PAS773. Duas mulheres corajosas
Betty foi atrás do companheiro.
Lorna apareceu e dirigiu-se a eles:
— Desculpe-me, Roy, mas quero falar à Betty.
As duas, mulheres afastaram-se, confundindo-se com as demais. Roy estremeceu. Não escutou a frase de Lorna. A sua atenção concentrava-se em Elmer Morrison. Este encontrava-se na companhia de Doone. O guarda-costas, ao cabo de uns minutos, afastou-se do chefe e saiu da sala. Adams seguiu-o com um andar felino. Alcançou-o, quando o homem se preparava para contornar o edifício.
— Doone! — e a sua voz soou como um tiro no silêncio da rua.
O bandido voltou-se rapidamente e os dois homens ficaram a olhar um para o outro...
De repente, Doone lançou-se contra Roy. Este recebeu-o com um tremendo soco no meio do peito, logo seguido de outro na ponta do queixo. Doone ergueu os pés do solo e caiu de barriga para o ar. Sem perda de um segundo, rolou sobre si mesmo e ao levantar-se a sua mão desceu para o cano da bota. A voz seca de Adams deteve--lhe o gesto:
— Quieto, miserável! Quieto ou crivo-te de balázios! Empunhava o revólver que sacara do coldre oculto debaixo do braço.
— Está armado! — exclamou Doone estupefacto.
— Tal como tu, meu sapo! — gritou Adams. — Deita fora a faca, vá! E depressa!
Com um extremo cuidado, Doone obedeceu. Depois, principiou a falar:
— Agora...
— Não me servirei da arma, cão! — disse o forasteiro.
Atirou para longe o revólver e avançou. Doone esperava-o. Roy fez-se descuidado e o punho do inimigo partiu, veloz, em direção ao seu queixo. Roy desviou o golpe com o antebraço direito e empregou o punho esquerdo. Doone recebeu o violento murro em plena boca. Baixou os braços, cuspindo sangue e alguns dentes e ficou paralisado durante uns instantes. Depois, cambaleou e caiu no solo como um fardo.
Roy aproximou-se e contemplou-o longamente. Por fim, Doone começou a mover-se. Parecia incapaz de levantar-se.
Mas, de repente, as mãos que apoiava no chão ergueram-se com a velocidade de um relâmpago. Roy Adams apanhou com a terra nos olhos e ficou momentaneamente cego. O bandido soube tirar partido das circunstâncias Com os dois punhos martelou o rosto do seu rival e, em seguida, atirou-o contra a parede do armazém, com um soco poderoso. Roy Adams foi a terra, encostado ao madeiramento. Doone avançou para ele...
O silêncio da rua viu-se quebrado por dois estampidos. Sem um lamento, sem um grito, o facínora estatelou-se no solo.
Roy levantava-se, precisamente, nesse momento. Conforme pôde limpou os olhos. O que viu, então, deixou-o abismado. Doone, a seus pés, morto e bem morto. Tinha três balas nas costas. Junto dele, o revólver do forasteiro. Roy abaixou-se e recolheu-o. O cano ainda estava quente...
Nessa altura a rua encheu-se de ruídos. O baile havia parado, logo ao primeiro tiro, e as pessoas saíam do armazém. Como punhais, vários olhos cravaram-se no jovem. Este ainda não se refizera da surpresa e continuava com a arma na mão. Morrison foi o primeiro a falar:
— Assassinou Doone! Matou-o pelas costas! Vamos, temos que fazer justiça!
— À forca!
Roy olhou para o homem que tinha gritado. Era um dos rancheiros a quem havia sido apresentado durante o baile. Uma pessoa decente, sob todos os aspetos. Sorriu com ironia.
— Eu não o matei. Isto é uma armadilha!
Mas antes de terminar, verificou que não o acreditavam. Empreendeu a retirada, tentando fugir para trás. Na sua desorientação, nem sequer se lembrava da arma que possuía. Quando deu conta desse facto, era demasiado tarde. Várias mãos, mãos como garras de animal selvagem, caíram-lhe em cima. Viu-se derrubado no meio de maldições. Nunca soube quem exibiu a corda. Quando o levantaram, tinha o rosto ferido e as mãos atadas atrás das costas. A voz do xerife fez-se ouvir:
— Um momento! — gritou. — Este homem...
— Cale-se, xerife!
