PAS641. Um filho que regressa
Contexto da passagem: na sua aproximação à família Nielsen, «Colorado» Jim descobre que eles anseiam por encontrar um filho da sua idade raptado pelo chefe índio «Pluma Negra» quando era criança. Partiu à sua procura, depois de um conjunto de peripécias, trouxe-o à família de sangue, mas o grande chefe não se deu por vencido e atacou o rancho dos Nielsen.
Foi tudo tão rápido que «Nevada» Jim nem teve tempo de reagir.
No mesmo instante em que Alex Nielsen caiu atravessado pela lança de «Pluma Negra», vários peles-vermelhas entraram sorrateiramente em casa, pelas traseiras, e dominaram com as suas armas quantos se encontravam no salão principal, junto à porta.
«Nevada» sentiu nas costas a forte pressão de uma lança que se lhe cravava na carne e desistiu da ideia de puxar do revólver.
Após o trágico silêncio que se seguiu à morte do dono do «Três Cruzes», rebentou uma espantosa algaraviada de uivos e gritos, por todos os lados, em sinal de vitória.
«Pluma Negra» permaneceu imóvel, apesar disso, de olhos postos em «Falcão Vermelho», também quieto no seu lugar, diante dele, em atitude orgulhosa.
De súbito, o chefe índio ergueu o braço e o silêncio restabeleceu-se. Alguém voltou a colocar-lhe outra lança na mão, que ele apertou com força, ao mesmo tempo que se aproximava mais do grupo.
«Nevada» Jim, que estava agora junto de «Falcão Vermelho», retesou os músculos, à espera do desenlace. Sentiu-se, porém, surpreendido quando «Pluma Negra» se lhe dirigiu, em vez de ao outro rapaz.
— Quero ver de perto o teu rosto, homem branco — disse, iracundo. — Quer ver bem a cara do homem que vai morrer às minhas mãos dentro de momentos...
— Porquê, «Pluma Negra»? Por que motivo hei-de morrer? — murmurou com voz serena. — A minha missão consistiu apenas em restituir «Falcão Vermelho» aos seus verdadeiros pais.
— Esse homem — e o pele-vermelha apontou com a mão o cadáver de Alex Nielsen — foi um estúpido ao meter-se no caminho da minha lança. Porque o traidor do «Falcão Vermelho» morrerá também, e o seu sacrifício foi inútil.
— De acordo, grande chefe — admitiu «Nevada», com um cínico sorriso nos lábios. — Creio que de nada valeria tentar convencer-te. De qualquer modo, «Falcão Vermelho» e eu já nos considerávamos mortos, quando nos perseguiste na pradaria. Tivemos uns dias de indulto, e mais nada.
— Que tens a ver com esse homem? Quem te meteu na cabeça ires procurar o meu... «Falcão Vermelho»?
— Não pertenço ao «Três Cruzes», nem tenho nada a ver com nenhum dos seus habitantes — e a voz de «Nevada» tornou-se amarga, ao recordar-se de Maria. — Ajudei-os por... simples prazer. É possível que tivesse sede de aventuras.
— Vejo que és valente, homem branco. Não tens medo da morte?
«Nevada» Jim sorriu.
— Não. Podes matar-me agora mesmo.
Fez uma pausa e acrescentou:
— Se lamento tudo isto, é por ele — e apontou com um gesto «Falcão Vermelho». — Por mim, pouco me importa. Sou um assassino e um salteador de diligências que só merece a morte.
— Tens o coração maior do que a cabeça, não achas?
«Nevada» Jim encolheu os ombros e voltou a sorrir com cinismo.
— Por que não acabas com isto de uma vez?
«Pluma Negra» fitou o jovem atentamente. A lança ergueu-se na sua mão direita e ficou no ar, imóvel. «Nevada» Jim esperou, impassível, o golpe que não tardaria muito a fazê-lo passar deste mundo para o outro. Pensou na mãe e na senhora Nielsen. Que parecidas eram ambas a seus olhos!
