PAS636. Por vezes, a ajuda chega exageradamente cedo
A fazenda de Sage estava a umas vinte milhas, de modo que chegariam lá ao anoitecer, pelo que deveriam pernoitar ali antes de regressarem.
Mal tinham começado a caminhada, Henry viu, com não pouca surpresa, que a rapariga, vestindo roupas masculinas, se lhes juntava.
-- Pensei que talvez possam necessitar de ajuda — disse Rosemary.
Henry não fez o menor comentário, facto que pareceu dececioná-la. Todavia, também ela nada disse.
Era já cerca de meio-dia quando, de repente, ocorreu algo inesperado.
Cutts e Amos cavalgavam atrás da manada. Subitamente, duas reses espantaram-se e afastaram-se correndo.
— Vou alcançá-las — gritou Rosemary, picando esporas ao cavalo.
Henry separou-se uns metros das reses e logo se deteve. Contemplou a cavalgada de Rosemary atrás dos animais tresmalhados.
Os outros dois iam à cabeça da manada, um de cada lado. Continuaram o caminho, sem se preocuparem demasiado. Incidentes como aquele eram frequentes numa condução de tal natureza.
De repente, Henry viu que as duas vacas fugitivas se separavam, tomando direcç5es divergentes. Rosemary hesitou, decidindo-se enfim pela da direita.
O rapaz esporeou o cavalo, resolvido a fazer regressar a outra para junto do gado. O quadrúpede depressa atingiu um rápido galope.
Enquanto corria, Henry observou que a rapariga se metia por entre um grupo de árvores, entre as quais havia algumas brenhas. Rosemary desapareceu da vista quase no mesmo instante.
O jovem esporeou ainda mais o cavalo.
De repente, soou um grito agudo.
Henry esticou as rédeas ao animal, detendo-o instantaneamente. Pôs-se de pé nos estribos, tentando ver através da vegetação.
O grito repetiu-se. E agora tinha características muito mais alarmantes que da primeira vez. Henry não vacilou mais. Cravando cruelmente as esporas nos flancos da montada, partiu velozmente para o local onde os gritos tinham soado.
Como um furacão, percorreu a distância em poucos segundos. Embrenhou-se entre as árvores e instantes mais tarde advertia o drama que estava a ponto de se produzir.
Os olhos pareciam sair-lhe das órbitas ao ver a dificílima posição em que se achava a rapariga. O perigo de morte era eminente para Rosemary.
O cavalo tinha tropeçado, caindo no solo e, segundo parecia, partindo o pescoço com a pancada, visto estar absolutamente Imóvel. Rosemary permanecia a alguns metros de distância, meio estendida no chão, contemplando com um olhar apavorado urna figura situada no alto dumas rochas, quase por cima dela.
No seu aturdimento, causado pela queda e também pelo medo, Rosemary tinha por completo esquecido que estava armada. E a figura que se encontrava acima dela era a de um puma. A fera grunhia surdamente. Todos os músculos estavam em tensão, prontos para se distenderem no salto que a faria cair diretamente sobre a presa humana. Henry não hesitou um segundo. Puxando pelo revólver disparou.
A detonação rolou com estrondo. Atingida no momento em que iniciava o salto, a puma rolou pelo solo, rugindo atroadoramente.
— Corra! -- gritou Henry.
A rapariga pareceu reanimar-se. O puma parou de rebolar no chão e ergueu-se, grunhindo e mostrando os dentes de forma ameaçadora. Urna estria vermelha brilhava num dos flancos.
Henry levantou de novo a mão armada, apontando com todo o cuidado. Tornou a premir o gatilho. Falhou o tiro. Naquele mesmo instante, o cavalo, assustado pela presença do felino, fez algo inesperado, erguendo-se nas patas traseiras inopinadamente e derrubando-o de costas no solo.
Ao cair, Henry ficou momentaneamente aturdido pela pancada. O revólver escapou-lhe das mãos.
A fera rugiu mais uma vez. Era evidente que a ferida recebida não fizera senão aumentar-lhe a ferocidade, sem diminuir em nada a sua capacidade ofensiva.
O puma saltou para diante, percorrendo, em grandes saltos, o espaço que o separava da nova presa. Henry viu-se perdido.
A imagem da fera arrojando-se sobre ele aumentou rapidamente de tamanho. Por sobre os rugidos do animal ouviu um grito agudíssimo, que brotava dos trémulos lábios da rapariga. Naquele momento recordou que ainda se podia defender. Puxou pela faca, fazendo relampejar a lâmina no instante preciso em que a fera caía sobre ele.
