PAS774. Procura-se um xerife

— Gallapo além de camarada de profissão era também um grande amigo meu. Se fosse possível perdoar os delitos de um homem atentando nos motivos que o forçaram a ser um criminoso, ele seria perdoado. O seu destino entrou na sua fase mais negra quando os seus inimigos não podendo vingar-se na sua pessoa — era terrível com os «Colts»! — assassinaram-lhe a mulher depois de terem praticado na sua pessoa a mais humilhante selvajaria. Quando Gallapo soube disto quase que enlouqueceu. Imediatamente pediu a sua demissão, embora todos nos esforçássemos para que tal não acontecesse. Transformou-se num bêbado incorrigível. O álcool acabou por lhe arruinar completamente a razão e começou a dar que falar quando formou o seu bando, assaltando diligências e caminhantes. Procurei esquivar-me ao cumprimento da minha missão, mas as ordens eram terminantes «detenha-o vivo ou morto». A Lei tem de ser justa e imparcial. Era muito difícil, se não impossível, liquidar Gallapo. Eu convenci-me que talvez conseguisse convencê-lo a entregar-se em nome da nossa camaradagem e amizade. Segui-o de Kentucky a Illinois, onde o encontrei. Quando lhe disse que se rendesse, ele gritou-me de dentro da sua cabana que o fosse matar, que estava só e que o que eu podia fazer em nome da nossa amizade era matá-lo! Respondi-lhe que não fosse burro que havia uma possibilidade de se salvar. Como resposta ele apareceu à porta da barraca, trazia os braços caídos ao longo do corpo... Não estava bêbado, olhou-me de frente e disse-me:
«— Vou-te matar, Andrew!»
«Eu conhecia a sua velocidade em «sacar». Refleti numa fração de segundo o que devia fazer. Compreendi que tinha de lutar porque a minha morte de nada adiantaria, já que ele continuaria a trilhar o mesmo caminho.
— «Somos amigos, Gallapo! Não faças tolices!» — gritei-lhe.
— «Nada, Andrew. Ou tu, ou eu!» — foi a sua resposta.
«As suas mãos desceram para os coldres... Nunca pensei ser tão rápido! Fui o primeiro a disparar e ele caiu. Corri e vi que o ferimento era mortal, estava a agonizar. Com a precipitação não tive tempo de calcular a pontaria. Segurei-lhe a cabeça e as suas últimas palavras foram: «Obrigado, Andrew. És um bom amigo!» Estava morto. Só então reparei que tinha feito um crime: Gallapo estava desarmado! As suas armas estavam dentro da cabana, sobre uma mesa, e debaixo tinha deixado um bilhete com as mesmas palavras: «Obrigado, Andrew. És um bom amigo!» Propositadamente ele tapara-me os coldres com as mãos e fizera o gesto de «sacar» para que eu o alvejasse... Ninguém poderá calcular o efeito que este ato teve na minha consciência. Gallapo queria morrer, mas eu queria que ele vivesse!
«Pedi para que me julgassem em tribunal e me executassem como castigo. Nada disto aconteceu. O juiz entendeu que eu não era um criminoso, embora o gritasse que sim. Em vez de uma execução deram-me um diploma no qual enalteciam o meu feito. Pedi a minha demissão...».
Andrew tinha as feições contraídas e os nervos crispados, de tal forma que todos recearam o pior.
27
— Então, «mister» Jackson, isso já passou — disse o banqueiro.
— Tem razão, «mister» Gradford. No entanto, esta parte do meu passado atormentar-me-á até ao fim da minha existência...
— Porque não procura esquecer...
Que julga o senhor que eu tenho feito? Compreendemos, «mister» Jackson.
— Por tudo isto os senhores já veem que não resolvem coisa alguma se me nomearem xerife deste povoado. Pelo contrário, chegará o dia em que alguns bandidos conheçam o meu poiso e recordem promessas antigas. Então só a minha morte os afastará destas paragens.
— Já lá vão dez anos, «mister» Jackson.
— Não creio que esse espaço de tempo seja suficiente para que eles esqueçam a morte de um irmão, de um amigo, ou de um chefe. Eles virão, «mister» Gradford.
— Receia-os?
— Sim, a paz e os valores da terra estão em jogo. „ Se fosse incumbido de eleger o novo xerife quem: seria o seu eleito, «mister» Jackson?
— Não sei. Os senhores estão mais habilitados do que eu, nasceram aqui, conhecem todos os habitantes. Ouvi «mister» Gradford dizer que havia outro candidato. Talvez esse seja o mais indicado.
— John Whistler? O povo não gosta dele, é um avarento da pior espécie e, com franqueza, receamos atribuir-lhe a nomeação. Aparte esse não vemos mais ninguém indicado para o lugar. Constituímos uma população de trabalhadores, criadores de gado, agricultores, todos têm os seus afazeres que lhes roubam todo o tempo e não vamos entregar o cargo aos nossos filhos. Nenhum completou ainda vinte anos, seria nomear uma criança para um lugar de muita responsabilidade, não lhe parece, «mister» Jackson? Não temos outra solução que não seja nomear o senhor xerife de Newton City.
— Posto o problema nesse pé, não vejo também soluções, cavalheiros. Não quero que julguem que fujo ao perigo. Se desejarem nomear-me já sabem o risco que correm.
— Compreendemos, «mister» Jackson, mas confiamos em si. Se quiser fazer o favor de nos acompanhar ao escritório da autoridade, teremos o maior prazer em lhe entregar o emblema que o identificará.
— Estou ao vosso inteiro dispor.
Os cinco homens tinham-se levantado e caminharam para a saída. Quando abriram a porta verificaram que havia uma multidão reunida em frente da casa de Andrew. O sussurro das vozes extinguiu-se com a saída dos «poderosos» da cidade.
O banqueiro levantou os braços para indicar que ia falar.
— Cidadãos de Newton City, correspondendo aos nossos desejos «mister» Andrew Jackson acaba de aceitar o lugar de xerife da nossa cidade!

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