PAS666. De ajudante de xerife a assaltante de diligências
Seis semanas haviam decorrido desde que fora pelos ares o depósito de pólvora de Monterrey. Sobre um pico dos Montes Tehechpi, viam-se três cavaleiros imóveis, como se formassem parte da dura paisagem. Pareciam contemplar a grande superfície morta do Deserto Mojave, que se estendia até aos Montes São Bernardino. Não falavam. O do meio tinha a aba do chapéu descida sobre a fronte. Os dos lados não necessitavam dessa precauçâo porque a imensa roda dos seus chapéus projetava sombra suficiente.
— Já lá vêm! — exclamou Nacho Salazar, apontando da direção Este.
Ramirez assentiu. Uma pequena nuvem de pó aproximava-se pela planura. Fez um sinal aos dois companheiros, e os três subiram os lenços com o desembaraço de quem já havia 'executado aquele movimento muitas vezes. Esperaram ainda um pouco e quando julgaram chegado o momento, lançaram-se na descensão, deixando resvalar os cavalos pelo declive. Era unia maneira rápida e excitante de encurtar distâncias.
A diligência de Las Vegas avançava, arrastada briosamente per duas parelhas de cavalos frescos, mudados havia apenas umas horas numa estalagem de Inyokern. Os três mascarados ocultaram-se atrás de duas rochas até que Ramirez ordenou:
— Vamos! Preguemos-lhe um bom susto!
Bateram com as palmas das mãos no pescoço dos cavalos e romperam numa carreira desordenada. Nacho e Villiarreal começaram .a soltar gritos estridentes; como se estivessem- num «rodeo» de Tijuana, e disparando, os revólveres para o ar.
.A aparição idos três cavaleiros surpreendeu desagradavelmente o cocheiro, que se apressou a soltar as rédeas para deitar a mão à espingarda. Mas logo pensou que não era fácil acertar naqueles três vultos móveis, e fustigou os cavalos para que adquirissem maior velocidade no andamento.
Ramirez vinha à cabeça. Inclinou-se para um lado e disparou o seu «Colt»!...Parecia incrível que pudesse fazer pontaria naquelas condições. Não obstante, o condutor da diligência largou o chicote e dobrou-se, tentando firmar-se no assento, com uma bala no' ombro. Os cavados estacaram ajudados por Nacho que lhes segurou as rédeas.
A diligência dava a impressão de ir vazia. Ninguém assomou nem pretendeu defender-se. Ramirez e os seus companheiros aproximaram-se calmamente. Vilarreal desceu do cavalo e dirigiu-se à portinhola, que abriu, e, sem o menor receio de receber uma bala na cabeça, espreitou para dentro. Examinou, com atenção as seis pessoas que se encolhiam no assento, e depois anunciou fiara fora:
-- Todos ianques, chefe! — soltou uma gargalhada. — Conquistadores!
Ramirez engatilhou o revólver.
— Bem. Que desçam um por um.
O primeiro a aparecer foi um sujeito gordo, que pretendia mostrar altivez. Villarreal, trocista, saudou-o com uma grande vénia. Depois, desceu o rapaz magro, que olhava para todos horrorizado, e ainda um vendedor charlatão, que ria, dizendo chistes. A este seguiram-se dois homens de idade, dois pesquisadores de fortuna que mereceram certa atenção dos assaltantes. Villarreal esperou um pouco e tornando a espreitar para dentro de diligência disse:
— Vamos, princesa! Um pouco de ar fresco vai fazer-lhe bem! Quer que a ajude?
O oferecimento fez que o último dos passageiros se apressasse a descer. Ramirez e Nacho ficaram surpreendidos. Era uma mulher. Uma mulher jovem, verdadeiramente encantadora de rosto perfeito e feições delicadas, um produto da mais requintada civilização do Este, que resultava deliciosamente deslocado no deserto de Mojave. Vestia com simplicidade e apertava os lábios, denotando decisão e firmeza de carácter.
— Se houvesse apenas um homem nesta, diligência, não se ririam tão comodamente de nós! — disse ela, relanceando o olhar pelos companheiros de viagem. — Podem começar a despojar-nos do que trazemos.
Ramirez mostrou-se um pouco apático a partir daquele momento. Havia conhecido muitas mulheres, mas aquela desconcertava-o. Nacho murmurou a seu lado.
— Uma preciosidade! Realmente, é uma pena deixá-la aqui abandonada!
— Não sejas cínico, Nacho. E Estrela?
Salazar embatucou e desceu o lenço.
O mexicano empurrou os viajantes com o cano do seu revólver e todos se apressaram a obedecer. Quando ficaram agrupados junto às rochas, Nacho desceu da sua montada. Com uma navalha cortou os arreios dos cavalos, que se afastaram devagar para se deterem um pouco mais longe. Depois, ordenou, a dois dos passageiros que descessem o cocheiro e pousaram-no no chão. O homem havia desmaiado. Agora, só restava largar fogo à carruagem. Villarreal efetuou esse trabalho com verdadeiro entusiasmo. A madeira ressequida da diligência era um esplêndido combustível, e com o carro arderam também as bagagens dos passageiros.