Esquivou parcialmente a arremetida do puma, deslizando para o lado. Empurrou para diante a mão direita, retirando--a no mesmo instante. A lâmina da faca ficou imediatamente tinta de vermelho.
A fera rugiu. Retorceu-se sobre si mesma, saltando de novo sobre o rapaz.
Henry pôs em prática urna ideia que lhe ocorrera. Com a mão esquerda impeliu o chapéu, ocultando por completo a cabeça do felino e impedindo-lhe assim a visão. Em seguida, tornou a manejar a faca.
Sentiu na coxa esquerda as dilacerações provocadas pelas garras do animal. Mas a mão direita continuava movendo-se ritmicamente, com fúria consciente, sem deixar de acutilar a fera, urna, e outra, e outra vez...
Por fim, a lâmina de aço encontrou a jugular do animal e este desfaleceu, esperneando, cada vez mais debilmente, até ficar absolutamente quieto.
Henry largou a faca, deixando-se cair para: o lado, completamente exausto. O sangue:• corria-lhe das feridas que sofrera, não muito profundas mas dolorosas. A manga esquerda e a perna da calça do mesmo lado estavam dilaceradas pelas garras da fera.
Rosernary correu para ele, ajoelhando a seu lado com expressão ansiosa.
— Henry! — exclamou. — Como se sente?
O rapaz fez um esgar.
— Não muito bem, para dizer a verdade. Isto... dói bastante.
Ela mordeu os lábios.
— Aqui não há nada para o tratar disse. Será preciso voltar ao rancho.
-- Não. Temos de levar as reses a Sage. Você não pode ficar mal colocada só por eu estar momentaneamente inválido.
— As reses não me interessam nada — contestou ela com voz firme — mas sim a vida do homem que salvou a minha. Essas feridas podem infetar se não forem tratadas a tempo. Não são graves, mas as garras do puma podem, em certos casos, ter resultados sérios.
— Bastaria que houvesse por aqui água e um pouco de álcool. Rasgaria a camisa e.,.
— Espere um momento! Vou alcançar os outros dois. Se não se importa irei no seu cavalo.
E, antes que o rapaz pudesse replicar, correu para o animal que, passado o susto, pastava tranquilamente a uns quantos metros de distância. Montou dum salto e partiu a galope.
Regressou minutos mais tarde. Entretanto, Henry tinha ligado as feridas de forma precária com tiras da própria camisa, estancando deste modo a hemorragia.
-- Já está — disse Rosemary, desmontando. -- Mandei ao rancho «S 30» buscar ligaduras e tudo o necessário.
— Que rancho é esse? — inquiriu Henry, surpreendido.
-- Pertence a um tal Streight e encontra-se a umas duas milhas a oeste, em direção transversal à do caminho, que seguimos. Enviei Cutts e estará aqui dentro de meia hora. Entretanto...
— Entretanto... — interrompeu Henry, tentando pôr-se em pé — sugiro-lhe que olhe para a sua esquerda. Veio por ali, não é verdade?
— Sim — confirmou ela muito intrigada. De repente soltou um grito: — Oh!
— Tem razão para ficar assombrada — disse Henry friamente. — O seu cavalo não tropeçou; fizeram-no tropeçar intencionalmente, o que é muito diferente.
Rosemary examinou com olhar estupefacto a corda que jazia no solo a dez ou doze metros de distância, e cuja posição indicava ter sido estendida originariamente entre duas árvores, com a finalidade de derrubar o ginete que passasse desprevenido por aquele local.
— E isto — continuou o rapaz — dá-me uma ideia.
Ela volveu a vista.
— O que quer dizer, Henry?
Este, coxeando, caminhou até apoiar as costas no tronco duma árvore, ficando de frente para o matagal.
— Se pudesse fazê-lo, iria eu próprio lá acima. Em vista da minha atual incapacidade, permito-me rogar-lhe que o faça por mim. Leve uma arma, por favor.
Rosemary agarrou num rifle.
— Que espera encontrar lá em cima?
— Suba e veja por si mesma. Será o melhor. Em certos casos as palavras não são suficientes.
Dez minutos mais tarde notou a silhueta da rapariga sobre uma das rochas.
-- Já encontrei! — gritou lá do alto.
— Desça e conte-me — replicou-lhe o rapaz.
Rosemary chegou junto dele poucos minutos depois. O rosto estava corado pela excitação e as pupilas brilhavam.
