PAS731. As esporas reveladoras

O homem que saiu da cidade montado num cavalo baio e tomou o caminho a galope, pela estrada das diligências, parecia tudo menos um homem que vencera.
Tinha o olhar pousado no chão, a cabeça caída sobre o peito e as mãos como que sem forças, descansando sobre a crina do animal.
Sabia que Bela procuraria esconder-se em qualquer lugar, que fugiria mal visse uma sombra, pensando que fosse «Lord Diabo» que andasse atrás dela. A sua figura, o seu aspeto geral, visto de noite, era o mesmo. Se ao menos tudo aquilo tivesse ocorrido durante o dia, Bela, oculta, onde quer que
estivesse; podia reconhecê-lo facilmente. Mas não. As trevas envolviam tudo. Ainda que a matassem, julgaria que, era «Lord Diabo» que ia atrás dela.
Burton pensou que talvez não a encontrasse mais. Que aquele triunfo da Lei tinha significado, era evidente, mas em contrapartida, para ele, era a perda das suas mais íntimas ilusões, a perda da única mulher que alguma vez lhe tinha interessado na vida.
Olhava para ambos os lados da estrada, perscrutava com olhos de lince as trevas da noite, mas sabia que não encontraria nada.
Nada!
Uma mulher tinha razão ao ocultar-se debaixo da terra, se pensasse que era «Lord Diabo» quem a perseguia. Bela teria feito o mesmo.
Com voz clara, tentando que ela o reconhecesse pela voz, gritou:
— Bela ! ... Bela !...
Mas só o longo murmúrio do vento na planície lhe respondeu.
Burton puxou as rédeas com raiva, num mudo desespero e então uma bala assobiou a poucas jardas da cabeça.
Tinham atirado quase junto dele, do meio de uns arbustos. Burton calculou que o não tinham querido atingir, porque àquela distância ninguém podia falhar, mas deixou-se cair por terra, à cautela, enquanto puxava» pela arma.
—Não atires. Para que vais gastar as balas se podes matar-me de outro modo?
Burton ficou paralisado perante a visão da mulher que se aproximava dele perante a visão de uma Bela mais bela, mais tentadora, mais apetecível do que nunca.
Ela deixou cair o revólver no chão, enquanto continuava a avançar para ele.
—Bela...
Antes que desse por isso, antes mesmo de poder refletir, de poder dizer uma única palavra, já a tinha nos braços. Já beijava sofregamente os seus lábios, o seu cabelo, os seus olhos...
—Bela... eu iria afirmar que estavas à minha espera... Mas como o sabias? Como?
—Tu pregaste-me muitos sustos e eu quis pregar-te um, Burton. À última hora soube que tu e «Lord Diabo» eram uma e a mesma pessoa.
—E eu que julguei ter feito tudo em segredo! Como descobriste?
—Num único pormenor em que tu nunca mudaste: nas esporas. Produziam exatamente o mesmo som e uma cega nota imediatamente esse detalhe. É claro que agora prefiro notar outras coisas...
Em silêncio continuou a beijá-la apaixonadamente, enquanto não muito longe dali, em Dallas, o juiz ia visitar o carpinteiro a quem tinha encomendado o caixão para Burton, desta vez para o encarregar de unir várias mesas para um grande copo de água.
E pagou tudo do seu bolso, apesar do soldo de um, juiz não dar para grandes aventuras.
Palavra de honra.

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