— Seguramente, a menina trazia bonitos vestidos —disse Ramirez acercando-se da rapariga e contemplando-a com admiração. — Teria feito, melhor em os exibir na sua terra. Aqui, na Califórnia., a vida não é muito cómoda, sobretudo para os ianques.
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— Já lá vêm! — exclamou Nacho Salazar, apontando da direção Este.
Ramirez assentiu. Uma pequena nuvem de pó aproximava-se pela planura. Fez um sinal aos dois companheiros, e os três subiram os lenços com o desembaraço de quem já havia 'executado aquele movimento muitas vezes. Esperaram ainda um pouco e quando julgaram chegado o momento, lançaram-se na descensão, deixando resvalar os cavalos pelo declive. Era unia maneira rápida e excitante de encurtar distâncias.
A diligência de Las Vegas avançava, arrastada briosamente per duas parelhas de cavalos frescos, mudados havia apenas umas horas numa estalagem de Inyokern. Os três mascarados ocultaram-se atrás de duas rochas até que Ramirez ordenou:
— Vamos! Preguemos-lhe um bom susto!
Bateram com as palmas das mãos no pescoço dos cavalos e romperam numa carreira desordenada. Nacho e Villiarreal começaram .a soltar gritos estridentes; como se estivessem- num «rodeo» de Tijuana, e disparando, os revólveres para o ar.
.A aparição idos três cavaleiros surpreendeu desagradavelmente o cocheiro, que se apressou a soltar as rédeas para deitar a mão à espingarda. Mas logo pensou que não era fácil acertar naqueles três vultos móveis, e fustigou os cavalos para que adquirissem maior velocidade no andamento.
Ramirez vinha à cabeça. Inclinou-se para um lado e disparou o seu «Colt»!...Parecia incrível que pudesse fazer pontaria naquelas condições. Não obstante, o condutor da diligência largou o chicote e dobrou-se, tentando firmar-se no assento, com uma bala no' ombro. Os cavados estacaram ajudados por Nacho que lhes segurou as rédeas.
A diligência dava a impressão de ir vazia. Ninguém assomou nem pretendeu defender-se. Ramirez e os seus companheiros aproximaram-se calmamente. Vilarreal desceu do cavalo e dirigiu-se à portinhola, que abriu, e, sem o menor receio de receber uma bala na cabeça, espreitou para dentro. Examinou, com atenção as seis pessoas que se encolhiam no assento, e depois anunciou fiara fora:
-- Todos ianques, chefe! — soltou uma gargalhada. — Conquistadores!
Ramirez engatilhou o revólver.
— Bem. Que desçam um por um.
O primeiro a aparecer foi um sujeito gordo, que pretendia mostrar altivez. Villarreal, trocista, saudou-o com uma grande vénia. Depois, desceu o rapaz magro, que olhava para todos horrorizado, e ainda um vendedor charlatão, que ria, dizendo chistes. A este seguiram-se dois homens de idade, dois pesquisadores de fortuna que mereceram certa atenção dos assaltantes. Villarreal esperou um pouco e tornando a espreitar para dentro de diligência disse:
— Vamos, princesa! Um pouco de ar fresco vai fazer-lhe bem! Quer que a ajude?
O oferecimento fez que o último dos passageiros se apressasse a descer. Ramirez e Nacho ficaram surpreendidos. Era uma mulher. Uma mulher jovem, verdadeiramente encantadora de rosto perfeito e feições delicadas, um produto da mais requintada civilização do Este, que resultava deliciosamente deslocado no deserto de Mojave. Vestia com simplicidade e apertava os lábios, denotando decisão e firmeza de carácter.
— Se houvesse apenas um homem nesta, diligência, não se ririam tão comodamente de nós! — disse ela, relanceando o olhar pelos companheiros de viagem. — Podem começar a despojar-nos do que trazemos.
Ramirez mostrou-se um pouco apático a partir daquele momento. Havia conhecido muitas mulheres, mas aquela desconcertava-o. Nacho murmurou a seu lado.
— Uma preciosidade! Realmente, é uma pena deixá-la aqui abandonada!
— Não sejas cínico, Nacho. E Estrela?
Salazar embatucou e desceu o lenço.
O mexicano empurrou os viajantes com o cano do seu revólver e todos se apressaram a obedecer. Quando ficaram agrupados junto às rochas, Nacho desceu da sua montada. Com uma navalha cortou os arreios dos cavalos, que se afastaram devagar para se deterem um pouco mais longe. Depois, ordenou, a dois dos passageiros que descessem o cocheiro e pousaram-no no chão. O homem havia desmaiado. Agora, só restava largar fogo à carruagem. Villarreal efetuou esse trabalho com verdadeiro entusiasmo. A madeira ressequida da diligência era um esplêndido combustível, e com o carro arderam também as bagagens dos passageiros.
— Seguramente, a menina trazia bonitos vestidos —disse Ramirez acercando-se da rapariga e contemplando-a com admiração. — Teria feito, melhor em os exibir na sua terra. Aqui, na Califórnia., a vida não é muito cómoda, sobretudo para os ianques.
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— Você é o «Perigoso», não é verdade? --- perguntou ela.