Foi obrigado a obedecer. Um círculo ameaçador fechara-se em torno dele. Os homens pareciam loucos corno lobos sedentos de sangue. E o mesmo vaqueiro continuou a falar:
— Que vai dizer, xerife? Que ele deve ser julgado? Apanhámo-lo com as mãos na massa! Nós somos a Lei! Creio que a sentença é bem clara!
O juiz Burke também passava um mau bocado. As paixões estavam desencadeadas. É bem sabido que no Oeste ninguém podia, naquela época, matar uma pessoa pelas costas, ainda que esta merecesse mil vezes esse castigo. Um rumor de colmeia elevou-se de todos os lados. A rua estava cheia de gente.
— Enforquemo-lo!
— Traz a corda, Holden!
Estes gritos e outros parecidos soavam de toda a parte.
— Não fui eu! Juro! Faça alguma coisa, xerife!
O representante da Lei não respondeu. Via-se nitidamente que tinha medo. A voz de Adams soara de um modo estranho. Dirigia-se ao xerife mas os seus olhos fitavam Betty que ficara parada à porta do armazém, com um ar inexpressivo. Os seus olhares cruzaram-se. A jovem voltou as costas e entrou lentamente no estabelecimento.
Adams gelou. Nunca a supusera capaz de ver nele um assassino. Precisamente a mulher por quem teria dado a vida, se ela lha pedisse. Recordava como Betty havia correspondido ao beijo...
Os seus pensamentos foram bruscamente interrompidos. Principiavam a empurrá-lo. A pancadaria chovia-lhe nas costas. Meio inconsciente, pareceu aceitar com indiferença a sorte que o esperava. Se Betty... A única coisa que Morrison não conseguiria era vê-lo tremer. Apesar dos socos e dos empurrões, ergueu-se em toda a sua estatura. Havia algo de impressionante naquela atitude. Corno que por bruxedo, deixaram de bater-lhe. Roy deteve-se.
— Oiçam-me! — bradou. — Eu não o matei! Sei que não me acreditam. Sei que me querem enforcar. Avante, pois! Mas não me segurem. Irei sozinho!
Ali, apreciava-se a coragem. Em silêncio, seguiram-no até urna das árvores do largo. De um ramo alto, pendia a corda fatídica. Numa das suas extremidades via-se o nó corrediço. A outra ponta estava atada ao arção da sela de um cavalo.
O que dava pelo nome de Holden, mantinha o laço aberto e sorria. Há muito tempo já que em Ely não se enforcava ninguém e aquilo não deixava de ser um espetáculo.
Muito calmo, Roy Adams deteve-se diante dele. Holden preparou-se para lhe passar a corda em volta do pescoço. O círculo de curiosos fechou-se mais. Roy fitou--os um a um. Por fim, os seus olhos cravaram-se em Morrison, como setas. Ninguém, nem sequer este último, conseguiu aguentar o brilho das suas pupilas. Então, o forasteiro que viera de Current, falou:
— Restam-te setenta e duas horas de vida, Morrison. Não adiantarás nada com a minha morte. Nem com a minha nem com a de «miss» Turner. A tua hora soou! A sua voz era extraordinariamente firme.
Morrison sorriu, mas o seu sorriso não lhe saiu para fora dos dentes. Que queria dizer o homem com aquilo? Furioso, gritou:
— Despacha-te, Holden!
Outros gritos apoiaram-no. Ao que parecia, em Ely tinham pouca memória.
— Pronto!
— Precisas de uma ama-seca?
De novo, os gestos rudes dos homens. Holden ergueu os braços e colocou o laço no pescoço de Roy que não pestanejava, olhando em redor. De súbito, o forasteiro levantou impercetivelmente uma sobrancelha.
«Dinamite» aproximava-se, feroz, mostrando os dentes. Da sua boca, para não variar, pendiam as rédeas quebradas. Adivinhou as intenções do animal. Atacaria as pessoas, dar-se-ia uma debandada geral, mas... ele, Roy Adams, estava amarrado. Não poderia montar. E se o fizesse não lhe serviria de nada. Cravá-lo-iam de balas.
Quando abriu a boca para gritar ao cavalo que se afastasse, o som de um tiro abafou o rumor da multidão. Holden encolheu-se, instintivamente. O seu chapéu fugiu-lhe da cabeça, levado por uma bala certeira. Estabeleceu-se um silêncio pesado e todos se viraram para a retaguarda. Na porta do armazém, encontrava-se novamente Betty. Tinha nas mãos os revólveres do jovem, um dos quais deixava escapar uma ténue espiral de fumo.
Mudos de assombro, os homens, agora, não logravam mover-se.