«Pluma Negra» continuou imóvel. Durante vários segundos, permaneceu nesta atitude. Depois, baixou um pouco a arma que empunhava.
— Admiro-te, homem branco, pelo teu sangue-frio. És o primeiro que encontro diante da minha lança que não treme nem suplica.
«Nevada» Jim permaneceu com os olhos cravados no semblante do chefe índio, e disse, devagar:
— Quero dizer-te uma coisa, «Pluma Negra». Ouve a voz de um homem que vai morrer dentro de instantes. Se matas também «Falcão Vermelho», arrepender-te-ás toda a vida.
O índio acabou de baixar a lança.
— Julgas que o deixarei vivo no meio dos rostos--pálidos?! — gritou. — Queres que se sintam orgulhosos dele, da sua força, do seu poder...? Não! «Falcão Vermelho» é obra minha; fui eu que lhe dei tudo o que possui!...
— Tudo, menos o sangue.
— E que importa isso? Que é o sangue? Dei-lhe dezoito anos de existência a meu lado. Dei-lhe coragem, vigor, inteligência... Dei-lhe o principal num homem...
— E agora queres tirar-lhe tudo com uma lançada no peito...
— É um traidor!
— Nesse caso, mata-o de uma vez! — gritou-lhe «Nevada», enfurecido. — Mata-o e com ele morrerá também metade da tua vida! Mas ouve bem, «Pluma Negra»: «Falcão Vermelho» não é um traidor! Nunca renegou a tua raça. Veio aqui para conhecer apenas a verdade da sua vida. E, contudo, vocês perseguiram-no como a uma fera...
Fez uma pausa e acrescentou:
— «Falcão Vermelho» não procurou nunca defender a sua vida quando nos atacaram, «Pluma Negra». Inclusivamente, impediu-me de disparar contra os teus, antes de cair ferido por uma das suas flechas.
— É verdade isso, «Falcão Vermelho»? É verdade que jamais te viraste contra o meu povo, que nunca o renegaste?
O interpelado não respondeu. Mas fitou com mais altivez ainda o homem que até ali considerara seu pai.
— Não se defenderá, «Pluma Negra» — interveio «Nevada». Herdou o teu orgulho. O orgulho da raça índia. Porém eu não minto: não se virou contra o teu povo nem se portou como um traidor... E quando voltar à Grande Pradaria continuará a ser um mais entre os teus...
No mesmo instante em que Alex Nielsen caiu atravessado pela lança de «Pluma Negra», vários peles-vermelhas entraram sorrateiramente em casa, pelas traseiras, e dominaram com as suas armas quantos se encontravam no salão principal, junto à porta.
«Nevada» sentiu nas costas a forte pressão de uma lança que se lhe cravava na carne e desistiu da ideia de puxar do revólver.
Após o trágico silêncio que se seguiu à morte do dono do «Três Cruzes», rebentou uma espantosa algaraviada de uivos e gritos, por todos os lados, em sinal de vitória.
«Pluma Negra» permaneceu imóvel, apesar disso, de olhos postos em «Falcão Vermelho», também quieto no seu lugar, diante dele, em atitude orgulhosa.
De súbito, o chefe índio ergueu o braço e o silêncio restabeleceu-se. Alguém voltou a colocar-lhe outra lança na mão, que ele apertou com força, ao mesmo tempo que se aproximava mais do grupo.
«Nevada» Jim, que estava agora junto de «Falcão Vermelho», retesou os músculos, à espera do desenlace. Sentiu-se, porém, surpreendido quando «Pluma Negra» se lhe dirigiu, em vez de ao outro rapaz.
— Quero ver de perto o teu rosto, homem branco — disse, iracundo. — Quer ver bem a cara do homem que vai morrer às minhas mãos dentro de momentos...
— Porquê, «Pluma Negra»? Por que motivo hei-de morrer? — murmurou com voz serena. — A minha missão consistiu apenas em restituir «Falcão Vermelho» aos seus verdadeiros pais.
