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Mostrando postagens de fevereiro, 2017

BIS130. Epílogo

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O forasteiro vinha do deserto. Vinha cheio de pó, sujidade e cansaço. O cavalo manquejava de uma pata. Eden significava para ele uma infinidade de venturas, mas, sobretudo, significava água, alimentos e descanso. À entrada da povoação viu o pequeno que lhe apontava o revólver. Impressionou-o verificar que não se tratava de um brinquedo. Era uma arma de fogo verdadeira. Um revólver autêntico! Como teria chegado às mãos do pequeno? Esticou as rédeas e dirigiu-lhe um sorriso fatigado. — Queres matar-me, pequeno? Olha que vais para a cadeia. — Não — replicou o garoto. — É a brincar. Está descarregado. O forasteiro perguntou: — É teu? O pequeno respondeu: — Oh, sim! Achei-o. O cavaleiro perguntou: — Onde? O pequeno explicou: — Na praça. Houve muitos tiros, sabe? Morreram quatro homens e Hardy Fortune está ferido. Uma coisa de nada, senhor. Hardy Fortune é de ferro... A praça estava cheia de gente quando cheguei. Diriam que precisavam de voluntários para enterrar os cadáveres... Ninguém repa

BIS130. Cap X. Violência

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Depois de cravar o papel na porta de casa, Hardy Fortune dirigiu-se para o «Nick Saloon», cuja grande tabuleta, erguida sobre a entrada, exibia o péssimo desenho de um revólver azulado com toda a coronha salpicada de gritantes moscas brancas (1). Aquele iria ser o seu refúgio até surgir o imponderável momento. Pediu uma garrafa de «whisky» e um copo. Não era sua intenção bebê-la toda, é claro; mas estava persuadido de que uns goles serviriam para tonificá-lo e aquecê-lo. Além disso, precisava de justificar a sua presença no estabelecimento, e fazer alguma despesa. Escolheu uma mesa próxima da janela que dava para a rua. Seria um bom observatório, uma atalaia ideal, para examinar todos quantos por ali passassem. Ninguém escaparia ao seu olhar atento. Decorreu a tarde. Chegou a noite. Ao aproximar-se a madrugada, Simpson, o dono do «saloon», acercou-se da mesa. (1) «Nick»: mosca. — Não costumo fechar — disse —, mas a estas horas é costume já não haver nenhum freguês. Isso permite-me tira

BIS130. Cap IX. A única solução

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Numa aldeia de tão reduzida s dimensões como Eden as notícias não demoravam a espalhar-se. As boas e as más. Correm velozmente elevadas pelo vento e logo chegam aos ouvidos do principal interessado. Fay demorou-se quase meia hora no seu quarto. Esforçou-se por disfarçar os sinais deixados pelo pranto. Não queria, por nada deste mundo, que Hardy notasse a tormenta mortal que gravitava suspensa sobre o seu espírito. É claro que tencionava dizer-lho. Naturalmente que o faria. Seria um instante supremo, esmagador e indiscritível. Falaria, mas ainda não. Precisava de se munir de coragem antes de dar o grande passo. E tinha rogado a Deus com intenso fervor que a livrasse da lancinante prova. Quando saiu do quarto e desceu ao andar térreo para se juntar ao marido, ficou petrificada de ansiedade ao escutar o murmúrio de vozes abafadas. Hardy falava com alguém sem elevar o timbre da voz! Não esperava visitas. Nem as desejava em tão espinhosos instantes. Tentada esteve a retirar-se rapidamente e