— Mantenham-se quietos! — gritou Betty com energia. — Liberte-o, Holden! Depressa!
Holden dispôs-se a obedecer. Morrison, então, interveio:
— Cobardes — grunhiu. — É uma mulher! Não disparará! E adiantou-se para o cavalo em cuja sela estava amarrada a corda. A sua intenção era clara. Pretendia espantar o animal.
Mas não chegou onde desejava. Betty premiu o gatilho e soou uma detonação. Elmer Morrison levou as mãos à cabeça, ergueu-se na ponta dos pés e rolou pelo solo como um saco cheio de chumbo.
Sem aguardar novas ordens, Holden obedeceu. A multidão estava como que eletrizada. Ninguém ousava mover-se. Pois se havia sucedido aquilo a Morrison!...
Holden retirou o laço do pescoço de Roy e, com uma faca, cortou a corda que o manietava. Quando se viu livre, Adams caminhou até ao armazém. Cambaleava um pouco. Procurou evitar a linha de tiro de Betty. Esta atirou-lhe um dos revólveres. Apanhou-o no ar e com a arma na mão, a sua expressão mudou como por encanto. O seu ar feroz gelou alguns corações. Voltou-se para a multidão e, de revólver em punho, foi retrocedendo até chegar junto da rapariga.
— Betty... — disse. — Eu...
— Eu sei, Roy. Parta tranquilo — aconselhou. — Saia do vale pelo caminho que o conduziu ao rancho. Quando atingir o cima do monte, volte à direita. A cerca de umas duas milhas há um grupo de árvores. Atrás delas, o mato é espesso. Atravesse-o. Encontrará uma porção de rochas. Perto delas existe uma caverna. Instale-se lá. Irei levar--lhe provisões, logo que possa...
— Dentro de cinco dias, Betty...
— Mas...
— Cinco dias. Antes disso não me encontrará.
Colocou o cinturão, sem deixar de mirar a multidão. A rapariga tão-pouco deixava de visar os grupos, no meio de um silêncio sepulcral. Viram dois homens correr para Morrison. Não tinha morrido, mas um sulco de sangue marcava-lhe a testa e ia até à orelha.
— Necessito de meia hora, Betty — disse, agora em voz alta.
— Uma hora, Roy!
Ergueram os olhos, descurando a vigilância. Lorna Kelly estava encostada ao parapeito da janela e empunhava, com mão firme, uma carabina. Ela não perdeu de vista a multidão, apesar de ter falado.
— Obrigado, Lorna. Não o esquecerei!
Aproximou-se de «Dinamite» e uma vez na sela, cumprimentou as jovens e enfiou o revólver no coldre. Depois, voltou-se, de novo, para os que o observavam e deteve os olhos em Morrison que já tinha uma ligadura a envolver--lhe a cabeça. Amparavam-no os dois homens que o haviam socorrido.
— Morrison — gritou, cheio de fúria — deixo aqui «miss» Turner! Se lhe sucede algo... vou buscar-te nem que seja à tumba! E isso, depois de arrasar e incendiar o povoado!
Outra vez aquela confiança toda! Que andaria a tramar? Nem Betty Turner o sabia, quando o viu esporear o cavalo que se dirigiu, num galope veloz, para a saída da povoação...
Por uns instantes o seu coração deixou de pulsar. A estrada encontrava-se bloqueada. Haviam-na cortado com carroças atravessadas. Ao chegar mais perto, reparou que não tinham desatrelado, dos veículos, os animais. De repente, algo pareceu rebentar diante dele. O clarão do disparo iluminou o vulto de um homem. Um sopro de morte roçou-lhe por uma orelha. Agachou-se e sacou a arma com uma rapidez fulminante. Divisou o mascarado e fez fogo contra ele. A figura negra cambaleou. Roy Adams não se preocupou mais com o atirador. Estava a chegar à linha das galeras. Dirigiu a montada em direção aos animais. A altura das cobertas era excessiva, mesmo para um cavalo como «Dinamite». Talvez por cima das mulas... Falou suavemente ao seu alazão.
— Tens que saltar, «Dinamite». É preciso passar, seja como for!
Sentiu que se retesavam os poderosos músculos do animal e viu-o reduzir, de súbito, a corrida. «Dinamite» baixou os quatro traseiros... Julgou que voava. Foi um salto impressionante e magnífico. Ultrapassou a barreira formada pelos animais atrelados, e continuou num galope frenético. Não parecia ter despendido qualquer esforço. Lá atrás ficavam duas mulheres corajosas.
