CLF074. CAP IX. A menina da cidade torna-se pioneira
Como ainda empunhasse o rifle com a mão direita e com a esquerda os alforges de Travis, Duncan limitou-se a pestanejar, tentando desvanecer o que julgava miragem. Mas não se tratava disso. Kitty estava ali, até muito mais real que o resto das pessoas que a rodeavam, nem sequer se preocupando em as identificar.
De repente, ela avançou para ele em passo incerto e deu conta de que o corpanzil do velho Brown se encontrava a seu lado, empurrando-a para a frente.
— Vamos, menina Kitty — disse o velho rancheiro. — Aí o tem! Que espera para correr para os seus braços? Demonstre-lhe como estamos contentes em o ver. Você pode fazê-lo melhor que ninguém.
E ela correu a deitar-lhe os braços ao pescoço.
Então, ao senti-la pôr-se nos bicos dos pés para o beijar nos lábios, deu conta de que não a tinha esquecido nem um só momento, desde a última vez que a vira. E, ainda, que aquele beijo teve o sabor do pó alcalino que lhe chegava dolorosamente aos olhos e ao nariz, à garganta e aos pulmões. Tudo isto levou-o a compreender que a amava, como jamais qualquer amara outra mulher.
Deixando cair os alforges e lançando o rifle para o rancheiro, apanhou a jovem pelos redondos ombros, afastando-a para a mirar.
Pequena! — murmurou, roucamente. — Não vez que estou horrivelmente sujo!
Ela sacudiu a cabeça, incapaz de falar, e duas grossas lágrimas lhe rolaram pelas faces.
Duncan recreou-se a contemplá-la. Era, como já o pensara uma vez, muito bonita. A um homem doía-lhe o coração só de a olhar, sobretudo se havia uma eternidade que não via nada de feminino.
— Como... como estás aqui? — murmurou. E tentou convencer-se: — Devo estar sonhan-do, concerteza!
— Vamos, rapazes, será melhor que entreis. Nas margens do rio pode ter ficado algum índio e a cena é demasiado bonita para ser interrompida por um balázio.
As palavras do rancheiro fizeram Duncan voltar à realidade e, desprendendo-se suavemente dos braços que o aprisionavam, conduziu Kitty para o interior da cabana.
A cabana grande era, em parte, casa de habitação e de comércio. Atravessaram-na para chegar ao lugar destinado à residência, uma habitação feita de grandes paredes de troncos, com uma chaminé, móveis rústicos e um divã. Havia adjacentes, outros quartos peque-nos para dormir, e sala-de-estar.
O corpulento rancheiro, cujas barbas brancas não precisavam da ajuda do pó para lhe darem o aspeto de profeta do «Velho Testamento», não deu tempo aos jovens para dizer urna só palavra.
— Vá à cozinha e lave a cara, rapaz — disse ele a Duncan. — Não economize água porque tivemos tempo de nos abastecer e a ocasião bem o merece. E dar-lhe-ei uma camisa lavada. Tal como se apresenta agora, perece mas é um espanta-pardais.
Duncan não o deixou repetir, e quando voltou à sala grande, encontrou-se com os olhos sorridentes de quantos ali se encontravam, mas não viu Kitty.
— Em cima, sorriu Brown, fazendo um gesto com a sua grande cabeça, para a escada. — Mandei-a subir porque ali, não os estorvarão nenhum desses diabos. Devem ter muitas coisas para dizer, e também nós estamos ansioso por notícias, que Travis ou os outros nos darão sem nos afogarmos em suspiros. E não te preocupes com os índios. Tenho homens de sentinela que darão o alarme quando eles se aproximarem.
Rindo, Duncan, subiu rapidamente as escadas. Topou com uma sala ampla de tetos baixos e inclinados, de modo que só no meio era possível permanecer direito, de pé. Ali o esperava Kitty.
De repente, ela avançou para ele em passo incerto e deu conta de que o corpanzil do velho Brown se encontrava a seu lado, empurrando-a para a frente.
— Vamos, menina Kitty — disse o velho rancheiro. — Aí o tem! Que espera para correr para os seus braços? Demonstre-lhe como estamos contentes em o ver. Você pode fazê-lo melhor que ninguém.
E ela correu a deitar-lhe os braços ao pescoço.
Então, ao senti-la pôr-se nos bicos dos pés para o beijar nos lábios, deu conta de que não a tinha esquecido nem um só momento, desde a última vez que a vira. E, ainda, que aquele beijo teve o sabor do pó alcalino que lhe chegava dolorosamente aos olhos e ao nariz, à garganta e aos pulmões. Tudo isto levou-o a compreender que a amava, como jamais qualquer amara outra mulher.
