PAS613. Retaliação

Já perto da cabana de Ethel Conway, os dois homens apearam-se deixando os cavalos ocultos nas árvores. Cautelosamente, avançaram até à orla do bosque. Tudo parecia silencioso e dava uma sensação de estar desabitado.
— Ainda não voltou — disse Burns, fazendo um sinal para o seu companheiro.
Hicks assentiu. Não obstante, para poder prever qualquer surpresa, avançava com o revólver engatilhado na mão direita.
Foi ele quem primeiro atravessou o descampado e chegou até à entrada da cabana. Chamou, batendo os nós dos dedos na porta e, quando já tinha passado mais de um minuto sem ninguém responder, decidiu repetir o chamamento.
Então Burns aproximou-se.
— Está visto que aqui não há ninguém — disse o homem. — Não percamos tempo.
De um saco que Burns levava consigo, este tirou um bidão de petróleo. Destapou-o e verteu uma grande quantidade no barracão onde estavam as alfaias agrícolas. Em ato contínuo, o próprio Burns fez o mesmo com a escada e as paredes da casa. Depois partiu, uni dos vidros duma janela e deitou o resto para o interior.
Hicks não perdia tempo. Meteu um fósforo aceso na palha. Rapidamente o lume começou a atear, propagando-se ao barracão. Fez o mesmo com um monte de folhas secas que Burns tinha feito junto à casa. Ateou--lhes o fogo e retirou-se para agarrar numa bola de algodão a arder para a lançar para dentro da casa.
Mas não o chegou a fazer. Do bosque saiu o ruído dos cascos de cavalo que se aproximava dali. Burns tinha ouvido e, com o alarme estampado nas suas feições, retrocedeu em direção ao sítio onde tinha deixado o cavalo.
Nesse instante uma figura recortou-se entre as árvores. Hicks reconheceu imediatamente quem era o recém-chegado, e o seu rosto cobriu-se duma palidez mortal ao reconhecer Alan Skenton, o homem que já uma vez tinha frustrado as suas intenções.
Disparou precipitadamente contra ele, mas a grande distância e o excessivo nervosismo fizeram que falhasse o tiro.
— É Alan Skenton! — gritou assustado, ao mesmo tempo que corria á procura da seu companheiro.
Alan lançou-se em perseguição dos fugitivos. Burns disparou, protegendo-se atrás das árvores, mas Alan não perdeu tempo a ripostar. Atravessava em diagonal a clareira pira ver se conseguia apanhar Hicks. Este, vendo-se perdido, deteve-se e apontou para Skenton, desta vez com mais cuidado.
Não chegou a disparar. Do revólver de Alan saiu tuna língua de fogo e a bala foi-se cravar-se no peito de Hicks, causando-lhe morte instantânea.
Hicks, ao ver cair o seu companheiro, acelerou a marcha e correu como uma alma que tivesse visto o diabo, num supremo esforço para poder chegar aos cavalos.
Alan deteve-se ao chegar junto de Hicks. Bastou-lhe um simples olhar para ver que estava morto. Depois continuou até onde Burns tinha desaparecido. Viu-o aparecer um instante por detrás das árvores, o suficiente para tentar o tiro.
Disparou rapidamente e viu Burns dar uma queda e rolar por terra, mas levantou-se de seguida e seguiu a sua marcha.
Alan compreendeu que não podia continuar a persegui-lo, se quisesse evitar a propagação das chamas. Assim que desistiu, de perseguir o companheiro de Hicks retrocedeu em direção à casa. As chamas devoravam já grande parte do alpendre. Não podia fazer nada para evitar a destruição daquela parte e voltou-se para outro lado, tentando evitar que as chamas destruissem a casa.
Valendo-se dum tronco, Alan destroçou a escada que era já presa do fogo e, lançando-se contra a porta, forçou-a e penetrou no interior. As chamas começavam a lamber as janelas. Alan apoderou-se de uma manta e depois de muito trabalho conseguiu dominar o fogo.
Meia hora depois podia-se considerar o fogo totalmente extinto.
Só então Alan voltou para o seu refúgio do bosque e aí esperou o regresso de Ethel.
Já passava muito do meio-dia quando a rapariga apareceu pelo caminho que normalmente seguia quando vinha para casa. O fumo débil que se elevava da madeira carbonizada do alpendre e o odor penetrante a palha e madeira queimada fizeram que ela apressasse o passo.
Ao chegar à clareira, Ethel desmontou e ficou olhando para o aspeto que o seu lar oferecia depois do criminoso intento de Hicks e Burns.
Ante os restos do alpendre, totalmente destruído, as lágrimas da rapariga subiram-lhe aos olhos. Só não chorou porque uma voz, muito próximo das suas costas, lhe disse:
— Menina Conway.
Voltou-se surpreendida. Alan Skenton estava a menos de dez passos dela.
— Alan! — exclamou então, surpreendida.
Skenton foi até junto dela.
— Não pude evitar isto — disse-lhe, indicando com um gesto da cabeça o que restava do alpendre.
— Quem foi?
— Dois dos homens de Cassley. Um deles já não voltará a importunar ninguém. O outro conseguiu escapar.
— Oh! Alan! — balbuciou Ethel, com o espírito entre a alegria e o desespero. — Julguei que se tivesse ido para sempre! Mas sentia-me contente por saber que Cassley o não tinha alcançado.
— Não lhe dei esse prazer — sorriu Alan despreocupado.
— O que pensa fazer agora?
— Não sair daqui — disse ao mesmo tempo que apontava para trás de si com um gesto muito largo. --Não quero afastar-me muito de si.
— Mas expõe-se a que tarde ou cedo lhe deitem a mão.
— Sei defender-me dessa gente — tranquilizou-a Alan. — Acha, que, sabendo que precisa de mim, era capaz de ir para outro lado?
Ela baixou os olhos corando.
— Obrigada por tudo o que fez, Alan. No entanto, já fez muito mais do que aquilo que se pode esperar de um amigo.
— Eu sempre me considerei o seu melhor amigo, Ethel — disse Alan, apoderando-se da mão da jovem. — E se não o toma com atrevimento...
— Cale-se, por favor — interrompeu-o Ethel, retirando a mão com presteza. — Não queira estragar o afeto que lhe tenho.
— O pior é que eu sinto por si alguma coisa mais do que afeto.
— Alan! — balbuciou Ethel, empalidecendo. — Não é possível...
— O que é que não é possível? Sentir-me atraído por si?
— Não... — murmurou, como se tivesse: medo. — Não deve dizer isso. Esqueça-se do que disse. Há uma coisa..., uma coisa, que impede...
— Não a compreendo—murmurou Alan.
Porém, como resposta, Ethel voltou-lhe as costas e correu para casa, deixando o rapaz metido num mar de confusões.

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