PAS665. Uma arma sem balas para o ajudante do xerife
Joe Stickwell esperava que os seus serviços fossem necessários, indolentemente recostado num cadeirão de verga, arrancando com a navalha as folhas a um pedaço de cana verde. Os, outros ajudantes deambulavam pelo povoado, indiferentes ao intenso calor que parecia abrasar tudo.
O velho Peter Troy, o primeiro ajudante do xerife Tindall, sentado à sua mesa de trabalho, olhava o rapaz de relance.
— Falei de ti com Tindall, rapaz — anunciou sem voltar a cabeça. — Já sabes que vou deixar isto...
Joe pôs-se um pouco; nervoso. Fechou a navalha com mais força.
— Ah... — foi tudo o que lhe ocorreu dizer.
—Está decidido a que ocupes o meu lugar. Disse-mo ele. Que te parece?
O rapaz agitou-se inquieto. Captava a ironia que se ocultava sob a amabilidade de Troy. O velho ressumava amargura e despeito. Andava havia umas semanas a intrigar Tindall para que desse o seu lugar ao seu próprio filha, um garoto inexperiente, mas o xerife recusara-se redondamente.
— Não sei nada a esse respeito. O assunto é com ele.
Peter inclinou a cabeça. O jovem Troy assomou à porta e o pai saudou-o com um gesto.
— Não há nada para mim, pai?
— Não, põe-te a andar! — Calou-se, e em seguida continuou, como se falasse para si próprio: — Alguns têm mais sorte...
Joe fez-se desentendido e dedicou-se à sua tarefa até que o próprio Tindall entrou na secretaria. Era um homem forte, de rosto congestionado. Falou aos gritos como sempre fazia:
— Ocupa-te 'disto., Peter! Um bêbado fechou-se na cavalariça do Vacarro e ameaça queimar tudo! É aquele bruto do Mesa! Está a defender-se a tiros! Há que arrancá-lo de lá, de qualquer maneira, nem que seja à força de chumbo! Correndo!
E Tindall desapareceu no mesmo instante. Peter esboçou um sorriso. Conhecia bem o Mesa. Era um louco perigoso, que, embriagado, se convertia numa autêntica fera. Era preciso arriscar a pele para o enfrentar. Três ou quatro homens poderiam conseguir alguma coisa com menos risco, mas, para um só, representava pouco menos que uma morte certa.
Joe levantou a cabeça, estranhando o silêncio que se seguiu às ordens de Tindall. O velho disse com calma:
— Isto é coisa tua, rapaz. Vai buscá-lo. Tens uma boa oportunidade para mostrares o que vales. Tindall diz que és um prodígio. Suponho que deves estar desejoso de o demonstrar.
O rapaz levantou-se, aborrecido com a atitude do velho, que apenas tinha por única desculpa o amor ao filho. Dirigiu-se à parede e retirou o seu cinturão com um só «Colt», negro e polido. Acercou-se de Troy, e postando-se em frente dele, procedeu com toda a calma ao exame do conteúdo do tambor, fazendo-o girar com o dedo polegar.
— Vou imediatamente, chefe. Se por acaso me demorar muito, pode mandar alguém recolher o meu cadáver. Os outros ajudantes devem estar muito ocupados no «bar»... mas encontrarão um momento livre.
Meteu a arma no coldre e deixou o pesado conjunto sobre a mesa. A cavalariça ficava atrás do edifício. Sem olhar Peter, saiu em busca do seu cavalo.
Troy ficou só e os seus olhos rodeados de pequenas rugas fecharam-se. Tinha ao alcance da mão o revólver do rapaz. Podia dizer-se que a vida de Joe Stickwell dependia daquela arma bem cuidada. Se o mexicano fosse abatido ,por Mesa, Tindall teria de dar o lugar a seu filho...
Já os seus dedos tocavam a coronha quando, arrependido da sua ideia, retirou a mão apressadamente. À entrada da porta ouviu o riso do seu filho, e, então, não hesitou mais. Retirou, o «Colt» do coldre e, com a maior rapidez, esvaziou o tambor, ficando com seis projéteis na mão. Só teve tempo para repor a arma no seu lugar e apertar o punho para esconder a prova da sua canalhice. Joe entrou e, sem se deter, pegou no cinturão e ajustou-o às ancas rapidamente.
— Boa sorte, rapaz! — desejou Peter, corando um pouco.
— Ora, ora! Suponho que você, para chegar ao posto que ocupa, deve ter roído ossos mais duros. Não é assim?
