PAS604. O beijo do assassino

Celeste retirou-se para os seus aposentos mais tarde do que o costume. A conversa com Jeff tinha-se prolongado até muito depois da meia-noite. Jeff era partidário de se enforcar Harry sem tardar, contra a oposição de sua irmã que desejava torturá-lo. Esta ideia acalmou a jovem.
O nervosismo impedia Celeste de conciliar o sono. Por fim adormeceu depois de muito se agitar na cama.
Não soube quanto tempo permaneceu adormecida. Uma rara sensação a despertou. A luz da lua entrava em caudais no seu quarto, inundando-o de grata penumbra.
Imediatamente abriu a boca para dar um grito de alarme. Uma mão tapou-lha, dizendo:
— Segundo tu, matei Monty; não me dês ocasião de te matar também. Só desejo falar contigo.
A jovem agitou-se durante alguns instantes, mas, vendo a impossibilidade de se livrar daquela tenaz de ferro, optou por imobilizar-se. Pouco a pouco Harry retirou a mão.
— Sempre foste sensata, Celeste, até que um maldito se lembrou de assassinar o teu irmão. Sou o único suspeito, compreendo-o e não me queixo do meu azar porque só eu tenho a culpa.
— Como conseguiste fugir?
— Fiz um buraco no chão imitando as toupeiras. Custa-me que tenhas de despender quinze mil dólares por uma vida que, como a minha, não vale um cêntimo.
— Aumentá-los-ei para trinta mil se te apanharem morto.
— Esqueces que, se me apetecer, não verás o amanhecer e essa importância nunca será oferecida?
— Podes matar-me se o desejas! Alguém me vingará!
— Todavia quero-te muito, Celeste, sabe-lo bem. Ao ordenares que me açoitassem, soubeste lê-lo nos meus olhos, por isso deste contra ordem. Nenhuma mulher maltrata o homem que a adora.
«Não venho discutir se fui eu ou não quem matou Monty. Antes de morrer disse-me que teu pai tinha desaparecido, embora a ti prematuramente te comunicassem a sua morte. Pois bem, encontrei o cadáver de um homem terrivelmente mutilado, junto da margem do Rio São Joaquim. Ignoro a quem pertence.
 «Um amigo a quem deixei vigiando aquele lugar para ver se aparecia algum suspeito, encontrou esta luva. Desejo que me digas se era de teu pai.
A luz da lua era insuficiente para examinar o objeto. Harry, que estava tranquilamente sentado à cabeceira do leito de Celeste, levantou-se para fechar a janela, acendeu um fósforo e a seguir o candeeiro de petróleo.
— Tenho o pressentimento de que o senhor Russell foi assassinado há alguns dias, portanto, existe alguém que pretende prejudicar a tua família. Ignoro quem é e regressei para desmascará-lo. Também conversei com o xerife mas consegui o mesmo resultado que contigo. Não fez caso.
— Porque sabe que és um criminoso.
— Acusa-me dia morte de teu pai.
— Terá as suas razões.
— Na do teu irmão podes suspeitar de mim. Na outra, não. Sabes perfeitamente onde me encontrava em Ponterville. Tu, em casa da tua amiga, eu trabalhando no rancho. Reconheces a luva?
— É do papá! Ofereci-lhas no seu último aniversário.
— Supunha-o. Queres ajudar-me a desvendar mistério? Custar-te-á pouco trabalho dizer que não fui eu quem acabou com a vida de Monty. Não mentirás.
— Canalha! Desavergonhado! Como tens o descaramento de me propores semelhante mentira? — gritou.
Mesmo que quisesse, Harry não teve tempo par lhe tapar a boca e os seus gritos repercutiram-se por todo o edifício.
— Socorro!
— Cala-te, estúpida! Se não te amasse tanto, não correria nenhum risco por ti. Algo se trama ao teu redor e não queres vê-lo.
—.Auxíli...!
O jovem não se pôde conter. Aplicou-lhe um par de sonoras bofetadas, dizendo-lhe:
— Idiota! Algum dia te arrependerás!
A seguir atraiu-a para si e beijou-a. Foi um beijo quente e prolongado.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

PAS743. A história do homem que matou o melhor amigo

HBD013. Aventuras de Kit Carson publicadas em Portugal