Lorna apareceu e dirigiu-se a eles:
— Desculpe-me, Roy, mas quero falar à Betty.
As duas, mulheres afastaram-se, confundindo-se com as demais. Roy estremeceu. Não escutou a frase de Lorna. A sua atenção concentrava-se em Elmer Morrison. Este encontrava-se na companhia de Doone. O guarda-costas, ao cabo de uns minutos, afastou-se do chefe e saiu da sala. Adams seguiu-o com um andar felino. Alcançou-o, quando o homem se preparava para contornar o edifício.
— Doone! — e a sua voz soou como um tiro no silêncio da rua.
O bandido voltou-se rapidamente e os dois homens ficaram a olhar um para o outro...
De repente, Doone lançou-se contra Roy. Este recebeu-o com um tremendo soco no meio do peito, logo seguido de outro na ponta do queixo. Doone ergueu os pés do solo e caiu de barriga para o ar. Sem perda de um segundo, rolou sobre si mesmo e ao levantar-se a sua mão desceu para o cano da bota. A voz seca de Adams deteve--lhe o gesto:
— Quieto, miserável! Quieto ou crivo-te de balázios! Empunhava o revólver que sacara do coldre oculto debaixo do braço.
— Está armado! — exclamou Doone estupefacto.
— Tal como tu, meu sapo! — gritou Adams. — Deita fora a faca, vá! E depressa!
Com um extremo cuidado, Doone obedeceu. Depois, principiou a falar:
— Agora...
— Não me servirei da arma, cão! — disse o forasteiro.
Atirou para longe o revólver e avançou. Doone esperava-o. Roy fez-se descuidado e o punho do inimigo partiu, veloz, em direção ao seu queixo. Roy desviou o golpe com o antebraço direito e empregou o punho esquerdo. Doone recebeu o violento murro em plena boca. Baixou os braços, cuspindo sangue e alguns dentes e ficou paralisado durante uns instantes. Depois, cambaleou e caiu no solo como um fardo.
Roy aproximou-se e contemplou-o longamente. Por fim, Doone começou a mover-se. Parecia incapaz de levantar-se.
Mas, de repente, as mãos que apoiava no chão ergueram-se com a velocidade de um relâmpago. Roy Adams apanhou com a terra nos olhos e ficou momentaneamente cego. O bandido soube tirar partido das circunstâncias Com os dois punhos martelou o rosto do seu rival e, em seguida, atirou-o contra a parede do armazém, com um soco poderoso. Roy Adams foi a terra, encostado ao madeiramento. Doone avançou para ele...
O silêncio da rua viu-se quebrado por dois estampidos. Sem um lamento, sem um grito, o facínora estatelou-se no solo.
Roy levantava-se, precisamente, nesse momento. Conforme pôde limpou os olhos. O que viu, então, deixou-o abismado. Doone, a seus pés, morto e bem morto. Tinha três balas nas costas. Junto dele, o revólver do forasteiro. Roy abaixou-se e recolheu-o. O cano ainda estava quente...
Nessa altura a rua encheu-se de ruídos. O baile havia parado, logo ao primeiro tiro, e as pessoas saíam do armazém. Como punhais, vários olhos cravaram-se no jovem. Este ainda não se refizera da surpresa e continuava com a arma na mão. Morrison foi o primeiro a falar:
— Assassinou Doone! Matou-o pelas costas! Vamos, temos que fazer justiça!
— À forca!
Roy olhou para o homem que tinha gritado. Era um dos rancheiros a quem havia sido apresentado durante o baile. Uma pessoa decente, sob todos os aspetos. Sorriu com ironia.
— Eu não o matei. Isto é uma armadilha!
Mas antes de terminar, verificou que não o acreditavam. Empreendeu a retirada, tentando fugir para trás. Na sua desorientação, nem sequer se lembrava da arma que possuía. Quando deu conta desse facto, era demasiado tarde. Várias mãos, mãos como garras de animal selvagem, caíram-lhe em cima. Viu-se derrubado no meio de maldições. Nunca soube quem exibiu a corda. Quando o levantaram, tinha o rosto ferido e as mãos atadas atrás das costas. A voz do xerife fez-se ouvir:
— Um momento! — gritou. — Este homem...
— Cale-se, xerife!
Foi obrigado a obedecer. Um círculo ameaçador fechara-se em torno dele. Os homens pareciam loucos corno lobos sedentos de sangue. E o mesmo vaqueiro continuou a falar:
— Que vai dizer, xerife? Que ele deve ser julgado? Apanhámo-lo com as mãos na massa! Nós somos a Lei! Creio que a sentença é bem clara!