BIS130. Cap VIII. A aterradora notícia

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Trinta minutos mais tarde, a diligência partia de Eden, rangendo as suas molas ao sabor dos altos e baixos do caminho. A muda de cavalos, ansiosos de galope, empreendeu a marcha a um bom ritmo. Uma esteira de pó marcou o seu avanço pelo deserto dentro. Quando a neblina começou a formar-se, os grupos dissolveram-se, as pessoas voltaram às suas ocupações e as últimas notícias circularam de boca em boca pela povoação. Fay Prescott que saía do consultório do doutor Calbert, depois da visita correspondente ao seu oitavo mês de gravidez, ouviu, por acaso, a espantosa notícia. Sentiu-se transpirar por todos os poros da pele e os joelhos fraquejaram-lhe. Fazia calor. Insuportável e feroz calor. Atribuiu o mal-estar ao facto de se encontrar grávida. Mas, querendo ser justa, compreendeu que a origem dos suores estava naquelas palavras que tão diretamente afetavam o seu marido. — Jed Bansson e os seus homens foram postos em liberdade. Deixaram a penitenciária de Tuscola não há oito dias. O encarr

BIS130. Cap VII. Eden

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Eden era um desses lugares perdidos na vastidão esmagadora do Texas. Formavam-na setenta e oito casas, um estábulo, um armazém, duas tabernas e a loja do todo-poderoso «mister» Wooden, macabra notabilidade da povoação. Ficava-se por aqui. Nada mais havia a acrescentar. Não tinha xerife, não tinha novidades, quase não tinha história. Fundara-a uma caravana de imigrantes, pobres visionários que viajavam para a Califórnia em busca de um rico éden ubérrimo de terras e promessas. Algo lhes sucedeu capaz de interromper a viagem; mas passara-se havia tanto tempo que nem os mais velhos do lugar se lembravam ao certo. Uns diziam que tinha sido a pouca sorte; outros, a peste... A verdade, o irrefutável é que Eden nascera a oitenta milhas do mais próximo local habitado: o agora em ruínas Old Fort Concho. Talvez fosse a peste, porque como empestados viveram os seus improvisados fundadores. Ergueram as casas, formaram a primeira rua e trataram de converter aquele infame terreno em algo digno de esf

BIS130. Cap VI. A família pobre

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Os homens do tipo de Link Grinter não se parecem muito com as pessoas normais. Contra todos os prognósticos, desafiando as leis da lógica mais elementar, o fugitivo chegou longe. Suportou uma semana a cavalo. Subiu pela pradaria até Doole, onde adquiriu provisões. Chegou a Millersview. Cavalgou, à beira da morte, para Paint Rock. Tudo isso a marchas forçadas, sem repousar, infligindo-se um tratamento brutal para estancar a hemorragia, e sentindo, como animados de vida, o peso dos dois chumbos incrustados nas costas. A cura aprendera-a com um velho rato do deserto que conduzia carroças pela Rota do Oregão. Não era muito ortodoxa nem representava um medicamento eficaz. Mas servia para casos de urgência como o seu. Quando chegasse a Paint Rock, fora do alcance dos xerifes da comarca, entregar-se-ia nas mãos de um médico e este extrairia as balas. Tinha dinheiro, e com dinheiro... não se conseguem as coisas mais impossíveis? Há médicos de poucos escrúpulos e acostumados a fechar a boca, se

BIS130. Cap V. Um presente para Grinter

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Desde o primeiro momento que gostou de Brady. Casas grandes, de madeira — construídas por pessoas que tinham pressa de se incorporar à nascente civilização do Oeste —ruas amplas, muitos armazéns, estábulos públicos, «saloons» atraentes, e hotéis à escolha. Link Grinter escolheu o de melhor aspeto. A tabuleta era um verdadeiro poema, pois nela podia ler-se: «PARADISE HOUSE». O alpendre, o passeio de tábuas, o local para atar os cavalos, a fachada resplandecente e as janelas com vidros sem poeira, gritavam aos quatro ventos hábitos de esmerada limpeza. Era exatamente do que ele precisava... Boa comida, banho abundante, lençóis limpos... e descanso. Semicerrou os olhos voluptuosamente. Umas férias pagas pelo cadáver do deserto. Uma paragem no incerto caminho da sua vida incómoda. Ria feliz, satisfeito do mundo ao pôr o pé em terra. O sorriso ainda lhe pairava nos lábios quando apoiou os cotovelos no balcão da Receção. — O melhor quarto — pediu. O empregado farejou o futuro cliente e não c