— Esse homem — e o pele-vermelha apontou com a mão o cadáver de Alex Nielsen — foi um estúpido ao meter-se no caminho da minha lança. Porque o traidor do «Falcão Vermelho» morrerá também, e o seu sacrifício foi inútil.
— De acordo, grande chefe — admitiu «Nevada», com um cínico sorriso nos lábios. — Creio que de nada valeria tentar convencer-te. De qualquer modo, «Falcão Vermelho» e eu já nos considerávamos mortos, quando nos perseguiste na pradaria. Tivemos uns dias de indulto, e mais nada.
— Que tens a ver com esse homem? Quem te meteu na cabeça ires procurar o meu... «Falcão Vermelho»?
— Não pertenço ao «Três Cruzes», nem tenho nada a ver com nenhum dos seus habitantes — e a voz de «Nevada» tornou-se amarga, ao recordar-se de Maria. — Ajudei-os por... simples prazer. É possível que tivesse sede de aventuras.
— Vejo que és valente, homem branco. Não tens medo da morte?
«Nevada» Jim sorriu.
— Não. Podes matar-me agora mesmo.
Fez uma pausa e acrescentou:
— Se lamento tudo isto, é por ele — e apontou com um gesto «Falcão Vermelho». — Por mim, pouco me importa. Sou um assassino e um salteador de diligências que só merece a morte.
— Tens o coração maior do que a cabeça, não achas?
«Nevada» Jim encolheu os ombros e voltou a sorrir com cinismo.
— Por que não acabas com isto de uma vez?
«Pluma Negra» fitou o jovem atentamente. A lança ergueu-se na sua mão direita e ficou no ar, imóvel. «Nevada» Jim esperou, impassível, o golpe que não tardaria muito a fazê-lo passar deste mundo para o outro. Pensou na mãe e na senhora Nielsen. Que parecidas eram ambas a seus olhos!
«Pluma Negra» continuou imóvel. Durante vários segundos, permaneceu nesta atitude. Depois, baixou um pouco a arma que empunhava.
— Admiro-te, homem branco, pelo teu sangue-frio. És o primeiro que encontro diante da minha lança que não treme nem suplica.
«Nevada» Jim permaneceu com os olhos cravados no semblante do chefe índio, e disse, devagar:
— Quero dizer-te uma coisa, «Pluma Negra». Ouve a voz de um homem que vai morrer dentro de instantes. Se matas também «Falcão Vermelho», arrepender-te-ás toda a vida.
O índio acabou de baixar a lança.
— Julgas que o deixarei vivo no meio dos rostos--pálidos?! — gritou. — Queres que se sintam orgulhosos dele, da sua força, do seu poder...? Não! «Falcão Vermelho» é obra minha; fui eu que lhe dei tudo o que possui!...
— Tudo, menos o sangue.
— E que importa isso? Que é o sangue? Dei-lhe dezoito anos de existência a meu lado. Dei-lhe coragem, vigor, inteligência... Dei-lhe o principal num homem...
— E agora queres tirar-lhe tudo com uma lançada no peito...
— É um traidor!
— Nesse caso, mata-o de uma vez! — gritou-lhe «Nevada», enfurecido. — Mata-o e com ele morrerá também metade da tua vida! Mas ouve bem, «Pluma Negra»: «Falcão Vermelho» não é um traidor! Nunca renegou a tua raça. Veio aqui para conhecer apenas a verdade da sua vida. E, contudo, vocês perseguiram-no como a uma fera...
Fez uma pausa e acrescentou:
— «Falcão Vermelho» não procurou nunca defender a sua vida quando nos atacaram, «Pluma Negra». Inclusivamente, impediu-me de disparar contra os teus, antes de cair ferido por uma das suas flechas.
— É verdade isso, «Falcão Vermelho»? É verdade que jamais te viraste contra o meu povo, que nunca o renegaste?
O interpelado não respondeu. Mas fitou com mais altivez ainda o homem que até ali considerara seu pai.
— Não se defenderá, «Pluma Negra» — interveio «Nevada». Herdou o teu orgulho. O orgulho da raça índia. Porém eu não minto: não se virou contra o teu povo nem se portou como um traidor... E quando voltar à Grande Pradaria continuará a ser um mais entre os teus...