Deixando cair os alforges e lançando o rifle para o rancheiro, apanhou a jovem pelos redondos ombros, afastando-a para a mirar.
Pequena! — murmurou, roucamente. — Não vez que estou horrivelmente sujo!
Ela sacudiu a cabeça, incapaz de falar, e duas grossas lágrimas lhe rolaram pelas faces.
Duncan recreou-se a contemplá-la. Era, como já o pensara uma vez, muito bonita. A um homem doía-lhe o coração só de a olhar, sobretudo se havia uma eternidade que não via nada de feminino.
— Como... como estás aqui? — murmurou. E tentou convencer-se: — Devo estar sonhan-do, concerteza!
— Vamos, rapazes, será melhor que entreis. Nas margens do rio pode ter ficado algum índio e a cena é demasiado bonita para ser interrompida por um balázio.
As palavras do rancheiro fizeram Duncan voltar à realidade e, desprendendo-se suavemente dos braços que o aprisionavam, conduziu Kitty para o interior da cabana.
A cabana grande era, em parte, casa de habitação e de comércio. Atravessaram-na para chegar ao lugar destinado à residência, uma habitação feita de grandes paredes de troncos, com uma chaminé, móveis rústicos e um divã. Havia adjacentes, outros quartos peque-nos para dormir, e sala-de-estar.
O corpulento rancheiro, cujas barbas brancas não precisavam da ajuda do pó para lhe darem o aspeto de profeta do «Velho Testamento», não deu tempo aos jovens para dizer urna só palavra.
— Vá à cozinha e lave a cara, rapaz — disse ele a Duncan. — Não economize água porque tivemos tempo de nos abastecer e a ocasião bem o merece. E dar-lhe-ei uma camisa lavada. Tal como se apresenta agora, perece mas é um espanta-pardais.
Duncan não o deixou repetir, e quando voltou à sala grande, encontrou-se com os olhos sorridentes de quantos ali se encontravam, mas não viu Kitty.
— Em cima, sorriu Brown, fazendo um gesto com a sua grande cabeça, para a escada. — Mandei-a subir porque ali, não os estorvarão nenhum desses diabos. Devem ter muitas coisas para dizer, e também nós estamos ansioso por notícias, que Travis ou os outros nos darão sem nos afogarmos em suspiros. E não te preocupes com os índios. Tenho homens de sentinela que darão o alarme quando eles se aproximarem.
Rindo, Duncan, subiu rapidamente as escadas. Topou com uma sala ampla de tetos baixos e inclinados, de modo que só no meio era possível permanecer direito, de pé. Ali o esperava Kitty.
-- Duncan! — murmurou ela, receosa.
O jovem avançou devagar para a jovem, e agarrando-a pela cintura, olhou-a nos olhos.
— Devo estar sonhando — repetiu.
Ela rodeou-lhe o pescoço com os braços e apertou-o contra o peito.
Duncan com o dedo debaixo do queixo, obrigou-a a levantar a cara cheia de lágrimas.
— Sim, é um sonho disse muito a medo, — Um sonho maravilhoso.
Inclinando-se, beijou aqueles lábios que responderam à carícia com desespero.
— Como é possível estares aqui? — perguntou, bastante tempo depois.
Catherine, com a loira cabeça apoiada no ombro, demorou um momento a responder:
— Meu irmão não morreu — disse por fim, — pelo que nunca deixei de dar graças a Deus. Esteve bastante mal, isso sim, mas decorridos que foram quinze dias, o perigo havia passado. Compreendi, então, que seria eu quem morreria se tivesse de renunciar a ti para sempre. Amei-te toda a minha vida, Duncan! Desde que vivias com os teus avós e eras o rapaz mais bonito e mais arrogante de toda a cidade. Quando nem sequer davas conta da minha existência, porque tinhas já quinze anos e eu não completara ainda os oito.
Duncan apertou-a ainda mais.
— Querida! — murmurou.
— Desde que partiste que vivia como uma sonâmbula — continuou ela, muito lentamente, — sem responder muitas vezes quando me falavam. Até que não pude resistir mais.
— Fugiste de tua casa? — perguntou Duncan, alarmado.
— Não foi necessário — respondeu ela, baixando a dourada cabeça e desviando o olhar.
— Queres dizer que o teu pai te deixou?...
Duncan não saía do seu assombro.
— Disse-lhe que tu... que eu... Que ia ter um filho — terminou a voz de Kitty, apressadamente.
