PAS771. Em defesa da jovem Betty

Nessa noite, no escritório do rancho, Roy Adams escrevia aos seus amigos de Current, contando-lhes tudo quanto lhe havia acontecido. Informava-os de que se encontrava numa povoação chamada Ely e ao mesmo tempo fazia-lhes um pedido. Adivinhava, de antemão, a resposta. Betty entrou naquele momento, interrompendo-o. Trazia na mão o chapéu do forasteiro e, no rosto, uma enorme palidez.
— Roy — disse. — Que sucedeu? Que significa este buraco?
— Refere-se ao rasgozinho do chapéu? — perguntou com um ar sério. — É que senti muito calor. Para refrescar a cabeça resolvi fazer esse respiradoiro. Como vê, nada de importante.
— É o cúmulo, Roy! Isto foi produzido por uma bala de carabina...
— Bravo! Não querem ver que me associei com uma rapariga tão esperta como eu?
O rosto da jovem crispou-se. Disse qualquer coisa entre dentes, deu um pontapé numa cadeira e atirou-lhe o chapéu à cara. Depois, furiosa, girou sobre os calcanhares e saiu do aposento. Roy ria à gargalhada...
Nessa manhã, Betty acordou muito cedo. Havia muito barulho lá fora. Vestiu-se rapidamente e pestanejou assombrada. Roy Adams, com o tronco hercúleo nu, partia lenha. Chamou-o. O homem largou o machado e aproximou-se dela.
— Olá, Betty! — exclamou. — Deixo-lhe este trabalho. Tenho hoje muito que fazer na povoação.
E encaminhou-se para um dos barracões onde havia dormido na véspera. Pouco depois, Betty viu-o sair completamente vestido. Acabava de ajustar o cinturão, quando a rapariga lhe intercetou o passo, para lhe dizer numa voz cheia de angústia:
— Pelo amor de Deus, Roy! Deixe os revólveres em casa! Tem inimigos no povoado. Se for desarmado, ninguém se meterá consigo.
Por instantes, Roy vacilou, enquanto a mulher perguntava a si próprio porque é que havia dito aquilo. Em seguida, muito vagarosamente, o moço desapertou o cinturão e entregou-o a Betty.
— Tome-o — disse. -- Talvez seja melhor assim.
E, sem esperar resposta, deu meia volta e dirigiu-se para a cocheira. Daí a pouco saía já montado e, num galope furioso, atravessou o desfiladeiro, a caminho da povoação.
Betty, com uma expressão indefinida a marcar-lhe o rosto, viu-o partir.
Roy apeou-se de um salto à porta do Banco. Entrou resolutamente no edifício e acercou-se de um dos «guichets».
— Desejo ver o diretor — disse.
— Imediatamente, senhor Adams.
Ficou espantado. Pelos vistos, já toda agente o conhecia. O empregado retirou-se, voltando pouco depois. Fez um aceno a Roy e este acompanhou-o. Pararam diante de uma porta e o seu cicerone bateu devagarinho. Uma voz autorizou a entrada e Adams empurrou a porta. Um homem de uns sessenta anos, cabelo encanecido e rosto bondoso, ergueu-se do cadeirão que ocupava e deu-lhe as boas-vindas, em tom cordial.
— Sente-se, senhor Adams. Diga-me o que deseja...
— Venho abrir uma conta-corrente. Quero que fique em nome de Betty Turner, mas não desejo que ela o saiba. Se me acontecer alguma coisa, o senhor contar-lhe-á tudo. A minha última vontade é que ela vá para o Leste, com esse dinheiro, depois de queimar e arrasar a propriedade. Não quero que ninguém tire partido do rancho. Sou sócio dela e creio poder impor a minha vontade, neste particular.
Puseram-se de acordo rapidamente. Roy despediu-se do banqueiro. Instantes depois, encontrava-se diante do escritório do xerife. Entrou com um ar decidido. O representante da Lei estava recostado num cadeirão e com as enormes pernas cruzadas em cima da secretária. Ao ver o visitante, levantou-se de um salto.
— Seja bem-vindo! — exclamou. — Sente-se, por favor. Fez uma pausa e acrescentou: — Que o traz por cá?
Roy atirou o chapéu para cima da secretária.
— Isto — respondeu com secura.
O xerife pegou no «Stetson» e passou um dedo pelo buraco da copa. A sua expressão tornou-se grave.
— Carabinas! — exclamou. — Como foi?
Roy contou o que se passara e no fim, perguntou:
— Diga-me, xerife, nunca fizeram uma batida na zona do desfiladeiro?
— Uma única vez, quando da morte do senhor Turner. Estive no local onde o senhor parou. Pregaram-me um tiro neste ombro — disse, apontando a omoplata esquerda. — E, logo a seguir, deram cabo do meu cavalo.
— Sem embargo — respondeu Adams — podemos fazer qualquer coisa. Rodear a montanha, tentar descobrir o refúgio... Deve situar-se, com certeza, perto da nascente do rio que banha as terras de «miss» Turner.
— É difícil, senhor Adams. Devo dizer-lhe que se não tenho feito nada é porque me encontro sem a ajuda de ninguém. Que pode fazer um homem sozinho?
Adams não retorquiu. Quando falou, o xerife ficou abismado.
— Onde posso comprar um bom cavalo? Um animal que seja dócil?
— Um cavalo ou... Eu posso vender-lhe uma égua. Venha. Vou mostrar-lha...
Levou-o às traseiras da casa. Numa espécie de estrebaria construída de madeiros toscos, havia umas quantas montadas. O olhar entendido de Adams pousou numa égua de fina estampa, branca como um floco de neve.
— É esta, xerife? Quanto quer por ela?
— Duzentos dólares.
— Está bem.
Despediu-se do representante da Lei. Voltaria mais tarde para tomar posse do animal. Os seus passos encaminharam-no, agora, para o armazém. Uma rapariga loira, de olhos azuis e rosto simpático, saiu detrás do balcão, quando o viu entrar. Estendendo--lhe a mão, a jovem saudou-o:
— Seja bem-vindo a minha casa, senhor Adams.
— Parece saber mais a meu respeito do que eu acerca da senhora — replicou o forasteiro.
— É natural! Quem não conhece em Fly o homem que desafiou Morrison e a sua quadrilha? Sou amiga íntima de Betty. Permito-lhe que me trate por Lorna. Que deseja?
— Pois eu... — tartamudeou como um rapazinho apanhado em falta. — Quero... um par de ves... vestidos e um tra... traje de mon... montar. São para «miss» Betty. Escolha-os a senhora. Do melhor que possua. E nesse mesmo instante pensou no absurdo de tudo aquilo. A sua visita ao Banco, os vestidos para ela...
Que se estaria a passar? Mas se apenas a conhecia há setenta e duas horas! Seria que andava a enamorar-se de Betty Turner?

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