As passadas enérgicas do jovem afastaram-se e em seguida ouviu-se o bater da porta ao fechar-se. Foi então que Peter Troy abriu os dedos, quedando-se a mirar as seis balas que retirara do carregador. Murmurou:
— Isto é pior que disparar a um homem pelas costas! Mesa vai matá-lo com toda a impunidade.
Esteve tentado a correr atrás de Joe para o prevenir de que estava desarmado. O primeiro ajudante tinha na sua história muitos feitos de abnegação e valentia, e nunca julgou que fosse capaz de planear um assassínio repugnante comi tanta frialdade.
Levantou-se repentinamente e resolveu sair para tomar um pouco de ar, embora fizesse um calor abrasador. Além disso, queria estar na primeira fila quando chegasse a notícia do sucedido. Era preciso desviar os comentários para onde lhe convinha. Examinaria o revólver e diria:
— «É possível? Ele tinha a arma descarregada! Esqueceu-se de encher o tambor!».
Passou pelo corredor e foi colocar-se à porta. Então, abriu muito os olhos, surpreendido, incapaz de compreender. Todo o sangue lhe subiu ao rosto, e por fim, conseguiu perguntar ao homem que naquele momento saía do gabinete do xerife:
— Que fazes aqui? E Mesa? Não foste buscá-lo?
Joe Stickwell sorriu-lhe satisfeito. O velho temeu que a sua patifaria houvesse sido descoberta e Joe o tivesse ido acusar a Tindall. Levou a mão à cintura, na prevenção de qualquer contingência. O rapaz respondeu:
-- Não. O xerife chamou-me quando eu me retirava Para me consultar sobre umas coisas. Por isso, não fui à cavalariça do Vacarro...
Peter tranquilizou-se, e quase se alegrou de que o rapaz não tivesse comparecido à sua entrevista com a morte. Fingiu-se aborrecido e resmungou de mau modo:
— Muito bem! E, entretanto, o bêbado que incendeie a povoação! O que teria Tindall para…
O sorriso de Joe ampliou-se mais ao interromper o homem:
— Não se preocupe, Peter. Aquele louco já deve ter sido posto a bom recato. Tindall mandou lá o seu filho... O rapaz ia entusiasmado. É de boa têmpera!
Joe dizia isto de boa fé, e por isso ficou bastante surpreendido ao ver a expressão crispada de Peter Troy, que exclamou furioso:
— Tom? Diabos o levem! Mas se ele nem sequer levava uma arma! Deixou a dele na secretária!
— Não, Peter. O rapaz vai bem armado. Pana não perder tempo dei-lhe o meu «Colt»... Mas... que tem você? Peter! Responda! Que se passa?
O velho Peter Troy, o primeiro ajudante do xerife Tindall, sentado à sua mesa de trabalho, olhava o rapaz de relance.
— Falei de ti com Tindall, rapaz — anunciou sem voltar a cabeça. — Já sabes que vou deixar isto...
Joe pôs-se um pouco; nervoso. Fechou a navalha com mais força.
— Ah... — foi tudo o que lhe ocorreu dizer.
—Está decidido a que ocupes o meu lugar. Disse-mo ele. Que te parece?
O rapaz agitou-se inquieto. Captava a ironia que se ocultava sob a amabilidade de Troy. O velho ressumava amargura e despeito. Andava havia umas semanas a intrigar Tindall para que desse o seu lugar ao seu próprio filha, um garoto inexperiente, mas o xerife recusara-se redondamente.
— Não sei nada a esse respeito. O assunto é com ele.
Peter inclinou a cabeça. O jovem Troy assomou à porta e o pai saudou-o com um gesto.
— Não há nada para mim, pai?
— Não, põe-te a andar! — Calou-se, e em seguida continuou, como se falasse para si próprio: — Alguns têm mais sorte...
Joe fez-se desentendido e dedicou-se à sua tarefa até que o próprio Tindall entrou na secretaria. Era um homem forte, de rosto congestionado. Falou aos gritos como sempre fazia:
— Ocupa-te 'disto., Peter! Um bêbado fechou-se na cavalariça do Vacarro e ameaça queimar tudo! É aquele bruto do Mesa! Está a defender-se a tiros! Há que arrancá-lo de lá, de qualquer maneira, nem que seja à força de chumbo! Correndo!
E Tindall desapareceu no mesmo instante. Peter esboçou um sorriso. Conhecia bem o Mesa. Era um louco perigoso, que, embriagado, se convertia numa autêntica fera. Era preciso arriscar a pele para o enfrentar. Três ou quatro homens poderiam conseguir alguma coisa com menos risco, mas, para um só, representava pouco menos que uma morte certa.