Os olhos parados de Duncan abriram-se de espanto. Ela levantou a cabeça e os seus enormes olhos cor de violeta olharam-no de uma maneira tímida e divertida.
— Naturalmente, não é verdade. É surpreendente a facilidade com que todos acreditaram nessa mentira quando jamais aceitariam a verdade do que se passou realmente na casa dos Sompayrac. Quando lhes disse que queria reunir-me a ti, deram-me uma grande quantidade de dinheiro e puseram-me no barco, muito contentes de se verem livres de mim tão facilmente. Tinham que salvar a honra da família — terminou lenta e amargamente. — Isso era o importante.
Mas Duncan não a ouvia. Estava rindo às gargalhadas. Depois, inclinando-se para ela, beijou-a apaixonadamente.
— O que não compreendo, é como conseguiste dar comigo.
Catherine levantou a cabeça e um brilho travesso bailava-lhe nos olhos.
— Foi o capitão Wilson quem mo disse! De princípio não queria fazê-lo, mas a história do menino!...
Rudger voltou a rir-se.
— Pequena mentirosa — disse baixinho, carinhosamente.
Mas de repente pôs-se sério. Acabava de compreender, que com aquilo, a jovem tinha fechado as portas de sua casa.
— Que tens, Duncan? — murmurou Kitty, que tinha notado a súbita mudança de expressão. Será que já não me amas, ou... que nunca pensaste casares-te comigo?
— Isso não! — disse franzindo o cenho, —mas terá que passar um ano, antes que nos possamos casar, visto só nessa altura poder apresentar a minha demissão nos rurais. Estás a compreender? Entretanto, que farás?
As mãos de Catherine acariciaram os cabe-los húmidos, e recostou-se no seu peito com um suspiro de alívio.
— Temi... Temi... Oh, Duncan! Que susto me pregaste! — murmurou.
— Eu tinha pensado ficar nestas terras quando terminasse o meu compromisso. Mas, compreendeste já, que isto não é sítio para ti? Demasiado selvagem. De qualquer modo...
— Mas se me encanta! — interrompeu ela. -- Os Brown são umas pessoas encantadoras e já combinámos que ficarei com eles enquanto cumprires o teu compromisso. Depois o senhor Brown tem um pedaço de terra maravilhoso, e no-lo venderá por pouco dinheiro! Todos nos ajudarão a construir a casa e quanto necessitemos! Compraremos algum gado e seremos rancheiros! Não é magnífico?
Duncan afastou-a um pouco para podê-la mirar com gravidade.
— Estás a falar a sério?
Ela dirigiu-lhe um sorriso luminoso.
— Claro que sim! Se é isso que desejas!
— Queres dizer que não te assustam os índios, o ar selvagem desta região e a sua solidão?
— O senhor Brown diz que o Exército acabará por empurrar os índios para longe daqui e que esta é a melhor região ganadeira do mundo. Gosto do exótico destas paragens, e tu és a única companhia de que necessito! Sem contar com os Brown que são uns vizinhos encantadores.
Rudger voltou-se, dando uns passos enquanto esfregava a nuca com as mãos. Tudo o que Kitty acabava de dizer era a realização do sonho que tinha começado a acariciar desde há algum tempo, mas não lhe parecia que a sua realização fosse possível! Estava muito confuso.
— Dás conta de que tudo isto é muito diferente daquilo a que estás acostumada? A vida é rude na fronteira, especialmente para uma mulher.
Ela aproximou-se e levantando as mãos até aos ombros começou a mexer no colarinho da camisa!
— Tenho quase um ano para aprender, Duncan — murmurou. — Comecei-o já. A senhora Brown é muito amável e deixa-me que a ajude na cozinha! Diz que aprenderei depressa e, além disso, eu gosto!
Os olhos de Duncan adquiriram um tom mais claro.
— Estás ciente de que é isso que queres? — perguntou, enlaçando-a de novo.
— Sim — murmurou ela com os olhos violeta rasos de lágrimas, que significavam a felicidade que lhe ia na alma.
Contemplando a esbelta mulher que tinha nos seus braços, Duncan sentiu de repente uma imensa alegria! As esgotantes cavalgadas, o cansaço, a dor... tudo desaparecera! Puxou-a carinhosamente para si, e o seu musculoso corpo relaxou-se numa sensação de ternura. Inclinou-se sobre ela e beijando-a longamente.