— Assim me chamam os amigos: Suponho que não quererá dizer-me o seu nome.
Nacho aproximou-se. Trazia na mão um pedaço de coiro caído da diligência. Era a asa duma maleta, à qual eslava preso um cantão. Leu em voz alta:
-- Luisa Davis, de Virgínia. Bonito nome!
Lançou-a ao fogo e montou seu cavalo, advertindo:
— Vamos, rapaz. As chamas podem atrair algum curioso.
«Perigoso» separou-se do grupo. Villarreal vigiava os cinco homens cuidadosamente, visto que todos estavam armados. O jovem que fora ajudante do xerife em Erva Boa levou a mão à aba do chapéu.
— Lamento muito o que acontece, menina Davis. Terão de caminhar bastante até que encontrem a primeira povoação. Com um pouco de sorte talvez o consigam sem apanharem alguma insolação. Assim terão oportunidade de conhecer uma das zonas mais interessantes da Califórnia. — Olhou os homens— Os senhores foram muito prudentes. Se eu levasse por companheira de viagem uma mulher como esta, não haveria ninguém que pusesse obstáculos. Mas é melhor estar vivo que heroicamente morto. Nisso têm razão.
— Você não, passa dum bandido, «Perigoso»! Mas acabará na forca sem a menor heroicidade!— gritou Luísa Davis com rancor. —.Os seus próprios amigos acabarão por odiá-lo! Pode estar certo disso! Há muitos como você no Oeste! Não tenha pretensões da herói É um bandoleiro e nada mais! Sim, um bandoleiro!
Ramirez esteve tentado a dar uma, lição àquela ferazinha, mas não o fez. Nacho e Villarreal esperavam, vigiando o grupo que tinham imobilizado sob as suas armas. Cruzou o seu olhar com o da jovem e estremeceu. Pela primeira vez, baixou a cabeça, sem poder explicar o desassossego que o invadiu. Deu meia volta ao cavalo e afastou-se a trote.
— Nada de gracinhas, senhores! Guardem as suas forças para o caminho! E, se encontrarem uma ou outra caveira, não desanimem! — gritou-lhes Nacho.
Espantaram os cavalos da diligência. e afastara-se. Então, soaram tiros dos valentes passageiros, que se perderam sem atingir ninguém.
Treparam por um carreiro arenoso. Ramirez voltou-se para olhar o grupo e murmurou:
— A rapariga não resistirá... Talvez devêssemos...
— Não sejas agora tão sensível! — disse Villarreal. —Se algum deles tem coragem é ela. Demais, não passam de suínos ianques!
— Assim me chamam os amigos: Suponho que não quererá dizer-me o seu nome.
Nacho aproximou-se. Trazia na mão um pedaço de coiro caído da diligência. Era a asa duma maleta, à qual eslava preso um cantão. Leu em voz alta:
-- Luisa Davis, de Virgínia. Bonito nome!
Lançou-a ao fogo e montou seu cavalo, advertindo:
— Vamos, rapaz. As chamas podem atrair algum curioso.
«Perigoso» separou-se do grupo. Villarreal vigiava os cinco homens cuidadosamente, visto que todos estavam armados. O jovem que fora ajudante do xerife em Erva Boa levou a mão à aba do chapéu.
— Lamento muito o que acontece, menina Davis. Terão de caminhar bastante até que encontrem a primeira povoação. Com um pouco de sorte talvez o consigam sem apanharem alguma insolação. Assim terão oportunidade de conhecer uma das zonas mais interessantes da Califórnia. — Olhou os homens— Os senhores foram muito prudentes. Se eu levasse por companheira de viagem uma mulher como esta, não haveria ninguém que pusesse obstáculos. Mas é melhor estar vivo que heroicamente morto. Nisso têm razão.
— Você não, passa dum bandido, «Perigoso»! Mas acabará na forca sem a menor heroicidade!— gritou Luísa Davis com rancor. —.Os seus próprios amigos acabarão por odiá-lo! Pode estar certo disso! Há muitos como você no Oeste! Não tenha pretensões da herói É um bandoleiro e nada mais! Sim, um bandoleiro!
Ramirez esteve tentado a dar uma, lição àquela ferazinha, mas não o fez. Nacho e Villarreal esperavam, vigiando o grupo que tinham imobilizado sob as suas armas. Cruzou o seu olhar com o da jovem e estremeceu. Pela primeira vez, baixou a cabeça, sem poder explicar o desassossego que o invadiu. Deu meia volta ao cavalo e afastou-se a trote.
— Nada de gracinhas, senhores! Guardem as suas forças para o caminho! E, se encontrarem uma ou outra caveira, não desanimem! — gritou-lhes Nacho.
Espantaram os cavalos da diligência. e afastara-se. Então, soaram tiros dos valentes passageiros, que se perderam sem atingir ninguém.
Treparam por um carreiro arenoso. Ramirez voltou-se para olhar o grupo e murmurou:
— A rapariga não resistirá... Talvez devêssemos...
— Não sejas agora tão sensível! — disse Villarreal. —Se algum deles tem coragem é ela. Demais, não passam de suínos ianques!
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