O juiz Burke também passava um mau bocado. As paixões estavam desencadeadas. É bem sabido que no Oeste ninguém podia, naquela época, matar uma pessoa pelas costas, ainda que esta merecesse mil vezes esse castigo. Um rumor de colmeia elevou-se de todos os lados. A rua estava cheia de gente.
— Enforquemo-lo!
— Traz a corda, Holden!
Estes gritos e outros parecidos soavam de toda a parte.
— Não fui eu! Juro! Faça alguma coisa, xerife!
O representante da Lei não respondeu. Via-se nitidamente que tinha medo. A voz de Adams soara de um modo estranho. Dirigia-se ao xerife mas os seus olhos fitavam Betty que ficara parada à porta do armazém, com um ar inexpressivo. Os seus olhares cruzaram-se. A jovem voltou as costas e entrou lentamente no estabelecimento.
Adams gelou. Nunca a supusera capaz de ver nele um assassino. Precisamente a mulher por quem teria dado a vida, se ela lha pedisse. Recordava como Betty havia correspondido ao beijo...
Os seus pensamentos foram bruscamente interrompidos. Principiavam a empurrá-lo. A pancadaria chovia-lhe nas costas. Meio inconsciente, pareceu aceitar com indiferença a sorte que o esperava. Se Betty... A única coisa que Morrison não conseguiria era vê-lo tremer. Apesar dos socos e dos empurrões, ergueu-se em toda a sua estatura. Havia algo de impressionante naquela atitude. Corno que por bruxedo, deixaram de bater-lhe. Roy deteve-se.
— Oiçam-me! — bradou. — Eu não o matei! Sei que não me acreditam. Sei que me querem enforcar. Avante, pois! Mas não me segurem. Irei sozinho!
Ali, apreciava-se a coragem. Em silêncio, seguiram-no até urna das árvores do largo. De um ramo alto, pendia a corda fatídica. Numa das suas extremidades via-se o nó corrediço. A outra ponta estava atada ao arção da sela de um cavalo.
O que dava pelo nome de Holden, mantinha o laço aberto e sorria. Há muito tempo já que em Ely não se enforcava ninguém e aquilo não deixava de ser um espetáculo.
Muito calmo, Roy Adams deteve-se diante dele. Holden preparou-se para lhe passar a corda em volta do pescoço. O círculo de curiosos fechou-se mais. Roy fitou--os um a um. Por fim, os seus olhos cravaram-se em Morrison, como setas. Ninguém, nem sequer este último, conseguiu aguentar o brilho das suas pupilas. Então, o forasteiro que viera de Current, falou:
— Restam-te setenta e duas horas de vida, Morrison. Não adiantarás nada com a minha morte. Nem com a minha nem com a de «miss» Turner. A tua hora soou! A sua voz era extraordinariamente firme.
Morrison sorriu, mas o seu sorriso não lhe saiu para fora dos dentes. Que queria dizer o homem com aquilo? Furioso, gritou:
— Despacha-te, Holden!
Outros gritos apoiaram-no. Ao que parecia, em Ely tinham pouca memória.
— Pronto!
— Precisas de uma ama-seca?
De novo, os gestos rudes dos homens. Holden ergueu os braços e colocou o laço no pescoço de Roy que não pestanejava, olhando em redor. De súbito, o forasteiro levantou impercetivelmente uma sobrancelha.
«Dinamite» aproximava-se, feroz, mostrando os dentes. Da sua boca, para não variar, pendiam as rédeas quebradas. Adivinhou as intenções do animal. Atacaria as pessoas, dar-se-ia uma debandada geral, mas... ele, Roy Adams, estava amarrado. Não poderia montar. E se o fizesse não lhe serviria de nada. Cravá-lo-iam de balas.
Quando abriu a boca para gritar ao cavalo que se afastasse, o som de um tiro abafou o rumor da multidão. Holden encolheu-se, instintivamente. O seu chapéu fugiu-lhe da cabeça, levado por uma bala certeira. Estabeleceu-se um silêncio pesado e todos se viraram para a retaguarda. Na porta do armazém, encontrava-se novamente Betty. Tinha nas mãos os revólveres do jovem, um dos quais deixava escapar uma ténue espiral de fumo.
Mudos de assombro, os homens, agora, não logravam mover-se.