Joe levantou a cabeça, estranhando o silêncio que se seguiu às ordens de Tindall. O velho disse com calma:
— Isto é coisa tua, rapaz. Vai buscá-lo. Tens uma boa oportunidade para mostrares o que vales. Tindall diz que és um prodígio. Suponho que deves estar desejoso de o demonstrar.
O rapaz levantou-se, aborrecido com a atitude do velho, que apenas tinha por única desculpa o amor ao filho. Dirigiu-se à parede e retirou o seu cinturão com um só «Colt», negro e polido. Acercou-se de Troy, e postando-se em frente dele, procedeu com toda a calma ao exame do conteúdo do tambor, fazendo-o girar com o dedo polegar.
— Vou imediatamente, chefe. Se por acaso me demorar muito, pode mandar alguém recolher o meu cadáver. Os outros ajudantes devem estar muito ocupados no «bar»... mas encontrarão um momento livre.
Meteu a arma no coldre e deixou o pesado conjunto sobre a mesa. A cavalariça ficava atrás do edifício. Sem olhar Peter, saiu em busca do seu cavalo.
Troy ficou só e os seus olhos rodeados de pequenas rugas fecharam-se. Tinha ao alcance da mão o revólver do rapaz. Podia dizer-se que a vida de Joe Stickwell dependia daquela arma bem cuidada. Se o mexicano fosse abatido ,por Mesa, Tindall teria de dar o lugar a seu filho...
Já os seus dedos tocavam a coronha quando, arrependido da sua ideia, retirou a mão apressadamente. À entrada da porta ouviu o riso do seu filho, e, então, não hesitou mais. Retirou, o «Colt» do coldre e, com a maior rapidez, esvaziou o tambor, ficando com seis projéteis na mão. Só teve tempo para repor a arma no seu lugar e apertar o punho para esconder a prova da sua canalhice. Joe entrou e, sem se deter, pegou no cinturão e ajustou-o às ancas rapidamente.
— Boa sorte, rapaz! — desejou Peter, corando um pouco.
— Ora, ora! Suponho que você, para chegar ao posto que ocupa, deve ter roído ossos mais duros. Não é assim?
As passadas enérgicas do jovem afastaram-se e em seguida ouviu-se o bater da porta ao fechar-se. Foi então que Peter Troy abriu os dedos, quedando-se a mirar as seis balas que retirara do carregador. Murmurou:
— Isto é pior que disparar a um homem pelas costas! Mesa vai matá-lo com toda a impunidade.
Esteve tentado a correr atrás de Joe para o prevenir de que estava desarmado. O primeiro ajudante tinha na sua história muitos feitos de abnegação e valentia, e nunca julgou que fosse capaz de planear um assassínio repugnante comi tanta frialdade.
Levantou-se repentinamente e resolveu sair para tomar um pouco de ar, embora fizesse um calor abrasador. Além disso, queria estar na primeira fila quando chegasse a notícia do sucedido. Era preciso desviar os comentários para onde lhe convinha. Examinaria o revólver e diria:
— «É possível? Ele tinha a arma descarregada! Esqueceu-se de encher o tambor!».
Passou pelo corredor e foi colocar-se à porta. Então, abriu muito os olhos, surpreendido, incapaz de compreender. Todo o sangue lhe subiu ao rosto, e por fim, conseguiu perguntar ao homem que naquele momento saía do gabinete do xerife:
— Que fazes aqui? E Mesa? Não foste buscá-lo?
Joe Stickwell sorriu-lhe satisfeito. O velho temeu que a sua patifaria houvesse sido descoberta e Joe o tivesse ido acusar a Tindall. Levou a mão à cintura, na prevenção de qualquer contingência. O rapaz respondeu:
-- Não. O xerife chamou-me quando eu me retirava Para me consultar sobre umas coisas. Por isso, não fui à cavalariça do Vacarro...
Peter tranquilizou-se, e quase se alegrou de que o rapaz não tivesse comparecido à sua entrevista com a morte. Fingiu-se aborrecido e resmungou de mau modo:
— Muito bem! E, entretanto, o bêbado que incendeie a povoação! O que teria Tindall para…
O sorriso de Joe ampliou-se mais ao interromper o homem:
— Não se preocupe, Peter. Aquele louco já deve ter sido posto a bom recato. Tindall mandou lá o seu filho... O rapaz ia entusiasmado. É de boa têmpera!
Joe dizia isto de boa fé, e por isso ficou bastante surpreendido ao ver a expressão crispada de Peter Troy, que exclamou furioso:
— Tom? Diabos o levem! Mas se ele nem sequer levava uma arma! Deixou a dele na secretária!
— Não, Peter. O rapaz vai bem armado. Pana não perder tempo dei-lhe o meu «Colt»... Mas... que tem você? Peter! Responda! Que se passa?
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