*
Inclinado como estava para não bater com a cabeça no teto, e apalpando os objetos para evitar bater nos móveis velhos, Duncan dirigiu-se para a claraboia, cuja estreita abertura deixava entrar a luz, graças ao brilhante luar que fazia.
Ao aproximar-se mais, viu uma sombra que vigiava e foi notado ao mesmo tempo, porque se ouviu mexer.
— Dunc? — perguntou lentamente a voz grossa do rancheiro.
— Sim. — disse Dunc.
— Despertou de um bom sonho, hein? Não há dúvida de que o necessitava.
— Com efeito. Agora estou completamente descansado. Que se passa?
— Índios! Creio que se propõem fazer-nos uma visita.
— Tinha ouvido dizer que os peles-vermelhas não atacavam de noite.
— E assim é, regra geral! Não gostam de morrer depois do pôr-do-sol. Segundo as suas crenças, o espírito do homem perde-se na escuridão. Mas fazem muitas exceções, de modo que não se pode admitir urna regra fixa.
— Onde estão?
— Ali. Perto do rio.
— Entre as árvores?
— Alguns estão muito mais próximos! Se fixares, ao fim da cerca do curral, onde faz esquina, verás uns vultos escuros que se movem muito lentamente. Esses diabos arrastam-se corno répteis, mas neste terreno plano e com esta lua, as suas manhas não lhe servem de grande coisa! Tive sempre a precaução de ter um amplo espaço descampado em volta da casa, e agora verifico o acerto desta medida, ainda que umas árvores sejam muito decorativas para tão desoladora paisagem. Nunca o esqueças, Aduncam, se é que aqui te queres instalar.
Mas Aduncam já não o ouvia. Ao olhar na direção que o rancheiro lhe havia indicado, pareceu-lhe ver fazer lume, e agora tinha-se repetido essa luminosidade. Estava bem certo do que vira.
— Há urna luz ali — disse. — Vi-a brilhar duas vezes. É como se alguém levasse um archote ou coisa parecida, oculta de alguma maneira!
— Quê!
A explosiva exclamação de Brown produziu-lhe um sobressalto.
— Vi muito bem — afirmou. — Está ali, até...
— Atenção, rapazes! — ouviu-se o vozeirão do rancheiro, interrompendo-o. — Vão atacar-nos com flechas incendiárias. Disparem contra todo o vulto suspeito. Rápido, não os deixem aproximar-se, ou assam-nos a todos aqui dentro.
Duncan sentiu que o coração lhe saltava do peito e começava a bater loucamente. Iam atacá-los com fogo. Se conseguissem incendiar a casa, a sorte de quantos ali estavam era bem definida. Ninguém escaparia. Nem as mulheres, nem as crianças, nem... Kitty!
Voltando-se, correu como um louco para a escada, sem preocupar-se com a possibilidade de tropeçar com alguma coisa ou cair pela escada abaixo, e, se isto não aconteceu, foi porque a luz produzida pelo tiroteio a iluminou, ainda que fugazmente, nesse mesmo precioso momento.
De um salto, desceu as escadas para se lançar pela janela mais próxima aberta para o rio.
Ali estavam postados dois homens, disparando contra as escuras sombras que corriam em ziguezague com incrível rapidez e agilidade, tentando aproximarem-se o suficiente da casa, para lançar as flechas.
Aduncam ficou de pé, claramente iluminado pela luz da lua que entrava, o qual, em lugar de o preocupar, pelo risco a que se expunha, lhe causava grande satisfação. Deste modo, banhado pelo luar, via perfeitamente o ponto de mira e assegurava-lhe em caso de necessidade uma pontaria como se fosse dia claro.
Mas não fez fogo. A sua atenção n ao estava concentrada nas fugazes sombras que se aproximavam da casa correndo como gamos, mas sim, no céu, com uma febril ansiedade.
De repente aconteceu o que estava temendo. Algo como um fogo ou estrela fugaz se elevou em círculo, no céu, descrevendo uma ampla e lenta curva.
Aduncam deitou a arma à cara, seguindo a trajetória da luz, e fez fogo.
No momento sentiu que o coração lhe paralisava. Tinha falhado e não tinha tempo de repetir o tiro.
O jovem avançou devagar para a jovem, e agarrando-a pela cintura, olhou-a nos olhos.
— Devo estar sonhando — repetiu.
Ela rodeou-lhe o pescoço com os braços e apertou-o contra o peito.
Duncan com o dedo debaixo do queixo, obrigou-a a levantar a cara cheia de lágrimas.
— Sim, é um sonho disse muito a medo, — Um sonho maravilhoso.