— Isto foi indubitavelmente uma armadilha. Há uma jaula, construída de maneira rústica, mas eficaz.
— O que quer dizer que alguém apanhou um puma vivo e o encerrou nessa jaula. O resto compreende-se facilmente.
— Mas... porque queriam matar-me? — exclamou ela, abrindo muito os olhos.
— Tem a certeza de que a puma lhe estava reservada a si?
— O quê? Como?
Henry acendeu novo cigarro.
— A sua presença na expedição não era esperada. Supor-se-ia que eu iria à frente das reses. Naturalmente, se um animal se escapasse, seria eu a persegui-lo. Sucedeu, porém, tudo ao contrário e foi você que largou a correr atrás da vaca. Essas roupas que veste confundem quem quer que seja. Quando o cavalo caiu, o tipo que ai estava emboscado soltou a puma e afastou-se mais que depressa.
— Mas não tem sentido abandonar a jaula.
— Nem a corda. Ele teria porém esperado tranquilamente que a fera acabasse comigo. Então regressaria, levando ambas as coisas para fazer desaparecer os vestígios do crime... porque se trata dum crime, muito simplesmente.
— Que astúcia tão perversamente diabólica! — exclamou a rapariga.
— Por sorte, a coisa reduziu-se a uns arranhões. Graças a si, sem dúvida.
— Graças a mim?
— Claro. Foi quem caiu em meu lugar, não? Quem sabe a forma como eu poderia ter caído?
— 83
Mal tinham começado a caminhada, Henry viu, com não pouca surpresa, que a rapariga, vestindo roupas masculinas, se lhes juntava.
-- Pensei que talvez possam necessitar de ajuda — disse Rosemary.
Henry não fez o menor comentário, facto que pareceu dececioná-la. Todavia, também ela nada disse.
Era já cerca de meio-dia quando, de repente, ocorreu algo inesperado.
Cutts e Amos cavalgavam atrás da manada. Subitamente, duas reses espantaram-se e afastaram-se correndo.
— Vou alcançá-las — gritou Rosemary, picando esporas ao cavalo.
Henry separou-se uns metros das reses e logo se deteve. Contemplou a cavalgada de Rosemary atrás dos animais tresmalhados.
Os outros dois iam à cabeça da manada, um de cada lado. Continuaram o caminho, sem se preocuparem demasiado. Incidentes como aquele eram frequentes numa condução de tal natureza.
De repente, Henry viu que as duas vacas fugitivas se separavam, tomando direcç5es divergentes. Rosemary hesitou, decidindo-se enfim pela da direita.
O rapaz esporeou o cavalo, resolvido a fazer regressar a outra para junto do gado. O quadrúpede depressa atingiu um rápido galope.
Enquanto corria, Henry observou que a rapariga se metia por entre um grupo de árvores, entre as quais havia algumas brenhas. Rosemary desapareceu da vista quase no mesmo instante.
O jovem esporeou ainda mais o cavalo.
De repente, soou um grito agudo.
Henry esticou as rédeas ao animal, detendo-o instantaneamente. Pôs-se de pé nos estribos, tentando ver através da vegetação.
O grito repetiu-se. E agora tinha características muito mais alarmantes que da primeira vez. Henry não vacilou mais. Cravando cruelmente as esporas nos flancos da montada, partiu velozmente para o local onde os gritos tinham soado.
Como um furacão, percorreu a distância em poucos segundos. Embrenhou-se entre as árvores e instantes mais tarde advertia o drama que estava a ponto de se produzir.
Os olhos pareciam sair-lhe das órbitas ao ver a dificílima posição em que se achava a rapariga. O perigo de morte era eminente para Rosemary.
O cavalo tinha tropeçado, caindo no solo e, segundo parecia, partindo o pescoço com a pancada, visto estar absolutamente Imóvel. Rosemary permanecia a alguns metros de distância, meio estendida no chão, contemplando com um olhar apavorado urna figura situada no alto dumas rochas, quase por cima dela.
No seu aturdimento, causado pela queda e também pelo medo, Rosemary tinha por completo esquecido que estava armada. E a figura que se encontrava acima dela era a de um puma. A fera grunhia surdamente. Todos os músculos estavam em tensão, prontos para se distenderem no salto que a faria cair diretamente sobre a presa humana. Henry não hesitou um segundo. Puxando pelo revólver disparou.
A detonação rolou com estrondo. Atingida no momento em que iniciava o salto, a puma rolou pelo solo, rugindo atroadoramente.
