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Mostrando postagens com o rótulo BIS127

PAS722. No dia do cortejo fúnebre

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O relógio da morte continuava a martelar o seu tiquetaque sinistro. Quatro homens levavam o caixão que continha o corpo do velho caçador Parkings Hawks. O xerife acompanhava-o. Caminhava como um sonâmbulo, olhando as ponteiras das botas, de cabeça baixa, lutando para conter as lágrimas, enfurecido contra o destino. Outras pessoas seguiam o cortejo fúnebre. Hawks tinha muitos amigos e, no caminho para o cemitério, o silêncio que todos mantinham era a mais sentida e expressiva homenagem que podiam dedicar àquele que desaparecera, o velhote corajoso e alegre. O campo santo estava cheio de sepulturas encimadas por cruzes, e alguns epitáfios recordavam o que tinham sido alguns daqueles mortos. Uma cerimónia simples e cristã foi o último ato consagrado a Hawks. Depois o coveiro, um tal Danvers, começou a desempenhar a sua macabra tarefa, com a indiferença que é consequente do hábito. Terminada a cerimónia, todos os acompanhantes partiram; mas Joe ficou no cemitério. E, no silêncio apenas per

PAS721. O jogral de Nevada

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Quando, naquela noite, Joe English entrou no «Globe Saloon», todos os olhares convergiram sobre ele. Joe dirigiu-se ao balcão, no seu andar despreocupado, e, sem abandonar o seu habitual sorriso, pediu um «whisky». Enquanto o bebia, ouviu uma voz a seu lado: —Muito cuidado hoje, amigo xerife. Voltou a cabeça para o lado de onde vinha a voz, e a primeira coisa que viu foi o olhar penetrante de Parkings Hawks. — Olá!... — disse Joe. — O que significa a sua amigável advertência? — Significa que Gregory Sand e os seus homens estão aqui, e não tiram os olhos de cima de ti. —Não vejo porquê, amigo Hawks... Não venho prendê-lo... ainda. —É a melhor ideia que podias ter tido. Naquele momento entrou no «saloon» o homenzinho do banjo, o mesmo que se tinha permitido acusar Sand, na presença do xerife. Levava o instrumento debaixo do braço e, logo que se encontrou no centro da casa, começou a tanger as cordas e a cantar: Nevada país selvagem. Nevada terra sonhada. Os vaqueiros, sobre os velozes ca

PAS720. Um sorriso para o xerife

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Enquanto se encaminhava para o sítio onde tinha deixado «Snow Flake», Joe pensava na curta converso que tivera com os três poderosos ganadeiros. Não lhe agradara. Aqueles homens pareciam querer, com boas palavras desligarem-se do assunto. Já vinha agarrado as rédeas do cavalo e dispunha-se a partir, quando alguma coisa o obrigou a deter-se. Acabava de ver aparecer uma rapariga de singular beleza. Teria talvez vinte anos. Tinha o cabelo loiro penteado em duas tranças, que pareciam feitas de raios de sol; os olhos em amêndoa, quase da cor dos cabelos, tinham o brilho lânguido e inocente dos olhoS das gazelas; narizito pequeno e levemente arrebitado dava-lhe uma graça especial à cara muito bonita, cujos lábios, vermelhos como morangos, se entreabriam num sorriso. Joe ficou imóvel, absorto pela maravilhosa visão. Não sabia quem era ela; não tinha qualquer motivo para a deter; mas olhava-a, pasmado, possuído por uma estranha fascinação. Era a primeira vez que uma mulher lhe causava uma impr

PAS719. Lobos de dentes afiados

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Os lobos não se tinham disfarçado de cordeiros, mas descansavam nos seus covis. O lobo que tinha os dentes mais afiados era Gregory Sand, um tipo tão novo como patife. É difícil encontrar um homem que seja totalmente bom, ou totalmente mau. Os piores sentem por vezes cravar-se o espinho do remorso nas suas consciências pervertidas; os melhores, num momento de obcecação, quando o sangue enlouquece o cérebro, como uma torrente de lava, são capazes de destruir o que mais amam. Mas Gregory Sand era apenas mau, autenticamente mau, sem honra e sem sentimentos, como se todos os diabos do inferno se tivessem alojado no seu corpo robusto. Os seus olhos eram espelhos fiéis, onde se refletiam os seus instintos criminosos. Não podia dissimular as suas intenções perversas, que praticamente se resumiam numa só: matar. Matar pelo prazer sádico de matar. E disso se encarregava o seu «Colt» certeiro, implacável, e o bando de pistoleiros a soldo, que o serviam. A Gregory Sand podia atribuir-se, sem rece

PAS718. Um aviso ao xerife

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Quando Joe English chegou a Lighty, Nevada, exibindo no peito uma estrela de xerife, ninguém o tomou a sério. Joe era um rapaz muito novo, parecia muito tímido e a cidade, pequena mas sempre cheirando a pólvora, já vira cavar uma porção de sepulturas para receber os corpos inanimados de vários servidores da lei que tinham sido fortes, audazes e experientes. Que diabo ia ali fazer aquele rapazito imberbe? Essa primeira pergunta refletia-se em todos os espíritos. Joe tinha apenas vinte e três anos, cabelos loiros e olhos cinzentos com uma expressão tão ingénua que davam a ideia de que ele havia saído pouco tempo antes do colégio. Não teria ainda sido suficiente o número de vítimas? Seria possível que os seus superiores tivessem apenas serradura na cabeça? Joe pareceu não reparar na impressão que causava. Ocupou as instalações destinadas aos xerifes, visitou as pessoas que, pelo seu prestígio, significavam alguma coisa na cidade — e que o receberam com um ar protetor e vagamente compadeci

PAS717. Massacre ao fim da tarde em dia de festa

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Todos os anos se realizava em Carson City uma festa que não podia comparar-se a qualquer outra; era diferente, e extraordinária. Uma infinidade de forasteiros vinha de todas as cidades em redor. Durava/ três dias, a festa. Três dias de uma espécie de loucura coletiva e ao mesmo tempo ingénua, três dias de divertimentos. Eram os rapazes que a gozavam mais intensamente. Eram eles os que esperavam a festa com maior impaciência. E, quando ela terminava, apoderava-se deles a nostalgia, durante algum tempo — e depois recomeçavam a sonhar com o ano próximo, para reviverem uma vez mais as proezas dos cavaleiros e a destreza ímpar dos que faziam alarde de espantosa pontaria, acertando em moedas atiradas ao ar. Carson City vivia novamente a realidade dos seus dias grandes, e uma multidão pletórica de alegria buliçosa enchia as suas ruas. As mulheres exibiam as suas melhores galas; os vaqueiros, orgulhosos de si mesmos, andavam atrás delas; os «saloons» estavam cheios. E os garotos, comendo gulos

BIS127. Chumbo quente

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(Coleção Bisonte, nº 127)    A narrativa deste livro inicia-se em Carson City e prossegue alguns anos depois em Lighty sem se perceber muito bem a conexão entre prólogo e texto principal. Fica a sensação que o menino que escapou ao massacre é o xerife de Lighty, mas, em parte alguma, o autor o refere. Aliás toda a sensação da obra é que as coisas acontecem sem se saber porquê. Os bandidos são bandidos porque são bandidos. O xerife, é… Há, apesar de tudo, algumas passagens interessantes pela capacidade de narrativa de Fletcher. Vamos deixar essas passagens sem, avisamos desde já o leitor, sentirmos um fio condutor no que se apresenta. O livro tem mais uma excelente capa de Longeron, não se sabe se inspirado nesta novela se noutra de Fletcher…