PAS733. A arte de bem cavalgar um «Furacão»

—Não temes que o teu cavalo fuja? — perguntou Ales, a olhar com admiração o lindo equídeo, negro e brilhante como alcatrão, que tinha ficado solto.
— Não. Pode ser que ele dê uma corridinha, mas nunca sai do alcance da minha vista. É tão fiel como uni cão.
—Agrada-me muito. Nós tínhamos bons cavalos, mas não melhores do que este. Deixas que eu o monte? — Será melhor que não.
—Porquê?
—Bom, é que ele é muito fogoso, e pode atirar-te ao chão — respondeu Lyn a esboçar um sorriso,
—A mim? Bah! Eu montava-o nem que ele fosse selvagem — respondeu convencido o jovem.
— Não te fies na sua mansa aparência. Chamo-o «Furacão» e ele faz honra ao seu nome. É um autêntico alazão!
—Se não me deixares montá-lo, diz claramente —respondeu o rapaz furioso.
—E porque não hei-de deixar? Simplesmente aviso-te das suas manhas.
—Então, deixas...? — insistiu Ales.
—Como quiseres—disse Lyn. — Mas recorda-te do que te disse.
— Sei montar, apesar de não acreditares—respondeu o rapaz com gana.
— Muito bem.
Lyn assobiou, fazendo com que o negro cavalo se aproximasse, e então o pequeno Reynolds saltou agilmente para a sela.
O animal pareceu não notar o peso do cavaleiro, apesar de levantar a cabeça e olhar estranhamente para o dono.
— Mas ele é manso com um cordeiro! —gritou Ales alegremente.
O animal obedeceu docilmente, mas de repente, depois de andar uns metros, estranhamente, dobrou as patas como se fosse sentar-se e saltou a retorcer-se inverosivelmente para o ar, ao mesmo tempo que relinchava, como um vibrante clarim.
Ales foi projetado e rodopiou pelo solo a levantar uma grande nuvem de pó, enquanto o cavalo sacudia as crinas e relinchava a fazer troça do jovem.
Lyn parou a carroça para auxiliar o rapaz, mas pôs-se a rir ao vê-lo de pé a sacudir o pó.
— Maldito bicho! — exclamou Ales, furioso e humilhado. Parecia tão mansinho! Apanhou-me desprevenido e atirou-me ao chão. Mas não voltará a fazer isso.
— Já te disse para não te fiares nele gritou--lhe Lyn, sufocado pelo riso. Não dizias que sabias montar?
— Monta o teu, Ales — disse Elianne, indignada do alto da boleia.
Depois voltou-se para Lyne e furiosa disse:
— Diverte-lhe muito que o meu irmão tivesse podido partir a cabeça? Sabe montar, e certamente melhor do que você. A verdade é que essa sua pileca é um traidor.
Com os olhos brilhantes e as bochechas do rosto encarnadas estava muito bonita.
—Porque o deixou montar se sabia que isso ia acontecer? — interrogou indignada.
—Eu avisei-o, mas ele insistiu que podia montá-lo- respondeu o jovem, a lutar para conter o riso. —Como se pode saber a verdade sem se comprovar?
—Pois claro que posso montá-lo! — gritou Ales, furioso por ver a vontade enorme que Lyn tinha de se rir. —Veremos se esse «Furacão» é capaz de me atirar ao chão.
—Será melhor que não tentes, companheiro—disse-lhe Lyn com o mesmo sorriso disfarçado nos lábios. — Podes magoar-te, e como vês a tua irmã julgou-me responsável por isso.
Ales julgava-se um bom cavaleiro e estava furioso.
—Vou montar esse diabo! E tu não te metas nisso, Lyn.
Resolvido dirigiu-se para o cavalo, que parecia esperá-lo a pouca distância, como que a desafiá-lo.
—Deixa-o, Ales. Estou certo de que sabes montar—disse Lyn mais sério.— Não é preciso que demonstres.
Mas o rapaz já tinha as rédeas do garanhão na mão.
— Quero montá-lo —respondeu ao mesmo tempo que saltava para a sela.
«Furacão» arrancou briosamente, a trotar alegremente. Mas Ales não se fiava e cavalgava com todos os sentidos alerta, disposto a receber qualquer das veleidades do animal.
Mas não lhe serviu de nada.
O cavalo levantou subitamente as ancas, tão alto como se fosse cair de costas.
O cavaleiro foi projetado pelo dorso e caiu sentado no chão, de um modo tão ridículo que Lyn não conteve uma forte gargalhada.
— Bruto! — disse Elianne.
Lyn encolheu os ombros sem deixar de rir, ainda divertido pela fúria dela.
— Diverte-se sempre da mesma maneira? — perguntou a jovem.
--Oh, não! Vario muito.
— Que gracioso! Não vê que esse maldito animal podia ter matado o meu irmão?
— Mas se Ales é um grande cavaleiro! —gozou Lyn, sufocado pelo riso. — Não faz senão cair comodamente.
Elianne olhou-o sem saber o que fazer com ele, demasiadamente furiosa para encontrar uma resposta adequada, e voltou-se para desaparecer no interior da carroça.
Ales a sacudir o pó, deixou que o carro chegasse ao pé de si e «Furacão» chegou-se como que convidá-lo para continuar o jogo.
—Deixa-me em paz! gritou-lhe o rapaz. — Vai-te embora, não quero nada contigo.
Depois subiu para a boleia da carroça.
— Ninguém mais quer montá-lo? — perguntou surpreendido.
—Bom, também tu o montaste. Apesar de pouco tempo—respondeu Lyn.
Sentiu-se novamente acometido pelo riso, mas sem querer humilhar o rapaz.
— Eh, tu, mau peludo! Vamos a ver se deixas de dar saltos como uma rã — gritou a um dos cava-los, a restelar uma chicotada. —Vamos, mostrengo.
Ales dissimulava a sua fúria.
— Queres conduzir-nos ou preferes ir aqui? — perguntou Lyn ao rapaz uma vez contida a gargalhada. -- Um de nós deve ir à frente para abrir caminho.
—Eu irei — disse Ales mal-humorado.
Lyn olhou-o abertamente.
-- Enfadado? — perguntou sorridente.
O rapaz respondeu mais risonho.
— Não. Só um pouco dorido.
— Faz-te amigo dele, e já verás corno podes montá-lo. É um sem vergonha, mas simpático.
— Acho que não voltarei a confiar nele—disse Ales.
Olhou para o cavalo que trotava perto e viu que ele tinha o pescoço virado.
— O bandido continua a desafiar-me.

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