— Corra! -- gritou Henry.
A rapariga pareceu reanimar-se. O puma parou de rebolar no chão e ergueu-se, grunhindo e mostrando os dentes de forma ameaçadora. Urna estria vermelha brilhava num dos flancos.
Henry levantou de novo a mão armada, apontando com todo o cuidado. Tornou a premir o gatilho. Falhou o tiro. Naquele mesmo instante, o cavalo, assustado pela presença do felino, fez algo inesperado, erguendo-se nas patas traseiras inopinadamente e derrubando-o de costas no solo.
Ao cair, Henry ficou momentaneamente aturdido pela pancada. O revólver escapou-lhe das mãos.
A fera rugiu mais uma vez. Era evidente que a ferida recebida não fizera senão aumentar-lhe a ferocidade, sem diminuir em nada a sua capacidade ofensiva.
O puma saltou para diante, percorrendo, em grandes saltos, o espaço que o separava da nova presa. Henry viu-se perdido.
A imagem da fera arrojando-se sobre ele aumentou rapidamente de tamanho. Por sobre os rugidos do animal ouviu um grito agudíssimo, que brotava dos trémulos lábios da rapariga. Naquele momento recordou que ainda se podia defender. Puxou pela faca, fazendo relampejar a lâmina no instante preciso em que a fera caía sobre ele.
Esquivou parcialmente a arremetida do puma, deslizando para o lado. Empurrou para diante a mão direita, retirando--a no mesmo instante. A lâmina da faca ficou imediatamente tinta de vermelho.
A fera rugiu. Retorceu-se sobre si mesma, saltando de novo sobre o rapaz.
Henry pôs em prática urna ideia que lhe ocorrera. Com a mão esquerda impeliu o chapéu, ocultando por completo a cabeça do felino e impedindo-lhe assim a visão. Em seguida, tornou a manejar a faca.
Sentiu na coxa esquerda as dilacerações provocadas pelas garras do animal. Mas a mão direita continuava movendo-se ritmicamente, com fúria consciente, sem deixar de acutilar a fera, urna, e outra, e outra vez...
Por fim, a lâmina de aço encontrou a jugular do animal e este desfaleceu, esperneando, cada vez mais debilmente, até ficar absolutamente quieto.
Henry largou a faca, deixando-se cair para: o lado, completamente exausto. O sangue:• corria-lhe das feridas que sofrera, não muito profundas mas dolorosas. A manga esquerda e a perna da calça do mesmo lado estavam dilaceradas pelas garras da fera.
Rosernary correu para ele, ajoelhando a seu lado com expressão ansiosa.
— Henry! — exclamou. — Como se sente?
O rapaz fez um esgar.
— Não muito bem, para dizer a verdade. Isto... dói bastante.
Ela mordeu os lábios.
— Aqui não há nada para o tratar disse. Será preciso voltar ao rancho.
-- Não. Temos de levar as reses a Sage. Você não pode ficar mal colocada só por eu estar momentaneamente inválido.
— As reses não me interessam nada — contestou ela com voz firme — mas sim a vida do homem que salvou a minha. Essas feridas podem infetar se não forem tratadas a tempo. Não são graves, mas as garras do puma podem, em certos casos, ter resultados sérios.
— Bastaria que houvesse por aqui água e um pouco de álcool. Rasgaria a camisa e.,.
— Espere um momento! Vou alcançar os outros dois. Se não se importa irei no seu cavalo.
E, antes que o rapaz pudesse replicar, correu para o animal que, passado o susto, pastava tranquilamente a uns quantos metros de distância. Montou dum salto e partiu a galope.
Regressou minutos mais tarde. Entretanto, Henry tinha ligado as feridas de forma precária com tiras da própria camisa, estancando deste modo a hemorragia.
-- Já está — disse Rosemary, desmontando. -- Mandei ao rancho «S 30» buscar ligaduras e tudo o necessário.
— Que rancho é esse? — inquiriu Henry, surpreendido.
-- Pertence a um tal Streight e encontra-se a umas duas milhas a oeste, em direção transversal à do caminho, que seguimos. Enviei Cutts e estará aqui dentro de meia hora. Entretanto...
— Entretanto... — interrompeu Henry, tentando pôr-se em pé — sugiro-lhe que olhe para a sua esquerda. Veio por ali, não é verdade?
— Sim — confirmou ela muito intrigada. De repente soltou um grito: — Oh!