— Mantenham-se quietos! — gritou Betty com energia. — Liberte-o, Holden! Depressa!
Holden dispôs-se a obedecer. Morrison, então, interveio:
— Cobardes — grunhiu. — É uma mulher! Não disparará! E adiantou-se para o cavalo em cuja sela estava amarrada a corda. A sua intenção era clara. Pretendia espantar o animal.
Mas não chegou onde desejava. Betty premiu o gatilho e soou uma detonação. Elmer Morrison levou as mãos à cabeça, ergueu-se na ponta dos pés e rolou pelo solo como um saco cheio de chumbo.
Sem aguardar novas ordens, Holden obedeceu. A multidão estava como que eletrizada. Ninguém ousava mover-se. Pois se havia sucedido aquilo a Morrison!...
Holden retirou o laço do pescoço de Roy e, com uma faca, cortou a corda que o manietava. Quando se viu livre, Adams caminhou até ao armazém. Cambaleava um pouco. Procurou evitar a linha de tiro de Betty. Esta atirou-lhe um dos revólveres. Apanhou-o no ar e com a arma na mão, a sua expressão mudou como por encanto. O seu ar feroz gelou alguns corações. Voltou-se para a multidão e, de revólver em punho, foi retrocedendo até chegar junto da rapariga.
— Betty... — disse. — Eu...
— Eu sei, Roy. Parta tranquilo — aconselhou. — Saia do vale pelo caminho que o conduziu ao rancho. Quando atingir o cima do monte, volte à direita. A cerca de umas duas milhas há um grupo de árvores. Atrás delas, o mato é espesso. Atravesse-o. Encontrará uma porção de rochas. Perto delas existe uma caverna. Instale-se lá. Irei levar--lhe provisões, logo que possa...
— Dentro de cinco dias, Betty...
— Mas...
— Cinco dias. Antes disso não me encontrará.
Colocou o cinturão, sem deixar de mirar a multidão. A rapariga tão-pouco deixava de visar os grupos, no meio de um silêncio sepulcral. Viram dois homens correr para Morrison. Não tinha morrido, mas um sulco de sangue marcava-lhe a testa e ia até à orelha.
— Necessito de meia hora, Betty — disse, agora em voz alta.
— Uma hora, Roy!
Ergueram os olhos, descurando a vigilância. Lorna Kelly estava encostada ao parapeito da janela e empunhava, com mão firme, uma carabina. Ela não perdeu de vista a multidão, apesar de ter falado.
— Obrigado, Lorna. Não o esquecerei!
Aproximou-se de «Dinamite» e uma vez na sela, cumprimentou as jovens e enfiou o revólver no coldre. Depois, voltou-se, de novo, para os que o observavam e deteve os olhos em Morrison que já tinha uma ligadura a envolver--lhe a cabeça. Amparavam-no os dois homens que o haviam socorrido.
— Morrison — gritou, cheio de fúria — deixo aqui «miss» Turner! Se lhe sucede algo... vou buscar-te nem que seja à tumba! E isso, depois de arrasar e incendiar o povoado!
Outra vez aquela confiança toda! Que andaria a tramar? Nem Betty Turner o sabia, quando o viu esporear o cavalo que se dirigiu, num galope veloz, para a saída da povoação...
Por uns instantes o seu coração deixou de pulsar. A estrada encontrava-se bloqueada. Haviam-na cortado com carroças atravessadas. Ao chegar mais perto, reparou que não tinham desatrelado, dos veículos, os animais. De repente, algo pareceu rebentar diante dele. O clarão do disparo iluminou o vulto de um homem. Um sopro de morte roçou-lhe por uma orelha. Agachou-se e sacou a arma com uma rapidez fulminante. Divisou o mascarado e fez fogo contra ele. A figura negra cambaleou. Roy Adams não se preocupou mais com o atirador. Estava a chegar à linha das galeras. Dirigiu a montada em direção aos animais. A altura das cobertas era excessiva, mesmo para um cavalo como «Dinamite». Talvez por cima das mulas... Falou suavemente ao seu alazão.
— Tens que saltar, «Dinamite». É preciso passar, seja como for!
Sentiu que se retesavam os poderosos músculos do animal e viu-o reduzir, de súbito, a corrida. «Dinamite» baixou os quatro traseiros... Julgou que voava. Foi um salto impressionante e magnífico. Ultrapassou a barreira formada pelos animais atrelados, e continuou num galope frenético. Não parecia ter despendido qualquer esforço. Lá atrás ficavam duas mulheres corajosas.
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