Inclinando-se, beijou aqueles lábios que responderam à carícia com desespero.
— Como é possível estares aqui? — perguntou, bastante tempo depois.
Catherine, com a loira cabeça apoiada no ombro, demorou um momento a responder:
— Meu irmão não morreu — disse por fim, — pelo que nunca deixei de dar graças a Deus. Esteve bastante mal, isso sim, mas decorridos que foram quinze dias, o perigo havia passado. Compreendi, então, que seria eu quem morreria se tivesse de renunciar a ti para sempre. Amei-te toda a minha vida, Duncan! Desde que vivias com os teus avós e eras o rapaz mais bonito e mais arrogante de toda a cidade. Quando nem sequer davas conta da minha existência, porque tinhas já quinze anos e eu não completara ainda os oito.
Duncan apertou-a ainda mais.
— Querida! — murmurou.
— Desde que partiste que vivia como uma sonâmbula — continuou ela, muito lentamente, — sem responder muitas vezes quando me falavam. Até que não pude resistir mais.
— Fugiste de tua casa? — perguntou Duncan, alarmado.
— Não foi necessário — respondeu ela, baixando a dourada cabeça e desviando o olhar.
— Queres dizer que o teu pai te deixou?...
Duncan não saía do seu assombro.
— Disse-lhe que tu... que eu... Que ia ter um filho — terminou a voz de Kitty, apressadamente.
Os olhos parados de Duncan abriram-se de espanto. Ela levantou a cabeça e os seus enormes olhos cor de violeta olharam-no de uma maneira tímida e divertida.
— Naturalmente, não é verdade. É surpreendente a facilidade com que todos acreditaram nessa mentira quando jamais aceitariam a verdade do que se passou realmente na casa dos Sompayrac. Quando lhes disse que queria reunir-me a ti, deram-me uma grande quantidade de dinheiro e puseram-me no barco, muito contentes de se verem livres de mim tão facilmente. Tinham que salvar a honra da família — terminou lenta e amargamente. — Isso era o importante.
Mas Duncan não a ouvia. Estava rindo às gargalhadas. Depois, inclinando-se para ela, beijou-a apaixonadamente.
— O que não compreendo, é como conseguiste dar comigo.
Catherine levantou a cabeça e um brilho travesso bailava-lhe nos olhos.
— Foi o capitão Wilson quem mo disse! De princípio não queria fazê-lo, mas a história do menino!...
Rudger voltou a rir-se.
— Pequena mentirosa — disse baixinho, carinhosamente.
Mas de repente pôs-se sério. Acabava de compreender, que com aquilo, a jovem tinha fechado as portas de sua casa.
— Que tens, Duncan? — murmurou Kitty, que tinha notado a súbita mudança de expressão. Será que já não me amas, ou... que nunca pensaste casares-te comigo?
— Isso não! — disse franzindo o cenho, —mas terá que passar um ano, antes que nos possamos casar, visto só nessa altura poder apresentar a minha demissão nos rurais. Estás a compreender? Entretanto, que farás?
As mãos de Catherine acariciaram os cabe-los húmidos, e recostou-se no seu peito com um suspiro de alívio.
— Temi... Temi... Oh, Duncan! Que susto me pregaste! — murmurou.
— Eu tinha pensado ficar nestas terras quando terminasse o meu compromisso. Mas, compreendeste já, que isto não é sítio para ti? Demasiado selvagem. De qualquer modo...
— Mas se me encanta! — interrompeu ela. -- Os Brown são umas pessoas encantadoras e já combinámos que ficarei com eles enquanto cumprires o teu compromisso. Depois o senhor Brown tem um pedaço de terra maravilhoso, e no-lo venderá por pouco dinheiro! Todos nos ajudarão a construir a casa e quanto necessitemos! Compraremos algum gado e seremos rancheiros! Não é magnífico?
Duncan afastou-a um pouco para podê-la mirar com gravidade.
— Estás a falar a sério?
Ela dirigiu-lhe um sorriso luminoso.
— Claro que sim! Se é isso que desejas!
— Queres dizer que não te assustam os índios, o ar selvagem desta região e a sua solidão?
— O senhor Brown diz que o Exército acabará por empurrar os índios para longe daqui e que esta é a melhor região ganadeira do mundo. Gosto do exótico destas paragens, e tu és a única companhia de que necessito! Sem contar com os Brown que são uns vizinhos encantadores.
Rudger voltou-se, dando uns passos enquanto esfregava a nuca com as mãos. Tudo o que Kitty acabava de dizer era a realização do sonho que tinha começado a acariciar desde há algum tempo, mas não lhe parecia que a sua realização fosse possível! Estava muito confuso.