— Tem razão para ficar assombrada — disse Henry friamente. — O seu cavalo não tropeçou; fizeram-no tropeçar intencionalmente, o que é muito diferente.
Rosemary examinou com olhar estupefacto a corda que jazia no solo a dez ou doze metros de distância, e cuja posição indicava ter sido estendida originariamente entre duas árvores, com a finalidade de derrubar o ginete que passasse desprevenido por aquele local.
— E isto — continuou o rapaz — dá-me uma ideia.
Ela volveu a vista.
— O que quer dizer, Henry?
Este, coxeando, caminhou até apoiar as costas no tronco duma árvore, ficando de frente para o matagal.
— Se pudesse fazê-lo, iria eu próprio lá acima. Em vista da minha atual incapacidade, permito-me rogar-lhe que o faça por mim. Leve uma arma, por favor.
Rosemary agarrou num rifle.
— Que espera encontrar lá em cima?
— Suba e veja por si mesma. Será o melhor. Em certos casos as palavras não são suficientes.
Dez minutos mais tarde notou a silhueta da rapariga sobre uma das rochas.
-- Já encontrei! — gritou lá do alto.
— Desça e conte-me — replicou-lhe o rapaz.
Rosemary chegou junto dele poucos minutos depois. O rosto estava corado pela excitação e as pupilas brilhavam.
— Isto foi indubitavelmente uma armadilha. Há uma jaula, construída de maneira rústica, mas eficaz.
— O que quer dizer que alguém apanhou um puma vivo e o encerrou nessa jaula. O resto compreende-se facilmente.
— Mas... porque queriam matar-me? — exclamou ela, abrindo muito os olhos.
— Tem a certeza de que a puma lhe estava reservada a si?
— O quê? Como?
Henry acendeu novo cigarro.
— A sua presença na expedição não era esperada. Supor-se-ia que eu iria à frente das reses. Naturalmente, se um animal se escapasse, seria eu a persegui-lo. Sucedeu, porém, tudo ao contrário e foi você que largou a correr atrás da vaca. Essas roupas que veste confundem quem quer que seja. Quando o cavalo caiu, o tipo que ai estava emboscado soltou a puma e afastou-se mais que depressa.
— Mas não tem sentido abandonar a jaula.
— Nem a corda. Ele teria porém esperado tranquilamente que a fera acabasse comigo. Então regressaria, levando ambas as coisas para fazer desaparecer os vestígios do crime... porque se trata dum crime, muito simplesmente.
— Que astúcia tão perversamente diabólica! — exclamou a rapariga.
— Por sorte, a coisa reduziu-se a uns arranhões. Graças a si, sem dúvida.
— Graças a mim?
— Claro. Foi quem caiu em meu lugar, não? Quem sabe a forma como eu poderia ter caído?
— 83
Se acaso tivesse perdido o conhecimento desde o primeiro instante, então, antes que você e os outros percebessem o que me sucedia, a fera ter-me-ia retalhado o pescoço. É o seu ponto de ataque predileto.
— Porém... e o assassino?
— Das rochas, e em posição segura, teria disparado tranquilamente contra o puma. Depois, desde que tivesse retirado a corda, a saída era fácil. «Passava por aqui e vi o animal atacar esse homem...» E a quem — concluiu e rapaz — ocorreria olhar ali para cima, onde a jaula ficaria até ocasião mais propícia?
Rosemary teve de concordar que Henry tinha razão.
— Mas porquê, porquê?! — exclamou, insistindo na pergunta.
— Pela mesma razão, suponho, porque mataram os outros vaqueiros. Para obrigá-la a vender o rancho.
Ela ergueu a cabeça em atitude de desafio.
— Jamais o venderei! — exclamou. E ao pronunciar estas palavras o busto m arcou-se firme e bem modelado contra o tecido da blusa.
Por um instante os dois jovens trocaram um olhar que foi como uma faísca elétrica. Depois, ela, ruborizada, baixou a cabeça.
-- Seja como for — murmurou -- devo-lhe a vida, Henry.
— Devemos a vida um ao outro — contestou ele. — E fique certa que não se passará muito tempo sem que eu descubra o autor de todos estes atentados. Sabe? Tenho a impressão de que não é alheio à morte de seus pais.
— Henry! — exclamou ela com veemência. — Deveras? Em que se baseia para assegurar tal coisa?
— Não o assegurei — replicou ele, com um trejeito, pois as feridas doíam-lhe muitíssimo. Limitei-me a manifestar as minhas suspeitas de que os dois casos estão relacionados.