— Que dizes? — perguntou o índio, cujo tom de voz se adoçara. — Dizes que voltará para os meus, outra vez... por sua própria vontade?
— «Falcão Vermelho» é nobre, valente e fiel, como tu o fizeste. Estou certo de que, de vez em quando, montará a cavalo e partirá para a pradaria, a fim de visitar o seu pai. Não está muito longe. E «Falcão Vermelho» sentar-se-á junto de «Pluma Negra», à roda do fogo, como sempre fez.
— Dizes tudo isso — perguntou — para salvares a tua vida?
— Primeiro disse-te que não me importava de morrer. Agora disse a verdade, para salvar «Falcão Vermelho». Se quiseres, podes acabar comigo. Não posso opor a menor resistência.
Naquele momento, um dos índios aproximou-se a cavalo, velozmente, passou pelo meio dos companheiros que formavam círculo e deteve-se junto do chefe.
— Soldados! — exclamou. — Aproximam-se muito do rio!
— Vamos! — gritou «Pluma Negra» aos seus homens.
Cravou depois a lança em terra e aproximou-se de «Nevada» com a mão direita estendida, enquanto os índios se preparavam para a retirada.
— Desejo apertar-te a mão como fazem os homens brancos — disse. — Encontrei quem me fez ver claro e me impediu de cometer uma vil ação. Que o Grande Espírito te guarde.
«Nevada» Jim correspondeu à saudação, comovido.
— Vai com Ele — respondeu.
Depois «Pluma Negra» aproximou-se de «Falcão Vermelho», devagar, e fitou-o intensamente. Era de novo o olhar de um pai para o seu filho.
— Até à vista, «Falcão Vermelho» — murmurou.
— Até breve... pai — respondeu, por fim, o interpelado.
O pele-vermelha girou então sobre os calcanhares e montou de um salto o seu cavalo. Depois, soltou um grito estridente e partiu veloz em direção oposta à que traziam os soldados. Os homens da sua tribo abriram-lhe caminho e seguiram-no depois, a galope.
— «Falcão Vermelho» é nobre, valente e fiel, como tu o fizeste. Estou certo de que, de vez em quando, montará a cavalo e partirá para a pradaria, a fim de visitar o seu pai. Não está muito longe. E «Falcão Vermelho» sentar-se-á junto de «Pluma Negra», à roda do fogo, como sempre fez.
— Dizes tudo isso — perguntou — para salvares a tua vida?
— Primeiro disse-te que não me importava de morrer. Agora disse a verdade, para salvar «Falcão Vermelho». Se quiseres, podes acabar comigo. Não posso opor a menor resistência.
Naquele momento, um dos índios aproximou-se a cavalo, velozmente, passou pelo meio dos companheiros que formavam círculo e deteve-se junto do chefe.
— Soldados! — exclamou. — Aproximam-se muito do rio!
— Vamos! — gritou «Pluma Negra» aos seus homens.
Cravou depois a lança em terra e aproximou-se de «Nevada» com a mão direita estendida, enquanto os índios se preparavam para a retirada.
— Desejo apertar-te a mão como fazem os homens brancos — disse. — Encontrei quem me fez ver claro e me impediu de cometer uma vil ação. Que o Grande Espírito te guarde.
«Nevada» Jim correspondeu à saudação, comovido.
— Vai com Ele — respondeu.
Depois «Pluma Negra» aproximou-se de «Falcão Vermelho», devagar, e fitou-o intensamente. Era de novo o olhar de um pai para o seu filho.
— Até à vista, «Falcão Vermelho» — murmurou.
— Até breve... pai — respondeu, por fim, o interpelado.
O pele-vermelha girou então sobre os calcanhares e montou de um salto o seu cavalo. Depois, soltou um grito estridente e partiu veloz em direção oposta à que traziam os soldados. Os homens da sua tribo abriram-lhe caminho e seguiram-no depois, a galope.
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