— Dás conta de que tudo isto é muito diferente daquilo a que estás acostumada? A vida é rude na fronteira, especialmente para uma mulher.
Ela aproximou-se e levantando as mãos até aos ombros começou a mexer no colarinho da camisa!
— Tenho quase um ano para aprender, Duncan — murmurou. — Comecei-o já. A senhora Brown é muito amável e deixa-me que a ajude na cozinha! Diz que aprenderei depressa e, além disso, eu gosto!
Os olhos de Duncan adquiriram um tom mais claro.
— Estás ciente de que é isso que queres? — perguntou, enlaçando-a de novo.
— Sim — murmurou ela com os olhos violeta rasos de lágrimas, que significavam a felicidade que lhe ia na alma.
Contemplando a esbelta mulher que tinha nos seus braços, Duncan sentiu de repente uma imensa alegria! As esgotantes cavalgadas, o cansaço, a dor... tudo desaparecera! Puxou-a carinhosamente para si, e o seu musculoso corpo relaxou-se numa sensação de ternura. Inclinou-se sobre ela e beijando-a longamente.
*
Inclinado como estava para não bater com a cabeça no teto, e apalpando os objetos para evitar bater nos móveis velhos, Duncan dirigiu-se para a claraboia, cuja estreita abertura deixava entrar a luz, graças ao brilhante luar que fazia.
Ao aproximar-se mais, viu uma sombra que vigiava e foi notado ao mesmo tempo, porque se ouviu mexer.
— Dunc? — perguntou lentamente a voz grossa do rancheiro.
— Sim. — disse Dunc.
— Despertou de um bom sonho, hein? Não há dúvida de que o necessitava.
— Com efeito. Agora estou completamente descansado. Que se passa?
— Índios! Creio que se propõem fazer-nos uma visita.
— Tinha ouvido dizer que os peles-vermelhas não atacavam de noite.
— E assim é, regra geral! Não gostam de morrer depois do pôr-do-sol. Segundo as suas crenças, o espírito do homem perde-se na escuridão. Mas fazem muitas exceções, de modo que não se pode admitir urna regra fixa.
— Onde estão?
— Ali. Perto do rio.
— Entre as árvores?
— Alguns estão muito mais próximos! Se fixares, ao fim da cerca do curral, onde faz esquina, verás uns vultos escuros que se movem muito lentamente. Esses diabos arrastam-se corno répteis, mas neste terreno plano e com esta lua, as suas manhas não lhe servem de grande coisa! Tive sempre a precaução de ter um amplo espaço descampado em volta da casa, e agora verifico o acerto desta medida, ainda que umas árvores sejam muito decorativas para tão desoladora paisagem. Nunca o esqueças, Aduncam, se é que aqui te queres instalar.
Mas Aduncam já não o ouvia. Ao olhar na direção que o rancheiro lhe havia indicado, pareceu-lhe ver fazer lume, e agora tinha-se repetido essa luminosidade. Estava bem certo do que vira.
— Há urna luz ali — disse. — Vi-a brilhar duas vezes. É como se alguém levasse um archote ou coisa parecida, oculta de alguma maneira!
— Quê!
A explosiva exclamação de Brown produziu-lhe um sobressalto.
— Vi muito bem — afirmou. — Está ali, até...
— Atenção, rapazes! — ouviu-se o vozeirão do rancheiro, interrompendo-o. — Vão atacar-nos com flechas incendiárias. Disparem contra todo o vulto suspeito. Rápido, não os deixem aproximar-se, ou assam-nos a todos aqui dentro.
Duncan sentiu que o coração lhe saltava do peito e começava a bater loucamente. Iam atacá-los com fogo. Se conseguissem incendiar a casa, a sorte de quantos ali estavam era bem definida. Ninguém escaparia. Nem as mulheres, nem as crianças, nem... Kitty!
Voltando-se, correu como um louco para a escada, sem preocupar-se com a possibilidade de tropeçar com alguma coisa ou cair pela escada abaixo, e, se isto não aconteceu, foi porque a luz produzida pelo tiroteio a iluminou, ainda que fugazmente, nesse mesmo precioso momento.
De um salto, desceu as escadas para se lançar pela janela mais próxima aberta para o rio.
Ali estavam postados dois homens, disparando contra as escuras sombras que corriam em ziguezague com incrível rapidez e agilidade, tentando aproximarem-se o suficiente da casa, para lançar as flechas.