A rapariga aproximou-se dele. Respirava ofegante.
— Henry — disse — descubra os assassinos de meus pais... e conceder-lhe-ei tudo o que me pedir. Ouviu? Tudo, absolutamente tudo, sem lhe negar nada do que desejar possuir de mim.
O jovem estendeu o braço são, apertando-lhe suavemente o ombro.
— O que faço... faço-o porque creio ser a minha obrigação, senhorita Ju...
— Trate-me pelo meu nome: Rosemary.
-- Sim, Rosemary.
Permaneceram silenciosos um momento. O braço de Henry desceu até rodear a cintura da rapariga, atraindo-a para si.
Percebeu claramente o violento bater do coração de Rosemary. Esta ergueu o rosto para ele, entreabrindo os lábios vermelhos, húmidos e suculentos.
As duas cabeças aproximaram-se de forma irresistível. Porém, quando os lábios estavam já prestes a unirem-se num apaixonado beijo, o galope de um cavalo forçou-os a separarem-se com precipitação. Rosemary, vivamente ruborizada, evitou fitar o jovem. Este amaldiçoou entre dentes o importuno que tão a despropósito vinha interrompê-los.
Cutts apareceu montado a cavalo, trazendo outro pela rédea. Neste último via-se um volume de roupas e outros artigos.
— Aqui trago tudo o necessário para tratar o amigo McLeff — disse. — Streight portou-se muito bem, senhorita Jullien.
— Obrigada, Cutts — respondeu ela.
— Porém... e o assassino?
— Das rochas, e em posição segura, teria disparado tranquilamente contra o puma. Depois, desde que tivesse retirado a corda, a saída era fácil. «Passava por aqui e vi o animal atacar esse homem...» E a quem — concluiu e rapaz — ocorreria olhar ali para cima, onde a jaula ficaria até ocasião mais propícia?
Rosemary teve de concordar que Henry tinha razão.
— Mas porquê, porquê?! — exclamou, insistindo na pergunta.
— Pela mesma razão, suponho, porque mataram os outros vaqueiros. Para obrigá-la a vender o rancho.
Ela ergueu a cabeça em atitude de desafio.
— Jamais o venderei! — exclamou. E ao pronunciar estas palavras o busto m arcou-se firme e bem modelado contra o tecido da blusa.
Por um instante os dois jovens trocaram um olhar que foi como uma faísca elétrica. Depois, ela, ruborizada, baixou a cabeça.
-- Seja como for — murmurou -- devo-lhe a vida, Henry.
— Devemos a vida um ao outro — contestou ele. — E fique certa que não se passará muito tempo sem que eu descubra o autor de todos estes atentados. Sabe? Tenho a impressão de que não é alheio à morte de seus pais.
— Henry! — exclamou ela com veemência. — Deveras? Em que se baseia para assegurar tal coisa?
— Não o assegurei — replicou ele, com um trejeito, pois as feridas doíam-lhe muitíssimo. Limitei-me a manifestar as minhas suspeitas de que os dois casos estão relacionados.
A rapariga aproximou-se dele. Respirava ofegante.
— Henry — disse — descubra os assassinos de meus pais... e conceder-lhe-ei tudo o que me pedir. Ouviu? Tudo, absolutamente tudo, sem lhe negar nada do que desejar possuir de mim.
O jovem estendeu o braço são, apertando-lhe suavemente o ombro.
— O que faço... faço-o porque creio ser a minha obrigação, senhorita Ju...
— Trate-me pelo meu nome: Rosemary.
-- Sim, Rosemary.
Permaneceram silenciosos um momento. O braço de Henry desceu até rodear a cintura da rapariga, atraindo-a para si.
Percebeu claramente o violento bater do coração de Rosemary. Esta ergueu o rosto para ele, entreabrindo os lábios vermelhos, húmidos e suculentos.
As duas cabeças aproximaram-se de forma irresistível. Porém, quando os lábios estavam já prestes a unirem-se num apaixonado beijo, o galope de um cavalo forçou-os a separarem-se com precipitação. Rosemary, vivamente ruborizada, evitou fitar o jovem. Este amaldiçoou entre dentes o importuno que tão a despropósito vinha interrompê-los.
Cutts apareceu montado a cavalo, trazendo outro pela rédea. Neste último via-se um volume de roupas e outros artigos.
— Aqui trago tudo o necessário para tratar o amigo McLeff — disse. — Streight portou-se muito bem, senhorita Jullien.
— Obrigada, Cutts — respondeu ela.
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