queira, começou neste momento a vida de pistoleiro de Jack Dean.
— - Que pretendes daqui, Jack Dean?
Deu um passo em frente e quando saiu a resposta, já, os seus olhos tinham descortinado a vaga silhueta de Corwer junto da janela e mover-se um par de sapatos de cada um dos lados dos batentes da porta de entrada. Sem que os seus olhos deixassem um instante sequer de olhar para a mão de Barton que pendia ao lado do revólver que trazia suspenso do cinto, Jack Dean disse:
— Enviastes três pistoleiros a Thomsone, para assassinar meu pai. Conseguiram-no. Cheguei demasiado tarde para impedi-lo, mas dois dos pistoleiros não voltarão mais a disparar. O mais jovem conseguiu fugir apesar de ferido mas não lhe darei tréguas. Persegui-lo-ei sem descanso para lhe pedir contas da morte de meu pai. E foi para também vos pedir contas a todos quatro que aqui me encontro. Cairão um por um diante do meu revólver, cobardes assassinos. O primeiro serás já tu, Barton. Puxa pela arma e dispara.
Barton mastigou urna insolência, gritando surdamente:
— Mandar-te-emos fazer companhia a teu pai.
Ainda não tinha terminado a frase e já a sua mão empunhava o «Colt», retirado com impressionante celeridade do coldre, mas também já a mão do jovem exibia o revólver donde saíam faíscas de fogo e de chumbo. Arrojando-se ao solo e, mudando constantemente de posição, continuou disparando na direção do seu inimigo. Barton pôde ver-lhe nitidamente a figura, ao tempo que a primeira bala lhe atravessava a garganta e um jato de sangue ardente lhe golfava do interior. Recuou dois passos, abriu os braços e ficou-se estatelado no soalho do «saloon», deixando a descoberto a figura de Lambert quando se preparava para disparar. Outra bala foi perfurar a testa de Lambert que abriu desmedidamente os olhos provocando urna reação de pavor em Stone ao vê-lo cambalear como um palhaço, tropeçar e deixar-se cair sobre Barton cujo corpo se desviou por virtude do choque, indo finalmente atravessar a porta cujos batentes ficaram a abrir e a fechar desordenadamente.
Foi naquele preciso momento que os olhos atónitos de Stone Clippe viram com impressionante nitidez o cano do «Colt» de Jack Dean que o visava com implacável firmeza. Viu-o endireitar-se urna vez mais e relampejar o fogacho, ao mesmo tempo que a boca se lhe abria num gesto de horror. Stone Clippe deixou escapar um gemido abafado, enquanto a bala lhe penetrava no meio da cabeça empurrando-o brutalmente para trás, com o crânio desfeito. A violência do choque da nuca contra o solo fez esparrinhar a massa encefálica em todas as direções.
No mesmo instante os vidros da janela ficaram feitos em estilhas por dois motivos sucessivos e diferentes. O primeiro foi a quebra provocada pela bala e o segundo pela queda da parte superior do corpo de Corwer que, com a testa atravessada, se despenhava com todo o seu peso sobre as vidraças que ficaram feitas em fanicos, enquanto metade do corpo lhe pendia do peitoril para o exterior. Não estava, porém, ainda morto como os seus companheiros. Absolutamente imóvel como se encontrava, pôde ainda entreabrir os olhos e ver como Jack Dean, sempre de revólver em punho, atravessava lentamente a calçada e galgava os três degraus do «saloon». A voz de Corwer chamou-o quase num gemido.
Parou e contemplou-o com a maior atenção. Tinha o rosto completamente coberto de sangue da testa para baixo, correndo-lhe um fio vermelho da cabeça até à ponta do queixo, de onde caía sonoramente em gotas no soalho.
— Dean...!
Aproximou-se com a maior indiferença.
— Que desejas?
— Venceste-nos a todos. Vingaste bem teu pai. Mas...
— Mas... quê?
— Ficas amaldiçoado. O sangue pede sangue. Já não conseguirás ser mais do que um pistoleiro. Serás... apenas um pistoleiro. Um... pistoleiro.
Não pôde dizer mais nada. Mas, antes de morrer, tinha largado ainda a baba venenosa. Deixou pender a cabeça que ficou balanceando durante alguns segundos, acabando por se imobilizar. Um grosso jorro de sangue começou a brotar do buraco aberto pela bala encharcando o solo por completo.
Jack Dean reagiu contra o vaticínio, dizendo com íntima convicção:
— Não! Não serei nunca um pistoleiro. Matei para me vingar de todos aqueles que deram a morte àquele que me deu a vida. Ainda falta um. Esse também acabará por pagar o seu cobarde assassínio. Depois... voltarei para o «rancho». Arrojarei as armas e voltarei a pegar no arado. Não serei um pistoleiro. A minha arma será unicamente o arado.
Uma voz pausada e serena dirigiu-lhe as seguintes palavras, sem qualquer censura ou azedume pelo que acabava de ocorrer:
— Nunca mais te deixarão, Dean. Desde este instante tens o teu nome ligado a todos os teus atos. Vingaste teu pai, eliminando todos aqueles que intervieram na sua inerte. Ninguém te lançará em rosto o teu desforço; mas a rapidez do teu revólver vai ser uma constante tentação para outros homens que desejarão defrontar-se contigo para te arrebatar a glória da habilidade por ti demonstrada no manejo do «Colt», apesar de tu próprio nunca te envaideceres com isso. Por todas as partes por onde passes sair-te-ão ao encontro para se medirem contigo e tu não poderás negar-te, sob pena de te apelidarem de cobarde. E então, para poderes viver, terás de ir matando quantos te saiam ao caminho. Foi toda a vida esta a sina dos pistoleiros. Mau destino, Jack Dean!
Jack Dean não respondeu. Ficou um tanto pensativo, repôs lentamente a arma no coldre e dirigiu-se para o lugar onde se encontrava o cavalo. Montou e só depois, quando se preparava para partir, disse com voz firme:
— Cumpri a minha obrigação para com a memória de meu pai. O que vier a seguir não será por culpa minha. Tudo farei para que nunca se diga que Jack Dean é um pistoleiro cobarde.
Deu de esporas ao cavalo e iniciou a marcha com o cavalo a passo, a cabeça levantada e a testa franzida, absorto nos seus pensamentos. Caminhou pelo meio da rua principal de Simpson com destino à terra livre e indómita da pradaria.
O homem idoso e cheio de cãs que lhe havia dirigido a palavra, comentou:
— Seja como for e quer queira quer não queira, começou neste momento a vida de pistoleiro de Jack Dean.
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