Aduncam ficou de pé, claramente iluminado pela luz da lua que entrava, o qual, em lugar de o preocupar, pelo risco a que se expunha, lhe causava grande satisfação. Deste modo, banhado pelo luar, via perfeitamente o ponto de mira e assegurava-lhe em caso de necessidade uma pontaria como se fosse dia claro.
Mas não fez fogo. A sua atenção n ao estava concentrada nas fugazes sombras que se aproximavam da casa correndo como gamos, mas sim, no céu, com uma febril ansiedade.
De repente aconteceu o que estava temendo. Algo como um fogo ou estrela fugaz se elevou em círculo, no céu, descrevendo uma ampla e lenta curva.
Aduncam deitou a arma à cara, seguindo a trajetória da luz, e fez fogo.
No momento sentiu que o coração lhe paralisava. Tinha falhado e não tinha tempo de repetir o tiro.
Com efeito a flecha incendiária ia deixando um rasto de chispas, e desapareceu do alcance do seu campo visual.
Rudger afastou os dois homens colocados em frente da janela, e saltou para fora, sentindo a esperança voltar.
Um golpe de vista lhe bastou para ver a chama cravar-se em baixo, na parede, e no mesmo instante estava lá. Com um golpe da coronha da espingarda, descravou a flecha e afastou-a a pontapé. Feito isto, voltou novamente a preparar a arma.
Uma linha de faúlhas nas margens do rio indicou aos atiradores a sua localização e uma chuva de balas caiu sobre gele, cravando-se na parede.
Os índios estavam longe e eram francamente maus atiradores, mas ainda assim, o risco era grande devido à quantidade de disparos que fizeram.
E de repente, uma nova luz cruzou o ex-paço. Como se fosse um sinal, os tiros cessaram instantaneamente do lado do rio, como se a totalidade dos peles-vermelhas seguissem o voo da seta.
Mas Duncan nem sequer o notou. Balanceava ligeiramente, mas deitando a arma à cara, seguiu a enorme curva feita pelo fogo, e contendo a respiração, no instante preciso, fez fogo.
Desta vez produziu-se uma labareda, pequenos estilhaços de fogo saltaram em todas as direcções e a curva chamejante foi num ápice interrompida.
Um agudo clamor se elevou do lado do rio, e nesse momento pareceu acender-se uma linha de lume em toda a margem do rio, quando uma série de rifles começaram a disparar sobre Duncan, claramente iluminado pela luz do luar.
O jovem não tentou voltar pela janela. Tinha uma esquina muito mais próxima e com um salto escondeu-se nela, já que parecia que os índios estavam todos concentrados junto ao rio e a totalidade dos tiros partiam dali. •
Outra janela aberta lhe serviu para voltar ao interior e na sala encontrou Kitty que lhe deitou os braços ao pescoço, apertando-o contra ela.
— Não... não estás ferido? — perguntou-lhe com ansiedade.
Ele afastou-a carinhosamente.
— Nem um arranhão — sorriu.
A jovem começou a soluçar.
-- Oh, Dunc! Por um momento julguei que...!
— Vamos, que é isso? — disse ele acariciando-lhe o cabelo ternamente. — És tu que queres ser a mulher de um pioneiro?
Kitty levantou o choroso rosto para ele, debilmente iluminado pela luz da lua que entrava através das janelas, e fez um patético esforço para sorrir.
— Assim estás melhor — disse.
— Serei valente.
— Uma coluna dirige-se para aqui ouviu de repente o vozeirão do velho Brown, vindo de um canto... — São os exploradores que vêm em nosso auxílio!
Depois de um momento de paralisação e assombro, os defensores da cabana começaram aos gritos e hurras de alegria, saltando abraçados uns aos outros.
— Dunc! Dunc! — gritou Kitty, agarrando-se-lhe ao pescoço. — Estamos salvos!
O jovem não disse que a coluna tinha que perseguir os índios depois de um breve descanço, e que ele formava parte desse coluna. Não quis, também, desvanecer a sua alegria, e devolveu-lhe o abraço, contente por vê-la tão feliz.
De qualquer modo, tinha esperança no futuro. Sem dar conta, militava já definitivamente nas filas daqueles homens da fronteira, e comungava com eles nas suas ideias sobre a riqueza, formosura e futura grandeza daquela terra.
Sabia que expulsar os índios seria uma tarefa árdua, que custaria muito sangue e dinheiro, mas o resultado final não podia ser mais do que uma desproporção de forças existentes entre ambos os adversários. O exército acabaria com a brava e inútil resistência dos índios, e então, toda a fronteira ficaria aberta à colonização. As possibilidades que isto dava eram enormes. E tanto Kitty como ele estariam na vanguarda, contribuindo com o seu esforço para a prosperidade e riqueza do novo território.
