PAS717. Massacre ao fim da tarde em dia de festa

Todos os anos se realizava em Carson City uma festa que não podia comparar-se a qualquer outra; era diferente, e extraordinária. Uma infinidade de forasteiros vinha de todas as cidades em redor. Durava/ três dias, a festa. Três dias de uma espécie de loucura coletiva e ao mesmo tempo ingénua, três dias de divertimentos.
Eram os rapazes que a gozavam mais intensamente. Eram eles os que esperavam a festa com maior impaciência. E, quando ela terminava, apoderava-se deles a nostalgia, durante algum tempo — e depois recomeçavam a sonhar com o ano próximo, para reviverem uma vez mais as proezas dos cavaleiros e a destreza ímpar dos que faziam alarde de espantosa pontaria, acertando em moedas atiradas ao ar.
Carson City vivia novamente a realidade dos seus dias grandes, e uma multidão pletórica de alegria buliçosa enchia as suas ruas. As mulheres exibiam as suas melhores galas; os vaqueiros, orgulhosos de si mesmos, andavam atrás delas; os «saloons» estavam cheios. E os garotos, comendo guloseimas, divertiam-se sem peias, esquecidos da escola ou da severidade, paterna.
De súbito, dominando o rumor das conversas e dos risos, ouviu-se o furioso tropel de uma galopada. Mais de uma dezena de cavaleiros passou, a toda a brida. Ao princípio toda a gente julgou que' se tratava de vaqueiros que vinham divertir-se.
Foi ao fim da tarde.
Não eram vaqueiros. Tinham um aspeto sombrio, desesperado, sinistro.
Alguém reparou nesse aspeto — e nasceu uma terrível suspeita, bruscamente.
Os cavaleiros desmontaram e espalharam-se rapidamente. Dois deles tinham corrido para a porta do Banco, onde colocaram qualquer coisa. O homem que desconfiava, ao ver o brilho de um fósforo não hesitou mais, e disparou um tiro para o ar; mas o tiro foi abafado por uma tremenda explosão.
As portas do Banco voaram em estilhas, e no mesmo instante os bandidos entraram. Os homens da povoação, apanhados de surpresa, tardaram em reagir; julgaram que se tratava de fogos de artifício, em relação com a festa. E, quando se espalhou o alarme, já os pistoleiros, bem colocados, espalhavam a morte à sua volta, enquanto alguns deles preparavam a fuga, carregados com a presa conquistada.
As espingardas e os «Colts» entoavam a sua canção sinistra. Caía a noite, e os jatos de lume das armas brilhavam lugubremente. O ambiente, saturado de pólvora, tornou-se angustiante. A Morte dominava a festa.
Os bandidos fugiram, uma vez conseguidos os seus fins criminosos, e nas ruas, onde pouco antes reinava a alegria, os corpos ensanguentados eram agora a nota trágica, que cobria de luto a cidade.
A um dos lados da rua, um garoto chorava, abraçado ao cadáver do seu irmão mais pequeno. As lágrimas corriam sobre a sua facezita transtornada, lívida. O tiroteio apanhara-os em cheio, e o mais novo dos dois pequenos tinha caído logo aos primeiros tiros, ao passo que o irmão, tendo-se lançado rapidamente para o chão, salvara a vida. A dor enlouquecia-o, mas um impulso viril crescia de súbito naquele corpo de criança. De lábios apertados, contraídos, jurou a si mesmo que quando fosse homem serviria a Lei, com todas as forças do seu coração, e que em cada bandido que abatesse vingaria o irmãozito morto.
Decorreram os anos...

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