Rodeando a jovem pela cintura, num comprido amplexo, apertou-a com paixão contra o másculo corpo de atleta, ao mesmo tempo que beijava os ternos lábios que se lhe ofereciam no mesmo tom apaixonado numa amorosa e mútua correspondência.
FIM
Rudger afastou os dois homens colocados em frente da janela, e saltou para fora, sentindo a esperança voltar.
Um golpe de vista lhe bastou para ver a chama cravar-se em baixo, na parede, e no mesmo instante estava lá. Com um golpe da coronha da espingarda, descravou a flecha e afastou-a a pontapé. Feito isto, voltou novamente a preparar a arma.
Uma linha de faúlhas nas margens do rio indicou aos atiradores a sua localização e uma chuva de balas caiu sobre gele, cravando-se na parede.
Os índios estavam longe e eram francamente maus atiradores, mas ainda assim, o risco era grande devido à quantidade de disparos que fizeram.
E de repente, uma nova luz cruzou o ex-paço. Como se fosse um sinal, os tiros cessaram instantaneamente do lado do rio, como se a totalidade dos peles-vermelhas seguissem o voo da seta.
Mas Duncan nem sequer o notou. Balanceava ligeiramente, mas deitando a arma à cara, seguiu a enorme curva feita pelo fogo, e contendo a respiração, no instante preciso, fez fogo.
Desta vez produziu-se uma labareda, pequenos estilhaços de fogo saltaram em todas as direcções e a curva chamejante foi num ápice interrompida.
Um agudo clamor se elevou do lado do rio, e nesse momento pareceu acender-se uma linha de lume em toda a margem do rio, quando uma série de rifles começaram a disparar sobre Duncan, claramente iluminado pela luz do luar.
O jovem não tentou voltar pela janela. Tinha uma esquina muito mais próxima e com um salto escondeu-se nela, já que parecia que os índios estavam todos concentrados junto ao rio e a totalidade dos tiros partiam dali. •
Outra janela aberta lhe serviu para voltar ao interior e na sala encontrou Kitty que lhe deitou os braços ao pescoço, apertando-o contra ela.
— Não... não estás ferido? — perguntou-lhe com ansiedade.
Ele afastou-a carinhosamente.
— Nem um arranhão — sorriu.
A jovem começou a soluçar.
-- Oh, Dunc! Por um momento julguei que...!
— Vamos, que é isso? — disse ele acariciando-lhe o cabelo ternamente. — És tu que queres ser a mulher de um pioneiro?
Kitty levantou o choroso rosto para ele, debilmente iluminado pela luz da lua que entrava através das janelas, e fez um patético esforço para sorrir.
— Assim estás melhor — disse.
— Serei valente.
— Uma coluna dirige-se para aqui ouviu de repente o vozeirão do velho Brown, vindo de um canto... — São os exploradores que vêm em nosso auxílio!
Depois de um momento de paralisação e assombro, os defensores da cabana começaram aos gritos e hurras de alegria, saltando abraçados uns aos outros.
— Dunc! Dunc! — gritou Kitty, agarrando-se-lhe ao pescoço. — Estamos salvos!
O jovem não disse que a coluna tinha que perseguir os índios depois de um breve descanço, e que ele formava parte desse coluna. Não quis, também, desvanecer a sua alegria, e devolveu-lhe o abraço, contente por vê-la tão feliz.
De qualquer modo, tinha esperança no futuro. Sem dar conta, militava já definitivamente nas filas daqueles homens da fronteira, e comungava com eles nas suas ideias sobre a riqueza, formosura e futura grandeza daquela terra.
Sabia que expulsar os índios seria uma tarefa árdua, que custaria muito sangue e dinheiro, mas o resultado final não podia ser mais do que uma desproporção de forças existentes entre ambos os adversários. O exército acabaria com a brava e inútil resistência dos índios, e então, toda a fronteira ficaria aberta à colonização. As possibilidades que isto dava eram enormes. E tanto Kitty como ele estariam na vanguarda, contribuindo com o seu esforço para a prosperidade e riqueza do novo território.
Rodeando a jovem pela cintura, num comprido amplexo, apertou-a com paixão contra o másculo corpo de atleta, ao mesmo tempo que beijava os ternos lábios que se lhe ofereciam no mesmo tom apaixonado numa amorosa e mútua correspondência.
FIM
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